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Interior

Fora da terra demarcada, 200 índios terenas ficam sem vacina na Aldeinha

“Moramos na na parte de cima, onde não é reconhecida pela Funai”

Aline dos Santos | 19/04/2021 12:32


Edmilson George mora na parte não demarcada e ficou sem vacina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Edmilson George mora na parte não demarcada e ficou sem vacina. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sempre uma batalha, a falta de demarcação como terra indígena de parte da Aldeinha, em Anastácio, deixou 200 pessoas sem vacina contra a covid-19. Num contexto marcado por recusa dos indígenas de outras aldeias em receber o imunizante, esse grupo agora tenta ser reconhecido como indígena aldeado, posto que a comunidade do terenas chegou primeiro, mas agora foi parar no Centro de Anastácio, asfixiada pelo crescimento da área urbana.

“A cidade diminuiu muito o espaço territorial. Moramos ns na parte de cima, onde não é reconhecida pela Funai  [Fundação Nacional do Índio] mas somos todos documentado pelo órgão. E, inclusive, votamos na eleição para cacique”, afirma Edmilson George, que mora na parte não demarcada da Aldeinha e ficou sem vacina.  A Funai só reconhece como aldeia quatro quarteirões.

De acordo com ele, as famílias que estão na terra sem demarcação também chegaram ao local em 1933, quando foi fundada a Aldeinha.  Edmilson conta que os terenas estão fazendo levantamento para verificar o número exato de  adultos acima de 18 anos ficaram se vacina.

Ele afirma que a situação foi comunicada ao MPF (Ministério Público Federal) e Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), com sede em Campo Grande.

À reportagem, o Ministério Público informou que não recebeu representação oficial sobre a situação relatada junto ao gabinete responsável pela tutela indígena na região de Campo Grande (que engloba Anastácio).

O Campo Grande News não conseguiu contato com o Distrito Sanitário Especial Indígena.

Diálogo e fake news – Coordenador do Conselho do Povo Terena e membro da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Aberto Terena avalia que a recusa em vacinar é decorrente de fake news, incentivada até pelo governo federal, e falta de diálogo prévio. “Para que os indígenas do nosso Estado estivessem preparados para receber a vacina. Com um planejamento, antecedendo à chegada da vacina, seriam mais receptivos”, diz.

Aldeinha fica em Anastácio. (Foto: Reprodução/Documentário: Aldeinha: (re)existindo)
Aldeinha fica em Anastácio. (Foto: Reprodução/Documentário: Aldeinha: (re)existindo)

Ele conta que a tia de 92 anos estava com medo de tomar a vacina. “Sorte que eu estava na casa dela. Minha tia disse que estava com medo.  Expliquei que eu já tinha tomado a vacina e estava bem”. Ambos tomaram as duas doses, sem relato de efeitos colaterais.

Médica infectologista e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Mariana Croda destaca que a campanha de vacinação contra a influenza (gripe) tem cobertura de acima de 95% entre os indígenas. Desta vez, com a chegada do novo imunizante, a recusa pode estar relacionada com as informações mentirosas que amedrontam dentro e fora das aldeias.

Além das fake news, que resultam em grande desconfiança, a professora lembra que a população indígena aldeada recebeu vacinas para todos acima de 18 anos. “Pode ser também que os jovens tenham mais confiança que não terão complicações”, afirma.

Desta forma, será preciso medir o grau de recusa quando a vacina  for liberada para toda população jovem.

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