Última greve foi no tempo da ficha, do cobrador e com o triplo de passageiros
O clima era de tensão, com comandante da Polícia Militar batendo boca com sindicalista na rua
Separadas por 31 anos, as maiores greves do transporte coletivo retratam uma Campo Grande bem diferente. Em 1994, quando aconteceu paralisação por 72 horas, na gestão do prefeito Juvêncio César da Fonseca (já falecido), o passe era uma moedinha verde, a média de passageiros era de 300 mil por dia (agora são 100 mil) e todos os ônibus tinham motorista e cobrador.
RESUMO
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Em 1994, Campo Grande enfrentou uma greve no transporte coletivo que durou 72 horas, paralisando cerca de 300 mil passageiros diários. Na época, os ônibus operavam com motorista e cobrador, e o pagamento era feito com fichas. A paralisação causou congestionamentos de três quilômetros no Centro, com tensão entre policiais e sindicalistas. Três décadas depois, em 2025, nova greve afeta 100 mil passageiros diários. O sistema atual opera com pagamento eletrônico e sem cobradores, extintos desde 2009. A paralisação atual deve-se ao atraso no pagamento de salários dos motoristas, mesmo com o pagamento parcial de 50% realizado pelo Consórcio Guaicurus.
As memórias desse passado, há três décadas, vêm de postagens no Facebook. Em 1994, a greve pegou os passageiros de surpresa, com veículos parados no Centro de Campo Grande, inclusive com fila dupla nas ruas, como na Rui Barbosa, 26 de Agosto e Joaquim Murtinho. O congestionamento chegou a três quilômetros.
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O clima era de tensão, com pneus de ônibus furados e o comandante da PM (Polícia Militar), citado apenas como coronel Carvalho, discutindo com representantes do sindicato dos trabalhadores. O policiamento foi reforçado pela cidade.
Naquela época, sem aparelhos celulares, a informação demorou a chegar aos bairros, com as pessoas paradas nos pontos de ônibus sem saber da greve. O deslocamento era mais difícil, pois não havia serviço de corrida por aplicativo. O caos na cidade foi relembrado nos comentários da página na rede social.
"Nesse dia aí, a minha avó voltou pra casa pegando carona com o caminhão de coleta de lixo", diz uma postagem. "Eu era criança, lembro desse dia, foi uma confusão lascada no centro", afirma outro participante da comunidade.
A paralisação foi de dois mil trabalhadores, entre motoristas e cobradores. Há três décadas, eram três empresas explorando o serviço de transporte coletivo: Viação Cidade Morena Ltda, Viação São Francisco Ltda e Jaguar Transportes Urbanos Ltda. Conforme publicação do Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) de 1998, o mais antigo disponível na versão digital, os contratos originais eram da década de 80.
Em 30 de março de 1998, por exemplo, foram prorrogados prazos de contratos com as três empresas. O terceiro termo aditivo era de contrato celebrado em primeiro de março de 1983.
O Consórcio Guaicurus só surgiu em 2012, quando venceu licitação bilionária da Prefeitura de Campo Grande. O grupo é composto pela Viação Cidade Morena (empresa líder), Viação São Francisco, Jaguar Transportes Urbanos e Viação Campo Grande, que já formavam a Assetur (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano), em operação na Capital desde 2000.
A previsão de faturamento ao longo dos anos era de R$ 3,4 bilhões, com receita anual de R$ 172 milhões.
Sempre ponto de polêmica, o passe do estudante foi criado pelo prefeito Juvêncio, com 100% de gratuidade na tarifa. Depois, ele também ampliou o benefício para os idosos.
“Lá em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, já há dez anos, quando eu estava na prefeitura, negociamos esse passe do estudante, de grande benefício. É gratuito? Sim, é gratuito. Mas a negociação é feita todo ano com as empresas, e elas também dão a sua contribuição social em favor do estudante. Mas é preciso que haja princípios rígidos de atendimento”, disse o ex-prefeito Juvêncio, durante discurso no Senado.
A greve de 2025 -A paralisação atual, que completa três dias nesta quarta-feira (dia 17), deixou sem transporte 100 mil passageiros por dia. Agora, o passe é eletrônico e não se aceita mais pagamento em dinheiro. Em 2010, por exemplo, a média era de três assaltos a ônibus por dia em Campo Grande.
Já a figura do cobrador começou a “desaparecer” dos ônibus em 2007, com a implantação do cartão eletrônico. Em 2009, as demissões se avolumaram até a extinção do posto.
Desta vez, a decisão de cruzar os braços foi tomada na última quinta-feira (dia 11) em assembleia que reuniu mais de 200 motoristas. A categoria cobra o pagamento integral dos salários que deveriam ter sido depositados no dia 5 de dezembro, além de outros direitos em atraso.
Na tentativa de conter a paralisação, o Consórcio Guaicurus informou, no fim da tarde de sexta-feira (12), que efetuou o pagamento de 50% dos salários atrasados. O repasse parcial, no entanto, não foi suficiente para suspender a greve.
Na segunda-feira, primeiro dia da paralisação, o TRT/MS (Tribunal Regional do Trabalho) determinou o retorno de 70% dos trabalhadores e multa. O valor diário já chega a R$ 200 mil. A Prefeitura de Campo Grande informou que o repasse para o consórcio está em dia.
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