PMs acusados de liberar traficantes do PCC são expulsos 5 anos após operação
Sargento e cabo foram condenados por peculato e falsidade ideológica e recorreram à Justiça contra a decisão

Cinco anos após terem sido presos na Operação Piromania, dois policiais militares de Mato Grosso do Sul foram expulsos da corporação por envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital). A exclusão do 2º sargento Wilgruber Valle Petzold, de 49 anos, e do cabo Rafael Leguiça Flores, de 31 anos, foi publicada no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (7).
RESUMO
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Dois policiais militares de Mato Grosso do Sul foram expulsos da corporação após envolvimento com o PCC. O 2º sargento Wilgruber Valle Petzold e o cabo Rafael Leguiça Flores foram considerados moralmente incapazes de permanecer na PM, conforme publicação no Diário Oficial do Estado. Os militares foram presos na Operação Piromania em 2020, acusados de aceitar propina para liberar traficantes com meia tonelada de maconha. Anteriormente, em 2019, já haviam sido denunciados por exigir dinheiro de contrabandistas e forjar boletins de ocorrência. Ambos recorreram à Justiça contra a expulsão.
As portarias, assinadas pelo comandante-geral Renato dos Anjos Garnes, classificam os dois como moralmente incapazes de permanecer nas fileiras da Polícia Militar e colocam fim a um processo administrativo que se arrastava desde 2020, instaurado logo após as prisões na operação.
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A trajetória dos dois começou ainda em 2019, quando o Ministério Público Estadual denunciou ambos e outros três colegas à Justiça Militar. O grupo foi acusado de exigir propina de contrabandistas, forjar boletins de ocorrência e se apropriar de mercadorias apreendidas durante o serviço em Sidrolândia.
De acordo com a denúncia, eles chegaram a pedir R$ 200 mil para liberar carretas carregadas com cigarros paraguaios e, em outra situação, ficaram com caixas de essência de narguilé, registrando depois uma perseguição falsa para justificar a abordagem. Também foram acusados de peculato por reter brinquedos e eletrônicos apreendidos.
O caso resultou em condenações criminais por peculato e falsidade ideológica, e os dois chegaram a cumprir pena no Presídio Militar Estadual, em Campo Grande. Parte das acusações foi desclassificada ou considerada improcedente, mas não houve absolvição total.
Operação Piromania — Em maio de 2020, os nomes de Wilgruber e Rafael voltaram a aparecer nas investigações da Operação Piromania, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). Eles foram acusados de aceitar propina para liberar traficantes ligados ao PCC que transportavam meia tonelada de maconha pela MS-164, em Sidrolândia.
Conforme o Gaeco, os policiais liberaram Jackson Yuri Ferreira Correia, conhecido como “Douradinho”, e Wesley Leite de Amorim, que atuavam como batedores de um Fiat Strada carregado com drogas. Interceptações telefônicas mostraram que o grupo acertou valores de propina e, dias depois, os policiais procuraram os traficantes para receber o pagamento.
A operação revelou ainda que integrantes da facção ostentavam fotos em que queimavam dinheiro para demonstrar poder. À época, cinco PMs (policiais militares) foram presos e transferidos para o presídio militar.
Transferência e novas condenações - Em junho de 2020, após a operação, a Polícia Militar (PM) determinou a transferência dos três principais alvos – Wilgruber, Rafael e um terceiro soldado – do 18º Batalhão de Sidrolândia para o Batalhão de Guarda e Escolta, em Campo Grande, por “inconveniência de permanência” na unidade.
Meses depois, Rafael Leguiça voltou a ser condenado, desta vez por peculato e falsidade ideológica em outro caso, envolvendo eletrônicos contrabandeados do Paraguai apreendidos em 2019. Ele também foi citado na Operação Trunk, da Polícia Federal, que investigou facilitação de contrabando de cigarros, mas acabou absolvido neste processo.
Mesmo preso preventivamente, o cabo recebeu progressão funcional automática por tempo de serviço em 2020, o que gerou questionamentos internos. A PM explicou, na época, que o ato não se tratava de promoção, mas de cumprimento legal.
Enquanto cumpria pena no Presídio Militar, ele ainda se envolveu em uma briga com outro preso durante uma partida de futebol, episódio que terminou em atendimento médico.
Exclusão definitiva - A decisão que resultou na expulsão foi tomada internamente pela Polícia Militar em 30 de setembro de 2025 e comunicada aos dois no início de outubro, mas só foi oficializada no Diário Oficial do Estado hoje.
O Conselho de Disciplina concluiu que os militares violaram os princípios de ética, hierarquia e disciplina, determinando a exclusão 'a bem da disciplina'. A demora de mais de cinco anos entre o início do processo e a decisão final motivou críticas da defesa, que alega violação ao princípio da duração razoável do processo.
Recurso na Justiça — Antes mesmo da publicação das portarias, Wilgruber e Rafael recorreram à Justiça, pedindo a anulação da exclusão. Na ação, alegam excesso de prazo, tratamento desigual em relação a outros colegas e falta de proporcionalidade na punição.
Os advogados sustentam ainda que parte das acusações penais foi considerada improcedente e que, portanto, não haveria base para a sanção administrativa. Apesar disso, os dois possuem condenações criminais por peculato e falsidade ideológica, usadas como fundamento pela corporação para o desligamento. O mandado de segurança ainda aguarda decisão judicial.
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