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Capital

Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar

No posto da BR-163, vários caminhoneiros aguardam liberação da estrada e até celebraram na noite de Natal

Silvia Frias e Mirian Machado | 25/12/2021 10:37
Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar
Jair e Patrícia passaram o Natal na estrada: "Porque os boletos não esperam". (Foto: Henrique Kawaminami)

A tradicional ceia de Natal foi adaptada pelo casal Jair e Patrícia Soares. Sentados à sombra de árvore, ao lado dos respectivos caminhões, os dois dividiam cerveja e chocolate à beira da BR-163, o cenário escolhido por quem fez das estradas o caminho da vida.

Jair Soares, 49 anos, é caminhoneiro há 25 anos e, há dois anos, ganhou a companhia da esposa, Patrícia Soares, 45 anos, na estrada. Cada um viaja em seu próprio caminhão, mas o casal tenta dividir carga e trajeto para se manter junto.

Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar
Dia também serviu de descanso para caminhoneiro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Eles estão há 10 dias fora de casa. Foram para Corumbá e estão a caminho de Rondonópolis (MT) para descarregar cimento. De lá, seguem para o Rio Grande do Sul. Optaram em pegar trabalho no feriado, “porque a prestação do banco não espera”.

A estrada era sonho antigo de Patrícia, que se concretizou depois que os “filhos cresceram e já sabiam pedir comida”. Hoje, não vive sem viajar. Em 2020, o casal ainda passou Natal em casa, mas este ano, o jeito foi improvisar.

Assim como eles, outros caminhoneiros passaram a noite de Natal nos pátios dos postos de combustíveis. No Caravaggio, próximo da BR-163, a reportagem entrou cerca de 20 caminhões estacionados, muitos, com as cortininhas fechadas, indicado que o dono estava ausente ou descansando até pegar estrada.

Do lado de fora de uma carreta britrem, a equipe encontrou Edver Alberton, 40 anos, há 20 anos na profissão. Solteiro, viaja sozinho, mas a família é grande em Santa Catarina, onde vive. “Tenho cinco filhos: 21 anos, 15, 12, 10 e 10”, conta nos dedos, explicando que são dois de 10 mesmo. “Tá faltando alguém, esqueci de alguém?”. Não, não esqueceu.

Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar
Edver até planejou passar em casa o Natal, mas, não deu certo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Está longe de casa há 28 dias. Não foi por escolha que o Natal deste ano foi na estrada. “Eu queria estar lá em casa, até me programei, só que não deu certo”, disse.

Alberton contou que não iria pegar nenhuma viagem em dezembro, mas recebeu ligação do patrão, dizendo que precisava dele pra levar carga de arroz para o Ceará. “Eu fui achando que ia dar tempo de voltar”, disse.

Do Nordeste, levou cinco dias para chegar a Cuiabá (MT) para descarregar outra carga, mas foi aí que atrasou, já que os proprietário da encomenda já estavam de recesso. Pegou outra carga de milho para não voltar para casa com carreta vazia. “Vou descarregar em Videira, se tudo der certo, chego na terça em casa”.

Por enquanto, está parado, aguardando horário liberado para tráfego de caminhões pesados e carretas, conforme estipula legislação federal. Hoje, dia de Natal, só vai poder pegar estrada a partir das 12h.

O carreteiro passou a noite de Natal no seu “escritório”. Ele diz que os caminhoneiros tem grupo de WhatsApp e, quando dá, se juntam para celebrações. Mas chegou quase meia-noite e não conhecia ninguém. “Seria igual chamar desconhecido na rua, fiquei na minha”.

Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar
Cortina fechada indica que hora é do descanso. (Foto: Henrique Kawaminami)
Para quem optou pela estrada como profissão, Natal é onde o caminhão pode parar
Cortina fechada indica que hora é do descanso. (Foto: Henrique Kawaminami)


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