Funcionários de usina são acusados de destruir barracos de sem-terra
Líder do MSTB disse que PM e oficial de Justiça autorizaram empregados da Usina São Fernando a derrubarem barracos montados em fazenda arrendada pelo filho de Bumlai, em Dourados

Funcionários da Usina São Fernando são acusados de destruir barracos de trabalhadores sem-terra montados na Fazenda São Marcos, no município de Dourados, a 233 km de Campo Grande, durante reintegração de posse da área, cumprida embaixo de chuva na manhã desta terça-feira (15) pela Polícia Militar e DOF (Departamento de Operações de Fronteira).
Arrendada pela usina para plantio de cana, a fazenda foi ocupada no dia 4 deste mês por pelo menos 500 pessoas ao MSTB (Movimento Sem Terra Brasileiro). No dia 9, a juíza Larissa Ditzel Cordeiro Amaral, da 8ª Vara Cível de Dourados, concedeu reintegração de posse, solicitada por Fernando de Barros Bumlai, um dos sócios da usina e filho do pecuarista José Carlos Bumlai, preso atualmente na Operação Lava Jato.
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Ao Campo Grande News, um dos líderes do MSTB, que se identificou apenas como Douglas, disse por telefone nesta terça que o major da Polícia Militar que comandava a operação e o oficial de Justiça que foi ao local para acompanhar a reintegração permitiram que pelo menos 70 empregados da usina entrassem no acampamento para destruir os barracos.
“Fizemos um acordo com o comandante da operação e com o oficial de Justiça e teríamos prazo de duas horas para tirar os barracos da fazenda e montar do lado da rodovia, onde já existem outros barracos. Mas os funcionários da usina entraram e destruíram tudo. As famílias iriam aproveitar a madeira e a lona, mas agora estão ao relento, embaixo de chuva”, afirmou.
Segundo Douglas, pelo menos 200 barracos foram destruídos. “Acabaram com tudo, até as camas foram destruídas. O comandante da operação não podia fazer isso com os trabalhadores”, reclamou.
Choque em ônibus da usina – Douglas criticou também a utilização de um ônibus da Usina São Fernando para deslocamento da tropa de choque da Polícia Militar, que foi ao local para garantir a reintegração de posse.
“Neste momento [9h10] o choque ainda está aqui, dentro do ônibus. Onde já se viu isso? A Polícia Militar usar ônibus de uma empresa para cumprir uma reintegração de posse?”, questionou o líder do MSTB.
A ocupação – As famílias ligadas ao MSTB estavam acampadas nas margens da BR-463 e começaram na semana passada a se mobilizarem para ocupar a fazenda de plantação de cana, arrendada pela Usina São Fernando.
Douglas disse na época que a área foi escolhida porque a usina usou dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para plantar a lavoura e não pagou o empréstimo. “Tudo que foi desviado tem que ser repatriado para aqueles que menos têm e mais trabalham. Essa terra tem cana de uma usina falida, que deve bilhões, e esse é um dinheiro do povo”, afirmou.
Localizada no trevo de acesso de Dourados ao município de Laguna Carapã, a fazenda é uma das áreas arrendadas pela São Fernando para plantio de cana. Assim como Bumlai e seus filhos, a indústria também está implicada na Operação Lava Jato.
No mesmo dia que Bumlai foi preso, em novembro, duas equipes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão na São Fernando, decretados pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal em Curitiba. Documentos e arquivos de computador foram apreendidos.
Nesta segunda-feira (14), o MPF (Ministério Público Federal) denunciou José Carlos Bumlai, o filho Maurício Bumlai, e a nora, Cristiane Dodero Bumlai, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
Conforme a denúncia, Bumlai fez um empréstimo do banco Schahin no valor de R$ 12 milhões em 2004. Ele teria repassado o dinheiro ao PT. O financiamento não foi pago pelo pecuarista, que utilizou a suposta influência com o ex-presidente Lula para beneficiar o Schahin com um contrato de US$ 1,6 bilhão para fornecer navios-sonda para a Petrobras, em 2009. Segundo o MPF, Bumlai simulou a venda de embriões para provar o pagamento do empréstimo.