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Capital

Reflexo da estiagem, poeira "escraviza" donas de casas

Luciana Brazil | 31/08/2012 17:55
Dona de casa mostra a poeira na janela que foi lavada ontem à noite e hoje de manhã já estava suja. (Fotos:Rodrigo Pazinato)
Dona de casa mostra a poeira na janela que foi lavada ontem à noite e hoje de manhã já estava suja. (Fotos:Rodrigo Pazinato)

A poeira parece realmente fazer parte da decoração. Nada escapa. Os móveis, o chão, as cadeiras, e até mesmo o cachorrinho que fica do lado de fora da casa. Durante o dia, as janelas ficam fechadas para impedir que a sujeira entre na residência, mas as tentativas de manter a limpeza são sempre em vão. Alguns já pensam até em vender as casas.

Os moradores do Residencial do Lago, vila Adelina, na rua Lago Eriê, enfrentam há cerca de um ano, quando as obras tiveram início, a rotina suja e estressante causada pela poeira que sobe da construção de um residencial da empresa MRV engenharia.

Chegar em casa e encontrar varandas, janelas, móveis e roupas limpas é uma realidade distante. A situação é descrita como calamidade, segundo a secretária Márcia Cristina Santos Lima, 49 anos.

“Não abro mais a casa e mesmo assim está tudo sujo. Em cima da geladeira eu limpei ontem, mas já está tudo cheio de poeira”, contou desesperada Márcia Cristina.

Até dentro da cristaleira a poeira não dá trégua. Além da sujeira, as taças trepidam no armário.
Até dentro da cristaleira a poeira não dá trégua. Além da sujeira, as taças trepidam no armário.
Na casa de Leila a varanda lavada recentemente já estava cheia de pó.
Na casa de Leila a varanda lavada recentemente já estava cheia de pó.

Com uma reforma planejada, Márcia precisou adiar a pintura da casa só por causa da poeira. “Se eu pintar minha casa agora vai estragar tudo. O pó vai grudar na tinta, não tem como”, contou, enquanto o pedreiro retirava os andaimes que seriam usados na pintura.

Pouco tempo depois de limpos, os móveis ficam cobertos de pó. O relato dos vizinhos são os mesmos e as cenas deixam qualquer um aflito. Durante a reportagem, até a equipe do Campo Grande News sentiu a respiração pesada causada pelo pó.

Os transtornos gerados pela poeira vão desde pisos encardidos, até roupas que só podem ser lavadas a noite para não ficarem sujas com o pó que se espalha durante o dia.

Leila mostra as pedras da piscina que já estão encardidas.
Leila mostra as pedras da piscina que já estão encardidas.

“Para lavar roupa tenho que lavar a área primeiro e depois estender a roupa, mas só à noite, quando as máquinas da obra não estão trabalhando. E de manhã tem que tirar correndo”, contou a artesão Leila Vânia Alves Domingues, 60 anos.

A situação escraviza, mas segundo as moradoras não é possível “lutar” contra a poeira. “Se eu for limpar toda hora que está sujo, vou ficar louca”. Leila contou ainda que quase todos os dias de manhã a cama trepida por causa das máquinas. “Até os copos andam nas prateleiras. Não aguento mais”, desabafou Leila.

Três vezes por semana a piscina na casa de Leila é limpa, mas o trabalho não dura muito tempo. “15 minutos depois que o piscineiro vai embora a piscina está cheia de pó de novo. É dinheiro jogado fora”.

De tanto lavar e lavar, as contas de água têm vindo com valores exorbitantes para todos os vizinhos. "A última conta veio R$360", contou a artesã.

Todas as casas da rua estão vivendo o mesmo drama. Os lamentos parecem ser repetidos. “A gente não abre as janelas. Fica todo mundo trancado. Ninguém aguenta mais. Eu lavei as janelas ontem à noite quando cheguei do trabalho. Hoje de manhã já está assim”, diz, mostrando a poeira, a funcionária pública Diva Oliveira Rolim, 56 anos.

Com as palmas da mão sujas, ela se indigna. “Minha neta não pode vir aqui em casa porque tem rinite alérgica”.

Com a casa recém pintada, a servidora publica Graça Colli Moreira 55 anos, conta como é desgostoso saber que as paredes já estão sujas. “Minha parede é de grafiato (revestimento com ranhuras) e a poeira se infiltra. Agora está tudo grudado. As janelas brancas vamos ter que pintar de novo”, ressalta.

As moradoras contam ainda que a obra já deu outros problemas. “Nós já precisamos reclamar dos marmitex que eram jogados aqui na frente também dos vários carros que os funcionários paravam aqui na rua atrapalhando a passagem dos moradores", concluiu Márcia Cristina.

O que poderia ser feito para amenizar a poeira, segundo os moradores, seria que o terreno da obra fosse molhado constantemente. Depois de muitas reclamações, a empresa alegou que toma todas as medidas necessárias.

A MRV informou, por meio da assessoria de imprensa, que recolhe todo o entulho de construção, por meio de empresas especializadas e licenciadas junto aos órgãos ambientais.

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