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Cidades

Em nome da fé, cristãos renunciam a emprego e família para viver em comunidade

Paula Vitorino | 12/07/2011 15:41

Jovens e adultos mudam radicalmente a vida para seguir chamado e se dedicar as novas comunidades Católicas

Fundadora, com o símbolo de São Francisco de Assis, padroeiro da comunidade. (Fotos: João Garrigó)
Fundadora, com o símbolo de São Francisco de Assis, padroeiro da comunidade. (Fotos: João Garrigó)

Viver em comunidade e para a comunidade, abrindo mão de família, profissão e amigos. A possibilidade pode parecer loucura aos olhos da maioria, mas é uma realidade para muitos fiéis consagrados as Comunidades Católicas de Vida e Aliança. São jovens e adultos que se sentem chamados a viver da providência de Deus, sem precisar fazer os votos de celibato.

“Se você não olha com os olhos espirituais realmente é loucura. Imagina uma jovem largar seu emprego, sua vida, para viver em comunidade. Mas é um chamado, viver em comunidade é algo que me realiza”, declara Arlene Aparecida Pinheiro Domingues, de 43 anos.

Ela é fundadora da Comunidade Irmãos de Assis Vida e Aliança, única de Campo Grande - reconhecida pela arquidiocese - com a chamada consagração de Vida, onde o membro mora no local e se dedica exclusivamente as missões.

Mas também existem as comunidades somente de Aliança, onde os consagrados vivem a missão e o carisma, mas continuam com sua “vida externa”, como trabalho e casa própria.

Arlene explica que o chamado é o mesmo, seja para o consagração a Vida ou Aliança.

“Os valores e o compromisso com o carisma da comunidade são vividos da mesma forma. Mas na Comunidade Vida o membro compartilha tudo que tem”, acrescenta.

A Capital conta com ao menos três novas Comunidades Católicas de vida e/ou Aliança, que tem o reconhecimento da arquidiocese. Entre elas, está a Boa Nova, que é uma Comunidade de Aliança, com a missão do anúncio da Palavra e completa neste semestre 20 anos de existência.

As comunidades são frutos da RCC (Renovação Carismática Católica) e se diferenciam pelos carismas específicos de cada uma. As atividades são regidas conforme a doutrina da Igreja Católica e, após período de acompanhamento da diocese, podem receber ou não o reconhecimento oficial como Comunidade.

“Nós devemos obediência a Igreja Católica, sua doutrina. Não somos um corpo estranho dentro da Igreja, somos reconhecidos pelo papa. E mesmo com a nossa capela e as celebrações diárias, vamos todos os domingos às missas em uma Paróquia”, explica.

Durante a Missa de Posse de Dom Dimas Lara Barbosa como arcebispo da Capital, Arlene representou as novas comunidades para agradecer o apoio da arquidiocese e reafirmar a missão de “despertar a fé nos corações de numerosos cristãos”.

Já o novo bispo, agradeceu durante a homília a atuação dos leigos consagrados. “Tenho grande apreço pela vida consagrada na igreja. Deus colocou muitas destas pessoas em minha vida para ensinar como é bom servir a Deus”, declarou.

Chamado - A comunidade Irmãos de Assis nasceu após o retorno de Arlene para o catolicismo e sua experiência em um retiro, junto com outros jovens. Por mais de 10 anos ela deixou a Igreja Católica e frequentou o espiritismo, além outras crenças, até que em 1995, na missa de dois anos da morte de sua mãe, sentiu o desejo de voltar.

“Vivia viajando, não pensava em voltar a participar da igreja. Mas tudo aconteceu muito rápido, fui tocada com a música do Filho Pródigo na Missa. Em meses eu estava como líder do grupo de jovens, pregando e tinha mudado todo o meu jeito, minhas roupas”, testemunha.

Arlene conta que começou a ouvir falar das novas comunidades em retiros e lendo, mas nunca pensou que viveria nada parecido, “não imaginava isso pra mim”.

Mas, em 1997, com a certeza de que esse era o seu chamado, Arlene e outros quatro jovens alugaram uma casa no bairro Santo Amaro e iniciaram a experiência de viver em comunidade. O salário, as roupas, sapatos, comida, tudo era compartilhado.

Na época, com 30 anos, um filho de 6 anos e o emprego de gerente de uma empresa, a experiência mudou completamente sua vida e rumos.

