Vizinhos se unem contra “rolê sertanejo” que lota bairro de idosos
Som alto, brigas, carros em calçadas e medo de represálias marcam rotina na região da Praça do Papa
RESUMO
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Moradores da região da Praça do Papa, no bairro Lar do Trabalhador, em Campo Grande, denunciam uma sequência de transtornos provocados por eventos com música ao vivo que vêm sendo realizados em frente às casas. O trailer, que recebe o "Moda de Domingo", se tornou alvo de denúncia oficial na Polícia Civil por perturbação do sossego e, segundo os relatos, reúne desde som em volume extremo até brigas, consumo de bebida por menores e bloqueio de garagens, o que os moradores classificam como "o fim do sossego em um bairro de idosos".
Uma das moradoras, que vive há 67 anos na vila e prefere não ser identificada, relata que o problema se intensifica principalmente aos domingos. “O som é muito alto, parece que estão gravando um DVD. Inclusive, já gravaram um aqui. É poluição sonora terrível, menor bebendo, carro em cima da calçada, gente urinando na frente das casas. No final da festa sempre tem briga. A gente só ouve os gritos. Eu tenho medo de bala perdida.”
Segundo ela, a maioria dos moradores da região é idosa e aposentada. “Meu vizinho do fundo tem problema sério de saúde e não consegue dormir. Está tirando a paz de todo mundo. Todo mundo tem medo de falar porque eles dizem que têm gente poderosa por trás. A gente é humilde, mas paga imposto e tem direito ao sossego.”
Outra moradora, que vive em frente ao trailer apontado como responsável pelos eventos, diz que a situação saiu do controle. “Começou com um almocinho, música ambiente. Depois virou música ao vivo, microfone, caixa de som alta, sem hora para começar nem para terminar. Vêm 300, 400 pessoas. Eles cobram para entrar. Para quem mora em volta, é um inferno.”
Ela relata impacto direto na rotina da família. “Minha filha tem depressão grave e toma remédio para dormir. Tenho sobrinha estudando para medicina. No dia da bagunça, ninguém dorme, ninguém estuda. Nem sair com o carro da garagem a gente consegue porque o pessoal estaciona no meio da rua e na calçada.”
Ainda segundo a moradora, discussões com frequentadores já aconteceram. “Teve uma vizinha que pediu para tirarem o carro da frente da casa dela e foi xingada. Mandaram-na para aquele lugar. É um povo que vem para beber e bagunçar.”
Caso de polícia - A situação foi registrada na Depac Cepol (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário do Centro Especializado de Polícia Integrada). No documento, a comunicante relata que há cerca de cinco meses foi instalado um trailer de lanches na Praça do Papa, na Avenida Crisantemos, esquina com a Rua Zahia Nahas Siufi. Conforme o registro, o som alto ocorre às quartas-feiras, sábados e domingos, das 14h até por volta das 23h30. Ainda segundo a ocorrência, mesmo após a presença da Polícia Militar, o volume volta a ser elevado.
O que dizem as regras sobre esse tipo de evento - Os organizadores apresentaram um alvará de funcionamento válido até março de 2026, classificado como bar e comércio de bebidas com entretenimento. O documento permite funcionamento até 23h de segunda a quinta e até 23h59 às sextas, sábados, domingos e vésperas de feriado.
Além disso, eles citam a Resolução Ambiental nº 60, da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), que regula o funcionamento de bares e locais com música ao vivo em Campo Grande. A norma permite música ao vivo dentro desses horários, mas impõe limites de ruído e deixa claro que o estabelecimento pode ser punido mesmo sem uso de aparelho de medição, caso fique caracterizado o abuso sonoro.
O que dizem os organizadores - A reportagem também falou com os responsáveis pelo trailer e pelos eventos. Eles enviaram à reportagem um alvará de funcionamento e autorização para uso de som até meia-noite.
“Se estivesse errado, você acha que a polícia já não teria fechado?”, disse um dos organizadores. “Nós temos tudo regularizado.”
Sobre as reclamações de urina na rua, consumo de bebida e transtornos no trânsito, eles afirmam que nem tudo pode ser controlado pela organização. “Infelizmente, nós não podemos controlar esse tipo de situação fora do estabelecimento. A gente sempre coloca banheiro químico.”
Moradores, no entanto, dizem que os problemas mais graves acontecem justamente do lado de fora, na rua e nas calçadas.
A equipe de reportagem do Campo Grande News também procurou a Prefeitura de Campo Grande e a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) para saber se há planejamento de intervenção no trânsito da região. Até a publicação, não houve resposta. O espaço segue aberto.
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