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Interior

Enfermeiro e índio guarani, Cassiano morreu um dia antes da vacina chegar

Profissional da linha de frente, indígena dedicou três das suas cinco décadas de vida a cuidar das pessoas e não teve 2ª chance

Anahi Zurutuza | 19/01/2021 14:00
Cassiano Ribeiro Alvarenga ao lado da mulher, Máxima Vera (Foto: Facebook/Reprodução)
Cassiano Ribeiro Alvarenga ao lado da mulher, Máxima Vera (Foto: Facebook/Reprodução)

“É o momento de refletir na vida, olhar que somos um passageiro neste mundo”. A postagem do dia 4 de janeiro na página de Cassiano Ribeiro Alvarenga, de 50 anos, parecia prever o que estava por vir. Lutando para vencer os sintomas provocados pelo coronavírus, poucos dias depois que a foto com o cateter de oxigênio, acompanhada da reflexão, foi divulgada no Facebook, o enfermeiro foi entubado, chegou a ter melhora, mas não resistiu à covid-19.

Depois de 38 anos dedicados à saúde indígena e 21 dias lutando contra a doença, Cassiano encerrou sua missão no planeta nessa segunda-feira (18). Como numa ironia do destino, partiu no dia da chegada da vacina a Mato Grosso do Sul, um dia antes das doses da CoronaVac desembarcarem em Dourados.

O enfermeiro destinou três das suas cinco décadas de vida a cuidar da comunidade. Durante a pandemia, foi incansável no trabalho de proteger indígenas da Aldeia Bororó e em cuidar de quem havia contraído a doença, contam os amigos.

De acordo com o médico, Gabriel Valagni, 29 anos, Cassiano tirou uns dias para descanso e logo que voltou, já com sintomas, foi dispensado do trabalho para investigar se estava com a covid-19. Estava. Foi internado no dia 29 de dezembro, primeiro no Hospital da Missão Evangélica Kaiowá, até ser transferido para o Hospital Universitário.

Foto postada  em 4 de janeiro com a legenda: "olhar que somos um passageiro neste mundo” (Foto: Facebook/Reprodução)
Foto postada  em 4 de janeiro com a legenda: "olhar que somos um passageiro neste mundo” (Foto: Facebook/Reprodução)


“Foi muita rápida a evolução. Em menos de duas semanas de internação, ele foi para o tubo”, relata o médico e colega de trabalho, Gabriel.

Cassiano não teve chance. Se estivesse bem de saúde, seria um dos primeiros da fila da vacina em Dourados, já que além de ser guarani-kaiowá e enfermeiro, tinha comorbidades. “Ele tinha diabetes e hipertensão, ambas controladas”.

Gabriel diz que está sendo muito difícil não só para a família, para a comunidade, mas para os colegas de trabalho aceitarem a morte de Cassiano. “A gente está em luto. Ele era o enfermeiro do meu posto, meu companheiro de trabalho”.

O médico afirma que, porém, ele e a equipe não permitirão que a morte do enfermeiro seja esquecida. “Estamos devastados, mas não vamos deixar que a morte dele ser vão. Vamos conscientizar e fazer essa campanha de vacinação”.

Segundo Gabriel, ainda não há doses no local, mas a meta é vacinar o mais rápido possível assim que as vacinas chegarem. “A gente ainda não recebeu aqui no polo base de Dourados, nós sabemos que chegou no município, mas a gente aqui do enfrentamento ainda não recebeu. Estamos esperando”.

Na Reserva Indígena de Dourados, onde estão as aldeias Jaguapiru e Bororó, vivem 18 mil indígenas.

O Campo Grande News não conseguiu contato com familiares de Cassiano, mas conforme postagens no Facebook, ele deixa a esposa, Máxima Vera, e filhas.

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