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Capital

Vídeo: Mulher da a luz em posto de saúde onde falta quase tudo

Lidiane Kober | 05/11/2013 18:26
Cury disse que o parto ocorreu em condições de "extremo risco" (Foto: Paulo Francis)
Cury disse que o parto ocorreu em condições de "extremo risco" (Foto: Paulo Francis)

Após esperar quase três horas por socorro do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), uma mulher, de 33 anos, deu a luz a um menino na UPA (Unidade Básica de Saúde) do Bairro Coronel Antonino, sem medicamentos e aparelhos necessários para a realização de um parto seguro. Nem material básico, como agulha para pegar veia do recém-nascido, havia no local.

O fato ocorreu no início da manhã do dia 11 de outubro, durante o plantão do médico Eduardo Cury. A mãe, de gravidez considerada de risco, acionou o Samu para conduzi-la a uma maternidade, mas o socorro demorou a chegar e ela foi obrigada a dar a luz na Upa. “Corremos o risco de perder a mãe e o filho porque uma unidade básica não tem condições mínimas para a realização de um parto”, disse o médico.

O perigo começou pelo fato de a equipe desconhecer o histórico da mulher. “Não sabíamos nada sobre ela, nem idade, se já era a mãe ou se possuía algum tipo de doença”, comentou Cury.

Para piorar a situação, a Upa não conta com mesa ginecológica, nem aparelho respirador e oxigenador. “Se a mãe desmaiasse não teríamos como reanimá-la”, explicou. A unidade, ainda segundo o médico, não dispõe de fonte de calor, em caso de choque térmico da criança. “Na barriga, a temperatura é de cerca de 36 graus e fora de 18”, esclareceu. “Havia o risco de parada cardiorrespiratória”, emendou.

Outro risco girava na possibilidade de o bebê nascer com o cordão umbilical em torno do pescoço ou de ele precisar de medicamentos. “Estamos sem agulha para pegar a veia de recém-nascido para aplicar remédios”, afirmou. “E se ele saísse com os pés em vez de a cabeça para fora”, completou. “Enfim, foi extremamente arriscado realizar esse parto no posto”, concluiu.

Roleta russa – Inconformado com o perigo que a paciente e o filho correram, o médico denunciou falta de gestão na saúde pública de Campo Grande. “O que está acontecendo nos postos é uma roleta russa, não podemos esperar alguém morrer para tomar uma atitude”, frisou.

Segundo ele, o secretário municipal de Saúde, Ivandro Fonsenca, “não tem conhecimento do sistema, é inacessível e não aceita críticas”. “Nunca, nos meus 20 anos de medicina em Campo Grande, vi faltar tanto medicamento e material básico como agora”, reforçou.

Cury disse que falta desde baixador de língua a adrenalina e papel para receita. “Adrenalina é um medicamento fundamental para atender casos de urgência, como parada cardíaca, choques e problemas respiratórios”, detalhou. “Tem dias que também falta dexametasona (corticoide) e prednisolona (contra bronquite)”, acrescentou.

Ameaças – Como outros médicos que denunciaram os problemas na rede pública de saúde da Capital, Cury também revelou ser alvo de “ameaças” e perseguição. “Venho recebendo ameaças, mandaram me dizer que estou falando demais”, contou.

No ano passado, o médico concorreu a vereador em chapa oposta a do prefeito Alcides Bernal (PP). Ele, no entanto, fez questão de frisar que o fato de trazer o caso à tona não se trata de picuinha política. “Tenho 35 anos de profissão, 70 mil consultas, seis mil partos e mais de 100 mil procedimentos e jamais vou colocar política acima disso”, garantiu.

Segundo ele, a medicina e a vida das pessoas estão bem acima de disputas eleitorais. “A verdade não pode ser contaminada pelo fato de ter disputado uma eleição, o que aconteceu com essa mulher foi muito grave e não pode acontecer de novo com outra pessoa”, finalizou.

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