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Capital

Por liberdade, Arno passou a dormir "no ponto" e nem frio o faz voltar para casa

Jardineiro improvisou um abrigo em um ponto de ônibus na Avenida Duque de Caxias para passar as noites frias

Jhefferson Gamarra e Bruna Marques | 30/06/2021 09:20
Arno Ortiz deixou seu único imóvel com a filha e resolveu decidiu ir para as ruas da Capital (Foto: Henrique Kawaminami)
Arno Ortiz deixou seu único imóvel com a filha e resolveu decidiu ir para as ruas da Capital (Foto: Henrique Kawaminami)

Que a vida nas ruas não é nada fácil todos sabemos, mas em noites de frio intenso com geadas e sensações térmicas negativas como as registradas nos últimos dias em Campo Grande, o que é ruim costuma ficar ainda pior.

Pessoas sem uma moradia fixa vivem nas ruas por diferentes fatores e pelas mais variadas razões. No caso do jardineiro e catador de recicláveis Arno Ortiz, de 64 anos, a vida nas ruas foi uma opção de "paz e liberdade". Pelo menos é o que diz. Ele conta que depois de deixar seu único imóvel para uma das filhas que não tinha onde morar, nada o faz voltar para debaixo de um teto, nem o frio.

O idoso, que há 3 meses improvisa uma local para passar as noites em um ponto de ônibus na Avenida Duque de Caxias, conta que abriu mão da casa própria de um cômodo, na região do Coophavilla 2, quando uma das filhas bateu em sua porta pedindo abrigo.

Jardineiro passa as noites em um local improvisado em um ponto de ônibus na Avenida Duque de Caxias (Foto: Henrique Kawaminami)
Jardineiro passa as noites em um local improvisado em um ponto de ônibus na Avenida Duque de Caxias (Foto: Henrique Kawaminami)

“Tenho duas filhas, uma é casada e a outra morava com a mãe e o padrasto, mas acabou se desentendendo com eles e foi morar comigo. Como a casa é pequena deixei ela morando e falei que ia dar um jeito. Tem duas coisas que eu prego nada vida, que são minha paz e minha liberdade, isso não tem preço”, relata o jardineiro.

De casa, Arno só levou sua bicicleta e uma caixa com ferramentas de trabalho, durante a noite a bicicleta fica acorrentada para evitar roubos, principalmente depois de passar algumas situações perigosas nas ruas, quando dormia na região central.

“Em um mesmo dia me assaltaram duas vezes, estava dormindo no centro, entre as ruas 15 de novembro e 14 de julho quando passaram dois caras aramados e me assaltaram. Levaram os únicos 80 reais que eu tinha. No mesmo dia passou um casal em uma moto, me pediram dinheiro, reviraram minha bolsa e falaram que ia matar porque eu não tinha nada, mas graças a deus foram embora”, relembra.

Para evitar furtos, bicicleta fica acorrentada no ponto (Foto: Henrique Kawaminami)
Para evitar furtos, bicicleta fica acorrentada no ponto (Foto: Henrique Kawaminami)

Para evitar situações semelhantes, Arnos procurou um local mais “seguro” para dormir. “Escolhi esse ponto porque tem o quartel em frente, é seguro, toda hora passam carros e nunca mexeram comigo”, diz.

Mesmo com a sensação térmica abaixo de zero, o jardineiro diz que está “bem” nas ruas e população em geral têm sido solidária. “Não tá 100% mas estou bem aqui. Ontem me doaram cobertor e moletom, um senhor me chamou pra dormir na marcenaria dele e na segunda-feira um bombeiro perguntou se eu queria ir para o abrigo, como eu não quis ele ajeitou uma coberta em cima de mim. Me cobriu igual uma mãe faz com os filhos”.

Para se abrigar, Arno arma todos os dias, por volta das 23h uma lona no ponto de ônibus para cortar o vento frio e usa 5 cobertores se proteger. Além disso, com o dinheiro que ganha fazendo bicos, compra peças de roupas para ele e para a filha que ficou com a casa.

“Como chegou a época mais fria, gastei 75 reais comprando roupas para se proteger. Paguei 30 reais em uma luva grossa, 20 em um cachecol e ainda comprei uma touca e uma luva e levei para minha filha, porque sei que ela estava sem”, comentou.

Arno exibe as luvas que comprou para ele e para a filha que que ficou com a casa (Foto: Henrique Kawaminami)
Arno exibe as luvas que comprou para ele e para a filha que que ficou com a casa (Foto: Henrique Kawaminami)


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