“Cada um tinha sua profissão, eu ganhava 13 salários mínimos. Desde os meus 24 anos vivia sozinha, depois da morte dos meus pais, tinha minha total independência. Aprendi a dar satisfações novamente, viver em comunidade”, diz.

Ela afirma que aprendeu a viver em comunidade, como uma grande família, e mesmo com as dificuldades “nunca pensei em sair”.

“A gente é uma grande família, tem pensamentos diferentes, brigas. Mas é um chamado”, diz.

O outro passo foi decidir se dedicar exclusivamente a comunidade e largar o emprego. “Sentia que vivia a minha vocação pela metade”, afirma.

A primeira sede da comunidade foi construída em um terreno de sua família, onde moravam ela, o marido, filho e novos membros da comunidade.

Comunidade tem 11 consagrados a Vida, que se dedicam exclusivamente a missão.
Comunidade tem 11 consagrados a Vida, que se dedicam exclusivamente a missão.

Escolha e espera - Durante a missão da Irmãos de Assis, vários jovens também sentiram o chamado e renunciaram a vida tida como normal pela vida missionária, como o consagrado Vida, João Luiz Gomes Brandão, de 27 anos.

Ele decidiu abrir mão de sua profissão de administrador há 10 anos para seguir apenas o coração. “Senti que minha felicidade não estaria completa se não seguisse minha vocação”.

O jovem conta que lutou contra o próprio chamado por algum tempo, viveu a experiência de ser Aliança, terminou a faculdade, mas teve de optar entre seguir com o mestrado ou viver exclusivamente para a comunidade.

“Chorava, me sentia muito mal quando via as necessidades nossas e percebia que não podia fazer nada. Mas sabia que a escolha exigia muitas renúncias”, diz.

João conta que a ideia de ficar um ano sem namorar – exigência para o processo de consagração –, não ter mais o tempo livre para administrar conforme sua vontade, o próprio salário e viver junto com pessoas desconhecidas eram desafios.

Assim como a fundadora, o jovem também tinha experimentado a independência já aos 15 anos, quando morava com o irmão na Capital e promovia “festinhas” em uma casa vazia.

“Alugávamos os quartos como se fossem motéis, vi muita gente usando droga, bebendo, mas graças a Deus fui preservado de muita coisa”, confessa.

Após decidir viver por completo a vocação, João também aprendeu a esperar e renunciar.

“O que pra mim era impossível, amadureci e compreendi o que realmente queria pra mim. Percebi que não queria ficar só por ficar com uma menina, então decidi esperar e por cinco anos não tive nenhum relacionamento”, conta.

O jovem diz que vive o hoje, mas com a certeza de fez a escolha que lhe trouxe felicidade. “Não sei como será amanhã. Mas agora sei que estou realizado, fiz o que senti no coração. Sinto falta de alguns momentos de lazer que tinha antes e às vezes é difícil dar conta de tanto trabalho, com pouca gente pra ajudar, mas são dificuldades que qualquer um enfrenta também”, diz.

Comunidade - Onze pessoas vivem na Comunidade de Vida da Irmãos de Assis, mas ao todo são 25 consagrados a comunidade. Há um ano a sede fica no bairro Tiradentes, onde os membros também cuidam do projeto social Lar do Ludinho.

Mais de 100 crianças de famílias de baixa renda são atendidas em duas turmas no Lar. A comunidade também realiza trabalhos com pacientes com hanseníase do bairro Nova Lima e trabalhos de evangelização com jovens, promovendo o retiro Rumo Ao Céu. Todas as atividades são realizadas por meio de doações e eventos.

Quem sentir o desejo de ser um consagrado, passa por um período formativo de discernimento de 6 meses até um ano. A formação e os retiros acontecem na chácara da comunidade, na saída para Rochedo.

“A pessoa conhece nosso carisma e nós o conhecemos. Assim descobrimos se esse é realmente seu chamado”, explica. Todo o processo de consagração tem duração de 5 anos.

Serviço - Contato da Comunidade Irmão de Assis - www.irmaosdeassis.com.br – Telefone 3352-1955 - 3028-1955 / Contato da Comunidade Boa Nova - www.comunidadeboanova.com.br - Telefone (67) 3366-3234.

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