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Capital

Por falta de convênio, entidade deixa de atender crianças com deficiência

Pais alegam que sem instituição será difícil manter tratamento dos filhos.

Luciana Brazil | 25/02/2013 13:31
Em busca de uma solução, pais se reuniram na Sesau na manhã desta segunda-feira. (Fotos:Pedro Peralta)
Em busca de uma solução, pais se reuniram na Sesau na manhã desta segunda-feira. (Fotos:Pedro Peralta)
Ivan afirma que não pode arcar com as despesas que o filho de 4 anos precisaria ter, caso não fosse mais para a Cotolengo.
Ivan afirma que não pode arcar com as despesas que o filho de 4 anos precisaria ter, caso não fosse mais para a Cotolengo.

Sem renovação do convênio com a prefeitura, a entidade Cotolengo deixou de atender hoje 30 crianças e adolescentes portadores de paralisia cerebral grave que recebem atendimento especial. O repasse mensal feito há três anos pela Sesau (Secrataria Municipal de Saúde), no valor de R$ 4 mil, não foi renovado pela nova gestão, forçando a entidade a suspender as atividades por tempo indeterminado.

A instituição filantrópica presta atendimento de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição, odontologia e terapia ocupacional. Segundo os pais, sem a Cotolengo nenhum deles teria condições de manter o tratamento necessário para os filhos.

O convênio com a Sesau mantinha os custos de quatro auxiliares de enfermagem, do combustível para o transporte das crianças e a manutenção do veículo.

Com a corte da verba, a instituição comunicou aos pais na última sexta-feira, que as atividades seriam suspensas, havendo possibilidade até de encerrar o atendimento.

Na manhã de hoje, após uma reunião entre pais e responsáveis pela Cotolengo, as atividades foram interrompidas. Desesperados e desamparados, pais se reuniram na Sesau aguardando uma posição do secretário Municipal de Saúde, Ivandro Fonseca.

“Nós vamos ficar aqui até que alguém nos atenda”, disseram em coro mães, pais e avós. Enquanto aguardavam o secretário, que estava fora da pasta em uma reunião, uma das funcionárias da secretaria afirmou que Ivandro garantiu que a instituição não seria fechada.

Depois da agenda, Ivandro foi até a instituição e se comprometeu a assinar o convênio o quanto antes. Ele afirmou que a amanhã as atividades voltarão ao normal.

De acordo com a assistente social do Cotolengo, Patrícia de Oliveira, a instituição possui outro dois convênios, um com a SED (Secretaria Estadual de Educação) e outro com a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), mas os dois estão garantidos.

Luciane diz que sem os tratamentos da Cotolengo as crianças ficam prejudicadas, mesmo que a suspensão seja durante apenas um dia.
Luciane diz que sem os tratamentos da Cotolengo as crianças ficam prejudicadas, mesmo que a suspensão seja durante apenas um dia.

“Com a Secretaria de Assistência Social e com a SED nós já estamos resolvidos, mas com a Sesau não tínhamos nenhuma posição”, explicou Patrícia. A titular da SAS, Thais Helena, informou que o repasse da secretaria será feito até o fim do mês, conforme Patrícia.

Além de não ter renovado o convênio com a Sesau, a instituição não recebeu nenhum posicionamento sobre o reajuste solicitado. A instituição pediu que o convênio passasse de R$ 4 para R$6 mil.

Hoje, a Cotolengo atende crianças entre dois e 28 anos, com paralisia cerebral grave. Cerca de 15 nomes aguardam na lista de espera da instituição. Patrícia garante que, se tudo for resolvido, na semana que vem mais três crianças serão integradas ao grupo.

A assistente social ainda lembra que a instituição atende famílias de baixa renda, e quem sem o atendimento a primeira mudança nesses lares, seria o abandono do emprego. “Eles teriam que para de trabalhar porque nós atendemos essas crianças no período integral”.

Luta diária: “Acho que as pessoas pensam que se nossos filhos estão predestinados a morrer, e aí tanto faz se eles vão ser tratados bem ou não”, desabafou Késia Paula de Souza, 27 anos, mãe de um menino de 6 anos que recebe atendimento no Cotolengo.

Reunidos em torno de uma luta, os pais confirmam o quanto a instituição é importante para os filhos, e angustiados contam suas histórias. Em cada frase demonstram a preocupação em perder o acompanhamento da instituição.

“Se eles ficarem um dia sem atendimento, tudo fica prejudicado, a fala atrofia e os músculos também”, contou Luciane Silva Mansini Barbosa, 35 anos, mãe de um menino de 17 anos com paralisia cerebral.

Renata conta que o filho de 3 anos não pode ficar sem os cuidados que a instituição oferece.
Renata conta que o filho de 3 anos não pode ficar sem os cuidados que a instituição oferece.

O neto de Maria Aparecida, 54 anos, chegou à instituição pesando 4 kg e hoje o bebê de três anos já ganhou 7 kg, em um ano e meio de acompanhamento. “A gente levava o meu neto de moto para a instituição, tudo para não perder a vaga, porque ele precisa ficar lá”, conta a avó.

Depois de perder um filho com paralisia cerebral grave, que morreu pelas complicações da doença, Fátima Vera de Assis, 43 anos, passou a lutar pela “filha neta” como chama a menina de 9 anos.

“Meu filho ficou muito tempo na fila da Cotolengo e antes mesmo dele morrer, entrei na justiça para colocar o nome da minha neta no lugar do nome dele. Agora que ela está lá, não posso perder a vaga”, desabafou a diarista Fátima.

Ainda tão jovem Renata Nagélica, 18 anos, luta pelo filho de três anos. Com uma síndrome rara, a criança precisa dos cuidados da instituição.

Ivan Martins Vicente, 41 anos, diz que o filho de 4 anos usa cadeira de rodas e fraldas. "Eu não tenho condições nenhuma de manter meu filho se precisar pagar todas as atividades que ele recebe na instituição".

Entidade: A Cotolengo sul-mato-grossense iniciou as atividades em 1996. A entidade foi criada por São João Benedito Cotolengo, um santo da Igreja Católica que viveu na Itália. Hoje, a entidade está presente em mais de 36 países. Vive de doações e convênios públicos, e atende apenas pessoas com paralisia cerebral grave.

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