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Cidades

Crianças e adolescentes com Aids ganham qualidade de vida com novo medicamento

Paula Vitorino | 30/08/2011 07:41
Irmã mostra os comprimidos do tipranavir, que adolescente de MS já toma.
Irmã mostra os comprimidos do tipranavir, que adolescente de MS já toma.

Crianças e adolescentes que vivem com Aids no Brasil ganham uma nova esperança para o tratamento da doença e a qualidade de vida. Nesta semana, o Ministério da Saúde disponibiliza pelo SUS (Sistema Único de Saúde) o primeiro antirretroviral (ARV) desenvolvido exclusivamente para o tratamento desses pequenos pacientes.

O tipranavir também é o primeiro medicamento de resgate - quando o tratamento inicial não apresenta mais resposta ou tem falha - adotado no país para utilização em crianças menores de 6 anos de idade, segundo o Ministério. Até então, o esquema de resgate terapêutico de 3ª linha era feito com ARV indicados para adultos e utilizados por crianças como medida excepcional.

As secretarias estaduais de saúde já receberam nota técnica sobre o medicamento, que deve ser distribuído conforme a solicitação de cada Estado. Em Mato Grosso do Sul, ele já é utilizado na formulação para adolescente por um menino de 13 anos.

A aquisição do tipranavir é tida como um avanço no esquema de medicamentos dos pacientes dessa faixa etária, já que ele é uma medicação indicada como 3ª linha de tratamento, quando o esquema inicial de remédios não tem mais efeito no organismo – a 1ª linha é composta por medicamentos mais usuais e utilizados em tratamentos iniciais.

A médica infectologista pediatra, Marcia Dal Fabbro, ressalta que o medicamento na formulação para crianças representa uma conquista no tratamento dos pacientes, principalmente, menores de 16 anos que não respondiam mais aos esquemas de medicamentos.

Isso reflete diretamente na melhoria da qualidade de vida, já que o organismo poderá responder melhor ao tratamento com o combate da replicação do HIV e, sendo assim, ficar menos suscetível ao contágio de outras doenças.

Ela explica que muitas crianças já aos 11 anos não respondem a várias combinações de medicamentos – coquetel – e anteriormente não tinham a opção de aderir ao tratamento com o tipranavir, quando ainda não apresentavam o peso compatível para a dosagem do comprimido – 35 quilos. Agora, a medicação será fornecida para crianças sem exigência mínima de peso com a fórmula em xarope.

“Criança que não respondia mais ao tratamento aos 11, 12 anos e não tinha mais o que tomar. Chegavam a ter que esperar até os 16 anos – ou quando atingiam o peso ideal para a dosagem - para entrarmos com o medicamento de resgate para adolescente – tipranavir – ou outra fórmula para adulto”, diz.

A médica esclarece que a maioria dos pacientes tem peso abaixo da sua idade por apresentarem problemas de desenvolvimento e pouca massa muscular.

O tipranavir em xarope será utilizado em combinação com a solução oral do ritonavir, estes medicamentos são potencializados e inibem a replicação do HIV, ajudando a reduzir a infecção das células saudáveis do organismo.

Medicação é ampliada para crianças e adolescentes. (Foto: João Garrigó)
Medicação é ampliada para crianças e adolescentes. (Foto: João Garrigó)

Conquista - Em Mato Grosso do Sul, o garoto Salomão, de 13 anos, foi o primeiro a ter o tipranavir incluído no esquema de medicamentos. A droga foi prescrita após o organismo do menino não responder aos outros ARV.

Em meados de 2010, os exames de Salomão alertaram para a baixa imunidade do organismo, que já não respondia as combinações de medicamentos. Com o organismo indefeso, ele foi internado várias vezes com doenças respiratórias e outras infecções.

Dal Fabbro explica que a droga foi prescrita após testes com vários medicamentos para analisar a resposta do organismo. No entanto, o ARV só foi liberado em março deste ano após ser comprovado que Salomão, mesmo com recém completos 13 anos, já tinha o peso compatível para a fórmula em comprimidos, já que a droga em xarope – sem peso mínimo – ainda não estava disponível no Brasil.

Ele é uma das crianças atendidas pela Afrangel (Associação Franciscanas Angelinas) – Lar das Crianças com HIV/Aids, e a irmã responsável pela enfermaria, Marlene da Silva, conta que foram cerca de quatro meses de espera para a chegada do medicamento e que a melhora na saúde do garoto foi visível.

“O Salomão passou por um período muito difícil, ficou doente várias vezes. Mas agora está bem, respondendo a medicação. Sua imunidade voltou a subir”, diz.

O Lar oferece gratuitamente assistência social, médica e pedagógica a crianças e adolescentes com o vírus HIV de todo o Estado.

Além do tipranavir, o garoto toma outros 6 medicamentos diferentes por dia. Ao todo, são 13 comprimidos, mais duas injeções.

Panorama - O Ministério da Saúde oferece 13 drogas para crianças com Aids. O orçamento para o acesso universal aos antirretrovirais no Brasil é da ordem de R$ 846,7 milhões e o investimento brasileiro em ARV para crianças é de R$ 9,7 milhões.

Atualmente existem no Brasil 4.006 menores de 13 anos em tratamento, sendo que 186 deles estão utilizando medicamentos de 3ª linha. A secretaria estadual de saúde não tem os dados sobre o número de crianças soropositivo em todo o Estado.

Praticamente 100% das transmissões nessa faixa etária são por meio das mães soropositivo, que transmitem o vírus na gestação e parto ou quando amamentam os filhos. Quando o tratamento é realizado adequadamente pela mãe, a chance do bebê adquirir o HIV cai para níveis menores que 1%, segundo o Ministério da Saúde.

Serviço: O Lar das Crianças fica na rua Seminário, 2.170 - Jardim Seminário. Quem quiser mais informações sobre o atendimento no local ou quiser fazer doações pode entrar em contato pelo telefone: 3365-0590.

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