ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
OUTUBRO, SEXTA  24    CAMPO GRANDE 28º

Capital

Paralisações ocorrem "sem consultar categoria", dizem ex-motoristas de ônibus

Ex-funcionários dizem que a estratégia é usada desde 2022 e serve para pressionar a Prefeitura

Por Mylena Fraiha | 24/10/2025 16:14
Paralisações ocorrem "sem consultar categoria", dizem ex-motoristas de ônibus
Ônibus parados na garagem da Viação São Francisco, em 21 de junho de 2022 (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo).

Ex-motoristas do transporte coletivo de Campo Grande afirmam que o SITTCU (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo e Urbano) realiza paralisações e greves sem consultar a categoria. Eles dizem que as mobilizações ocorrem para pressionar a Prefeitura durante negociações com o Consórcio Guaicurus e que a prática seria recorrente desde 2022.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Ex-motoristas do transporte coletivo de Campo Grande denunciam que o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo e Urbano realiza paralisações sem consultar a categoria. A prática, segundo eles, ocorre desde 2022 e coincide com momentos de negociação entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura. A última paralisação aconteceu na quarta-feira (22), quando os ônibus circularam apenas a partir das 6h, em protesto pelo atraso no pagamento do vale salarial. O presidente do sindicato, Demétrio Freitas, confirmou que não houve aviso prévio. Vereadores pretendem acionar o Ministério Público para investigar o caso.

O tema voltou à tona após a paralisação de duas horas ocorrida na última quarta-feira (22), quando os ônibus começaram a circular apenas às 6h, uma hora e meia depois do habitual, em protesto pelo pagamento do adiantamento salarial, conhecido como “vale”, que corresponde a 40% dos salários.

Na manhã de hoje (24), o presidente do SITTCU, Demétrio Freitas, confirmou que o ato não teve aviso prévio e classificou a ação como uma forma de “protesto” contra o consórcio. “Corresponde a 40% do valor do salário. Isso é obrigatório, tem que ser pago. A nossa convenção coletiva obriga o pagamento desse vale todo dia 20”, afirmou.

Demétrio reconheceu que o anúncio da paralisação foi feito apenas quando os motoristas chegaram às garagens. “Se eu aviso todos os motoristas que a gente vai fazer um protesto, o motorista nem vai lá. Como nós íamos segurar os ônibus o dia inteiro, liberamos que fossem normalmente, e lá explicamos a situação”, disse.

Entretanto, o sindicalista negou qualquer envolvimento com o Consórcio Guaicurus e afirmou que as decisões partem da categoria. “[O consórcio] não está usando o sindicato. Nós estamos fazendo isso porque é o nosso dever como representantes dos trabalhadores. Se a prefeitura está com problema com o consórcio, isso não diz respeito a nós”, defendeu.

A denúncia sobre greves sem consulta foi inicialmente feita pelo vereador Maicon Nogueira (PP), ex-membro da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte Coletivo. Ele afirmou que motoristas da ativa o procuraram relatando que não foram avisados da paralisação e que situações semelhantes se repetem.

“Esse tipo de paralisação tem se tornado prática comum e sempre ocorre em momentos de negociação entre o Consórcio e a Prefeitura. Sempre coincide. A greve vem justamente quando o Consórcio pede repactuação, e isso acaba ajudando o consórcio”, declarou o vereador.

Maicon criticou o uso da paralisação como estratégia de pressão, e reiterou que o transporte público é um serviço essencial. “A ferramenta de greve é legítima, mas não pode ser usada sem assembleia. Suspender o serviço sem ouvir os motoristas é ilegal”, disse.

O vereador afirmou que vai encaminhar os relatos ao MPT  (Ministério Público do Trabalho) até segunda-feira (27). “Foi praticamente 48 horas após um atraso. Parar no horário de pico é uma medida extrema. Isso configura crime, foi orquestrado de forma indevida”, avaliou.

Relatos - Três ex-motoristas, ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, afirmaram que as paralisações sem consulta não são novidade. Segundo eles, a prática começou em 2022 e se repete sempre que há embates entre o consórcio e o poder público.

“O sindicato que era pra ser nosso, infelizmente não é”, disse um ex-motorista que trabalhou por quase dez anos no transporte coletivo. Ele relatou que chegou a tentar formar uma chapa para disputar a presidência do sindicato, mas foi impedido. “Quando você fala em montar chapa, te tiram da linha e mandam embora”, afirmou.

Outro ex-funcionário, de 33 anos, reforçou que nunca viu uma greve ser discutida entre os trabalhadores. “Eles pagavam o salário no sétimo dia útil, às vezes atrasava dois dias, mas ninguém fazia greve por isso. Só concorre quem eles querem, ganha quem eles querem, porque é da empresa. A gente não tem resguardo nenhum.”

Um terceiro ex-motorista contou ter vivido situação semelhante em 2022. Ele recorda que só soube da paralisação quando o ônibus que o buscava não apareceu no horário de costume.

“Deu 3h15 e nada, 3h30 e nada. Liguei pra garagem e o fiscal riu: ‘Ué, você não tá sabendo? Hoje tá paralisado, pode voltar pra casa tranquilo’. Só à tarde mandaram mensagem dizendo pra ir pra garagem e rodar duas voltas pra não dar falta”, relatou o ex-motorista.

O Consórcio Guaicurus já havia sido procurado pela reportagem em outra ocasião para comentar o assunto e respondeu que “não se posiciona sobre especulações”.

Denúncias - Conforme noticiado anteriormente, os vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande afirmaram que vão acionar o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para investigar a paralisação do transporte público.

O também vereador Wilson Lands (Avante) declarou que pretende protocolar o documento e encaminhar cópias ao MPMS, solicitando investigação sobre a conduta da empresa durante a suspensão do serviço. O presidente da Câmara, Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), disse que a Casa vai apoiar a iniciativa.

“É importante que haja uma denúncia formal, vereador Wilson Lands, para que a gente possa averiguar isso a fundo. Assim, não fica mais uma matéria de ‘disse me disse’. Pagou ou não pagou, fez ou não fez, deve ou não deve. E a população de Campo Grande continua sem ônibus”, declarou Papy.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.