De carteira limpa, jovens “nem-nem” buscam vaga para pagar faculdade
Seleção da Prefeitura para 60 vagas em call center foi a saída para quem ouve não diário, mas precisa muito da grana
A universidade é pública, mas o púbico vem da escola particular. Essa contradição à brasileira é o que encaminha milhões de jovens para o lucrativo mercado das universidades particulares no país. Os “nem-nem” - como é chamada essa juventude que nem estuda, nem trabalha - foram até o centro comercial Jacarezão, localizado na Avenida Costa e Silva em Campo Grande, na manhã desta quinta-feira (12) em busca do primeiro emprego para poder pagar a faculdade.
Seleção da Prefeitura de Campo Grande – parceria da Subsecretaria de Políticas para a Juventude, Jacarezão e a empresa BTCC – oferece 60 vagas para essa área que tanto emprega no Brasil. Com concorrência de 2 candidatos por vaga, 120 jovens entre 18 e 22 anos tentam tirar a imagem limpa da carteira de trabalho.
Organizador da seleção e profissional de relações institucionais, Carlos Roboton afirma que a concorrência é leve, mas a reprovação é grande pela falta de qualificação. Quando o poder público entra na jogada, comenta, a oportunidade chega à mais gente.
“O alcance do poder público é muito grande, mas o mercado não oferece formação. Essa geração está totalmente dispersa, é uma questão de engenharia social. A base familiar se perder como hierarquia, não conseguem ter um direcionamento”, opina. “A concorrência é tranquila porque foi pouco divulgado”, disse.
A prova consiste em avalição com 30 questões: 10 de língua portuguesa, 10 de matemática e 10 de conhecimentos gerais, com duração de uma hora e meia. A reprovação, afirma, pode chegar a 50%.
Analista de recursos humanos da empresa que realiza a contratação, Ana Cláudia, 31, afirma que além da prova em si, a reprovação, muitas vezes, leva em conta “identificar-se com o trabalho”. “Tem a questão da avaliação e da identificação com a área”, diz.
Uma mãe que pediu para não ser identificada, professora de 40 anos, foi acompanhar o filho de 22 nesta manhã. Ele já começou a estudar psicologia em universidade particular e se conseguir o trabalho, pode ajudar a mãe a pagar a faculdade.
“Eu gostei da oportunidade. É uma chance de entrar no mercado e também dá qualificação. Ele faz psicologia e pode ajudar em casa”, afirma.
A secundarista de 16 anos Evelin Lauane Gomes já teve um pequeno prelúdio do que a espera. Ela que já trabalhou, “está no acerto” e busca outra oportunidade, foi acompanhar um amigo de São Paulo, de 22, que está “desesperado” por trabalho. “Foi minha mãe que viu e ligou para ele”, comentou.
Jéssica de Matos, 18, tenta o primeiro trabalho para pagar o curso de psicologia. “Está difícil, estou ouvindo muito não. Fiquei sabendo pelo jornal hoje de manhã e vim correndo”, explicou ela, que teve a facilidade de chegar até a Avenida saindo da Vila Carlota.
Com 19 anos, Maria Danielle quer ser bióloga e esperava ansiosa pelo resultado da avalição. A faculdade à distância que começou a cursar precisa ser paga. Veio de escola pública e não alcançou a nota exigida para ingressar no curso de biologia das universidades públicas de Mato Grosso do Sul.
“Estou procurando [emprego] desde o começo do ano. Para me ocupar e ajudar a pagar a faculdade. Eu entrego documentos e nunca chamam, falam que querem alguém com experiência”, relatou ela, que veio do bairro Nova Lima até o Terminal Morenão e chegou até ali às 7h.
