Ruas detonadas aumentam medo de ataques nos arredores da Máxima
Buracos e condição precária obrigam motoristas de viaturas de escolta e transporte de presos a dirigirem em baixa velocidade; policiais temem emboscadas para resgate de membros de facções


Policiais militares que fazem o trabalho de escolta de detentos do presídio de Segurança Máxima de Campo Grande dizem que o cenário é de risco de sofrerem ataques de bandidos por não conseguirem trafegar em alta velocidade nas ruas do entorno do local, no Jardim Noroeste, ainda de terra e com enormes crateras que obrigam os motoristas a serem cautelosos sob o risco de danificarem seus veículos.
O principal temos é que ao deixarem o presídio com a custódia de um detento, sofram emboscadas ou ataques para resgate, principalmente de membros das facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho.
“Nunca vi isso”, disse um PM do Batalhão de Choque. “É inacreditável que o entorno do local onde estão os criminosos mais perigosos do Estado tenhamos um cenário de risco desses. O alerta é dobrado. E nem é pela questão apenas de correr, mas sim de que os buracos atrapalham nossa visão e nos deixa expostos para ataques.”
O Campo Grande News circulou pelo local nesta quarta-feira (1) e constatou: é praticamente impossível passar pelos acessos da Máxima sem se segurar firme dentro do carro. Na saída do presídio usada por detentos que precisem de atendimento médico, na Rua Osasco, ambulâncias são obrigadas a darem uma volta maior que a necessária para desviarem de uma cratera aberta a cerca de 50 metros do portão.
Situação não muito diferente da Rua Indianápolis, onde fica o portão principal do presídio. O buraco é tão grande que atingiu o encanamento, gerando lama e forçando a brecada dos motoristas que acessam a rua, interditada de frente ao portão. “É uma medida que fizemos para evitar o risco de ataque na entrada principal. Assim temos como reagir e evitar uma invasão, já que não tem como uma viatura acelerar aqui”, disse um agente penitenciário que trabalha na recepção.
Outras ruas que servem a principal cadeia sul-mato-grossense, como a Conquista e Urupês, também não contam com um cenário positivo. Possuem crateras, pavimentação escassa e dificuldade ao motorista. “Não uma rua decente para que possamos trabalhar com tranqüilidade. A qualquer momento você sente que pode acontecer algo”, disse um PM que trabalha no serviço de escoltas ao Tribunal de Justiça.
Moradores do entorno também reclamam. Muitos se sentem ainda mais inseguros pelo fato das condições das ruas facilitarem a ação criminosa para resgate de comparsas. “Era de se esperar que estando ao lado de um presídio eles teriam mais atenção. Mas é exatamente o contrário. Se acontecer algo aqui, quem sofre, como sempre, somos nós”, disse a dona de casa Maria Conceição Ferreira, 42 anos, que mora a cerca de 700 metro de um dos portões do presídio, na Rua do Bananal, também usada como acesso pelos policiais.

Exigência – Atendendo solicitações de policiais e moradores, o vereador Eduardo Romero (Solidariedade) encaminhou na última semana um ofício à Siesp (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) para que providências sejam tomadas.
“A gente percebe que houve um abandono do serviço público (no local)”, disse Romero. “Estamos vendo o que essa gestão está fazendo e sei que é claro que não dá para resolver tudo de uma vez. Mas precisa de um pouco mais de esforço. Não é um pedido individual de um vereador, mas coletivo, de moradores e policiais preocupados com o risco real de que algo aconteça.”
Segundo o vereador, o ofício solicitando providências ainda não foi respondido, mas há otimismo. “Eu confio que sejamos atendidos o quanto antes. É uma questão importante. Ou senão vamos ter que buscar outros caminhos”, disse.
Presidente da Associação dos Cabos e Soldados de Mato Grosso do Sul, Edmar Soares da Silva diz que melhorias no entorno da Máxima são uma exigência antiga. “É hora da Prefeitura mostrar que tem preocupação e quer se envolver com as questões da segurança pública. Todos têm responsabilidade, não só a polícia”, disse.
Em nota, a Siesp diz que prepara a contratação de empresas para a manutenção das vias não pavimentadas da cidade. E na programação está o serviço de patrolamento e cascalhamento do Jardim Noroeste.
Segundo a Prefeitura, Campo Grande tem cerca de 2 mil km de vias não asfaltadas. “Como o parque de máquinas está bastante sucateado, é insuficiente para cobrir todo este perímetro. O trabalho então é terceirizado. A atual administração encontrou dois contratos de manutenção – na fase final de vigência – para empresas atuarem em duas regiões urbanas da cidade”, diz o texto.
De acordo com a assessoria municipal, uma nova licitação está sendo preparada, com valores repactuados, para que o trabalho possa ser retomado. Só depois de concluído este processo será possível iniciar a recuperação de vias.