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Cidades

Titulação escancara elo entre fazendeira, ex-presidente da Agraer e empresário

Em 2022, num intervalo de 4 meses, Agraer emitiu e cancelou titulação de fazenda de investigada

Por Lucas Mamédio e Lucia Morel | 09/05/2025 11:17
Titulação escancara elo entre fazendeira, ex-presidente da Agraer e empresário
Equipe da PF saindo da Agraer, nesta quinta-feira (8) (Foto: Bruna Marques)

A tentativa de regularização da Fazenda Carandá Preto, localizada em Aquidauana,  escancara e coloca sob suspeita a relação entre Elizabeth Peron Coelho, o empresário Mário Maurício Vasquez Beltrão,  e o então diretor-presidente da Agraer, André Nogueira Borges, todos investigados na Operação Terra Nullius, da Polícia Federal.

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A emissão e posterior cancelamento de um título definitivo de propriedade para a Fazenda Carandá Preto, em Aquidauana, revelou conexões suspeitas entre Elizabeth Peron Coelho, o empresário Mário Maurício Vasquez Beltrão e o ex-diretor da Agraer, André Nogueira Borges, investigados na Operação Terra Nullius. O título, emitido em fevereiro de 2022 para a empresa Reserva Legal Incorporação Ltda., da qual Beltrão é sócio-administrador, foi cancelado quatro meses depois. O caso integra investigações da Polícia Federal sobre um esquema de grilagem envolvendo manipulação de registros ambientais e ocupação irregular de áreas da União no Pantanal sul-mato-grossense.

Isso porque a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) emitiu, em fevereiro de 2022, um título definitivo de propriedade para uma área de 2.225 hectares no Pantanal sul-mato-grossense — e cancelou o mesmo documento apenas quatro meses depois.

“O esquema era realizado por meio de documentos fraudulentos, falsidade ideológica, associação [criminosa], corrupção. Tudo isso está envolvido para poder concretizar a grilagem de terras”, disse a delegada Kelly Trindade, que participou da Operação Pantanal Terra Nullius.

A área havia sido incluída num processo de regularização fundiária aberto em 2020, a pedido do espólio de Magno Martins Coelho, representado por sua inventariante, Elizabeth Peron Coelho. Mário Beltrão, dono da Toposat Engenharia, aparecia como procurador técnico no mesmo processo. À época, o edital foi assinado pelo então diretor-presidente da Agraer, André Nogueira Borges.

Titulação escancara elo entre fazendeira, ex-presidente da Agraer e empresário
Dinheiro apreendido durante a operação (Foto/Divulgação/PF)

Dois anos depois, em 2 de fevereiro de 2022, a própria Agraer emitiu o título definitivo nº 183, concedendo a posse da Fazenda Carandá Preto à empresa Reserva Legal Incorporação Ltda. A reportagem consultou o registro da Receita Federal e confirmou que essa empresa tem como sócio-administrador justamente Mário Maurício Vasquez Beltrão — além de Gustavo Feitosa Beltrão, provável familiar, que também é investigado.

A sequência dos fatos aponta para uma possível tentativa de encobrir o verdadeiro beneficiário da terra, atribuindo o título a uma pessoa jurídica, enquanto o processo era conduzido pelo próprio dono da empresa, por meio de procuração técnica.

Titulação escancara elo entre fazendeira, ex-presidente da Agraer e empresário
Edital publicado em 2020 que mostra Mário como procurador, Elizabeth como inventariante e André assinando documento (Foto: Reprodução)

A gravidade aumentou quando, em 22 de junho de 2022, a Agraer voltou atrás e cancelou oficialmente o título, declarando-o “sem validade”. A decisão foi assinada já por outro presidente da autarquia, Fernando Luiz Nascimento. O motivo do cancelamento não foi detalhado no edital, mas pode ter relação com indícios de fraude no processo.

A Fazenda Carandá Preto fica no entorno do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, mesma região de outras propriedades representadas por Elizabeth, que em 2021 assinou escritura de desapropriação amigável com o Governo do Estado, viabilizando a incorporação de 42.609 hectares ao parque, mediante pagamento de R$ 36 milhões em compensações ambientais.

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Além desses episódios, Elizabeth foi condenada em 2022 por desmatamento ilegal na Fazenda Capivari, em Rio Brilhante. A Justiça reconheceu a supressão de vegetação em área de vereda e determinou a reparação da área degradada. Mesmo com esse histórico, ela permaneceu atuando em negociações fundiárias com aval do Estado.

Segundo a Polícia Federal, a Operação Terra Nullius investiga a existência de um esquema de grilagem que funcionava com base em manipulação de registros ambientais, emissão irregular de CRAs e ocupação de áreas da União. Mário Beltrão é apontado como peça técnica fundamental, responsável por inserir dados fraudulentos em processos administrativos. Embora André Nogueira Borges ainda não seja formalmente investigado, aparece assinando atos chave ao lado dos demais alvos.

Procurados pela reportagem, a Agraer, Mário Beltrão e Elizabeth Peron Coelho não foram encontrados. O espaço segue aberto para manifestação.

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