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Capital

PM vai a julgamento, quatro anos depois de matar adolescente com tiro na nuca

Familia de Junior Souza, de 17 anos, quer pena máxima por morte em evento em casa de show

Adriano Fernandes | 08/09/2021 19:54
Luiz Junior Souza foi morto quando tinha 17 anos. (Foto: Arquivo) 
Luiz Junior Souza foi morto quando tinha 17 anos. (Foto: Arquivo)

Quatro anos depois de matar um adolescente, de 17 anos, em uma casa de shows da Capital, o policial militar Gésus Fernandes de Oliveira, de 36 anos, será levado a julgamento na próxima terça-feira (14), em Campo Grande. Naquele 10 de junho de 2017, por volta de 02h30, o policial fugiu depois de acertar um tiro fatal na nuca de Luiz Junior Souza, na Chácara da República, localizada na Rua da Divisão, Jardim Monte Alegre, em Campo Grande.

Ao se entregar à polícia, dois dias após o crime, o policial alegou legítima defesa, e disse que a vítima estava armada. A arma, no entanto, nunca foi encontrada. A família do adolescente nega essa versão, e agora, espera pôr fim a angústia, depois de quatro anos à espera por justiça.

Espaço de eventos onde ocorreu o crime. (Foto: Arquivo) 
Espaço de eventos onde ocorreu o crime. (Foto: Arquivo)

“A minha mãe entrou em depressão e até tentou suicídio por conta do que aconteceu. Meu pai foi diagnosticado com síndrome do pânico e está tentando a aposentadoria, porque não consegue mais trabalhar. Já eu e minhas irmãs tivemos que aguentar as pontas, mas à base de psicólogo, terapia”, desabafa a professora Jéssica Samantha Bastos, de 30 anos, ao falar da sucessão de problemas que se abateram sobre a família, após a tragédia.

Jéssica lembra dos detalhes da madrugada em que o adolescente foi morto. “Eram 2h, quando ouvimos os disparos, nossa casa ficava perto da casa de shows. Em seguida, os amigos dele bateram no portão avisando que ele havia morrido, saímos desesperados. Quando chegamos no local, meu irmão estava lá, caído de bruços. Todo mundo já tinha fugido”, conta.

Conforme a denúncia do MP-MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o policial atirou na vítima durante uma confusão na casa de shows. Em depoimento, Gésus alegou que o adolescente teria atirado duas vezes em sua direção antes dele revidar. “Ele fala que o meu irmão apontou uma arma para ele, mas como que isso aconteceu, se meu irmão levou um tiro pelas costas? Ele não estava armado”, afirma a professora.

O MP denunciou o policial por homicídio doloso, qualificado por recurso que dificultou a defesa da vítima. A Justiça afastou a qualificadora, mas o Ministério Público recorreu da decisão. Por fim, ficou decidido que caberia ao conselho de sentença avaliar se o militar agiu sem que a vítima pudesse se defender. Jéssica conta que o julgamento do policial foi marcado, inicialmente, para o dia 30 de março do ano passado, mas precisou ser adiado por conta da pandemia. O policial será levado à julgamento no Tribunal do Júri da Capital, na próxima terça-feira (14).

“Queremos mostrar para sociedade que meu irmão era inocente, que ele não estava fazendo nada de errado. Não é porque o réu é um policial, que ele pode ficar impune pelo que cometeu”, conclui Jéssica.

Amilton Ferreira de Almeida, advogado do policial militar. (Foto: Divulgação)
Amilton Ferreira de Almeida, advogado do policial militar. (Foto: Divulgação)

Legítima defesa – A defesa do policial militar aponta “divergências” no laudo pericial do crime, e reafirma que o Gésus agiu em legítima defesa.

“Vou tentar provar que o tiro não foi pelas costas e com isso afastar a qualificadora de recurso que dificultou a defesa da vítima, para então, pedir a absolvição do meu cliente”, comenta Amilton Ferreira de Almeida, advogado do policial militar.

Para além da legítima defesa, Ferreira de Almeida vai sustentar a tese de que o policial agiu em comprimento do seu dever legal ao tentar conter a confusão, que resultou na morte do adolescente.

Depoimento - Em depoimento à polícia, em 2017, o policial  disse que estava acompanhando o evento, quando ouviu o barulho de dois tiros do lado de fora da casa de shows. Ao sair para ver o que era, se deparou com dois homens armados, um deles era o adolescente. Ele teria se apresentado como policial e pediu para o suspeito deitar no chão.

Luiz, que segundo o militar também estava armado, então teria atirado duas vezes em sua direção. O policial disse que se esquivou atrás de veículos e, em seguida, revidou o disparo, que atingiu o pescoço do garoto. À época, Gésus afirmou que só não ficou no local da morte, porque ouviu que o garoto era 'amigo de bandidos perigosos'.

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