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Capital

Prefeitura cadastra moradores de favela e destrói barracos desocupados

Ação ocorre na manhã de hoje na Comunidade do Mandela, na região Norte de Campo Grande

Ângela Kempfer e Viviane Oliveira | 31/10/2019 10:20
Equipes da Semadur derrubaram barracos na manhã de hoje. (Foto: Viviane Oliveira)
Equipes da Semadur derrubaram barracos na manhã de hoje. (Foto: Viviane Oliveira)

Emha (Agência Municipal de Habitação), Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), com apoio da Guarda Municipal, estão na manhã desta quinta-feira (31) na favela conhecida como "Comunidade do Mandela", na região Norte de Campo Grande.

Em resposta a pedido de levantamento, feito pelo Ministério Público Estadual, a prefeitura faz o cadastramento de famílias que vivem em situação irregular, morando em barracos, com ligações clandestinas de energia.

A ordem é verificar quem realmente mora na ocupação e derrubar os barracos vazios, de pessoas consideradas "oportunistas", que se instalam no local apenas para conseguir casas populares da Emha. 

As equipes entram em todas as moradias e avaliam a situação, levando em conta a estrutura montada. "As pessoas que realmente vivem aqui tem, pelo menos um fogão, uma geladeira. O restante só coloca o barraco para tentar ganhar uma casa da prefeitura", justifica Eneas José de Carvalho Netto, diretor presidente da Emha.

Nas contas dele, apenas 30% das pessoas instaladas realmente precisam ser atendidas pela prefeitura. "Tem os oportunistas que já conseguiriam casas e voltaram. Vejo rostos conhecidos aqui", reclama.

Segundo Eneas, muitos são remanescentes da Favela Portelinha, que ficava na mesma região. Cerca de 300 famílias foram transferidas para residencial construído pelo município e logo outra favela surgiu.

Para o diretor da Emha, ao cadastrar pessoas em ocupações, para beneficiar em futuros projetos habitacionais, o poder público incentiva novas invasões. Mas ele justifica que é obrigado a atender o Ministério Público. “Sou contra o que estamos fazendo aqui, porque a Emha tem mais de 42 mil pessoas na fila a espera de casa, que pagam água luz e vivem de aluguel. Isso vai totalmente contra a política habitacional. Mas isso é para prestar contas ao Ministério Público”.

Em julho, operação da Energisa acabou com 250 ligações clandestinas no Mandela. A ação acabou revoltando moradores que chegaram a bloquear a rodovia que dá acesso à região. Por isso o Ministério Público solicitou àprefeitura investigação sobre a realidade no local.

Barracos considerados vazios são marcados para depois serem destruídos. (Foto: Viviane Oliveira)
Barracos considerados vazios são marcados para depois serem destruídos. (Foto: Viviane Oliveira)
Moradora é cadastrada para futura remoção. (Foto: Viviane Oliveira)
Moradora é cadastrada para futura remoção. (Foto: Viviane Oliveira)
Ocupação clandestina tem até sobrado improvisado, com comércio.
Ocupação clandestina tem até sobrado improvisado, com comércio.

Moradores que estão nesta manhã no local são cadastrados. Já os pontos desocupados acabam no chão. Eletricistas cortam os cabos de ligação irregular com a rede elétrica, para os servidores da Semadur demolirem os barracos vazios.

Pela manhã, pelo menos 10 devem ser derrubados. As moradias ocupadas recebem um número e as famílias respondem quanto tempo moram ali, de onde vieram, qual a renda, e apresentam documentos pessoais.

A Comunidade do Mandela foi criada em 7 outubro de 2016. "Hoje, são cerca de 130 famílias, todos têm cadastro na Emha", garante Greiciele Argilar Ferreira, de 25 anos. A moradora, que se apresenta como líder comunitária, há 3 anos vive no local com 3 filhos de 2, 6 e 10 anos, e renda de R$ 130,00, referentes ao Bolsa Família. De Sinope (MT), ela diz que entre os vizinhos tem gente de Corumbá, Sidrolândia e até da Bahia. “A maioria não tem casa, está aqui porque precisa. Meu sonho é ter um lugar com luz e água”, comenta. 

Na favela, a situação é evidentemente precária. Além de gambiarras para todo o lado, a maioria cobre as paredes com cobertores, para não entrar vento na estrutura capenga de madeira. Mas algum investem na construção com tabuas e até sobrado improvisado surgiu no Mandela, com mercearia. O dono diz que chega a "tirar até R$ 1.500 por mês no comércio", com a venda de produtos diversos, inclusive, shampoo.

Quando as equipes chegaram hoje, junto à Guarda Municipal, a primeira reação foi de medo. Mas depois das explicações, a ação virou esperança.

Diarista, Mariana Mendes de Sá veio de Sidrolândia e no ano passado diz que fez cadastro na Emha. “Toda a vez que vemos movimentação assim, a gente pensa que vai ser despejado. Mas agora estou muito feliz porque o cadastro é o primeiro passo. Agora a prefeitura vai saber quem mesmo vive aqui".

Kellen Costa, de 19 anos, mora com filhos de 2 e 5 anos. Já está no segundo endereço desde que se mudou para o Mandela. “Quando era casada, morava na casa da minha sogra. Mas meu marido bebia demais e me separei. Comprei barraco aqui por R$ 800,00, com 3 peças. Hoje vivo com pensão de R$ 200,00. O meu primeiro barraco, ia doar para o meu irmão, mas demoliram”, conta.

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