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Interior

Investigador usou viatura da Polícia Civil para furtar 173 kg de maconha

Eduardo Diniz era o plantonista que recebeu a droga apreendida pela PM; nervosismo e outros indícios denunciaram policial

Silvia Frias | 30/08/2019 12:38
Circuito de segurança flagou passagem de viatura, em direção a assentamento (Foto/Reprodução)
Circuito de segurança flagou passagem de viatura, em direção a assentamento (Foto/Reprodução)

Uma viatura da Polícia Civil foi usada para a substituição de 173 quilos de maconha da delegacia de Itaquiraí por outros sete pacotes, com droga de menor qualidade. A descoberta faz parte da investigação que apontou o investigador Eduardo Luciano Diniz, 32 anos, como principal responsável pelo tráfico de drogas, ocorrido em junho deste ano. Além do uso do veículo, o policial foi considerado principal suspeito desde o início, por conta do nervosismo e inconsistências no depoimento. 

A polícia descobriu que a droga apreendida no dia 8 de junho foi substituída por maconha de menor qualidade pelo policial civil, com apoio de outros dois homens: Moisés Lopes Ferreira, 37 anos, e Cristiano da Silva Marques, 32 anos. Todos estão presos e foram denunciados pelo MPE (Ministério Público Estadual) no dia 2 de agosto por tráfico de drogas, associação ao tráfico e receptação.

A averiguação do depósito foi pedida pela DGPC (Direção Geral da Polícia Civil), depois que 101 quilos de cocaína foram furtados da delegacia em Aquidauana. A polícia determinou que as delegacias cumprissem a portaria de 14 de fevereiro de 2017, que disciplina os procedimentos para destruição de drogas ilícitas. Também foi recomendado o reforço na segurança das delegacias e a conferência da quantidade armazenada.

No dia 12 de junho, o escrivão foi até o depósito conferir as apreensões guardadas no depósito e notou a diferença das embalagens. Havia pilhas de tabletes de maconha envoltas em sacos de nylon verde e outras em sacos de ração amarelos, que não pareciam do mesmo lote.

A droga na embalagem verde fazia parte da apreensão do dia 8 de junho, feita pela Polícia Militar, na BR-163, depois que o traficante abandonou um veículo GM/Montada Spor carregado com 559 quilos de maconha e 15 quilos de Skank.

Todos os investigadores lotados na delegacia foram interrogados e, inicialmente, um deles chamou atenção: Eduardo Luciano Diniz estava nervoso e era o plantonista no dia que a PM levou a apreensão feita na BR-163.

Nos depoimentos, os colegas também relataram a reação dele depois que constataram a diferença da cor dos pacotes. “A droga apreendida está aqui, a droga apreendida está aqui!”, repetia e gesticulava. De todos, foi o único que disse que os pacotes amarelos foram entregues pelos PMs, o que foi contestado pelos outros e também por meio de imagens do veículo.

Parte da droga no depósito, apreendida em ação da PM (Foto/Reprodução)
Parte da droga no depósito, apreendida em ação da PM (Foto/Reprodução)
Na substituição, maconha de menor qualidade foi colocda em sacos de ração (Foto/Reprodução)
Na substituição, maconha de menor qualidade foi colocda em sacos de ração (Foto/Reprodução)

Eduardo passou a ser o principal suspeito. Na investigação, também foi descoberto que o investigador usou a viatura Blazer na madrugada do dia 9 de junho e não relatou para onde foi. O fato foi constatado pelo plantonista seguinte, que tinha como hábito checar os relatórios de saída e notou que a viatura saiu nos dias 8 e 9 de junho e rodou 8 quilômetros sem que o fato tivesse sido informado.

O grupo de investigação pediu imagens do circuito de segurança de comércios em Itaquiraí e flagrou a viatura na rua, na madrugada de 9 de junho, por volta das 2h. Somente depois de questionado, Eduardo disse que foi verificar ocorrência na BR-163, mas dirigia em direção oposta.

Além de investigar a conduta de Eduardo, a Polícia Civil também procurava por comparsas e averiguou a procedência dos sacos amarelos de ração animal usados para embalar a maconha. Nas lojas agropecuárias da região, por meio da data e lote da ração, encontraram o comprador: Cristiano da Silva Marques.

Segundo apuração policial, a droga teria sido levada para a chácara de Moisés Lopes Ferreira, no Assentamento Indaiá, na zona rural de Itaquiraí. A localização batia com o trajeto da viatura, conforme as imagens do circuito de segurança.

A perícia encontrou vestígios de maconha na viatura e na chácara de Moisés. Na propriedade rural também foi encontrada parte da embalagem verde originalmente usada para embalar a maconha. A polícia averiguou que 173 quilos foram levados da delegacia e substituídos por sete embalagens de maconha seca, de menor qualidade, totalizando 200 quilos.

Foram expedidos mandados de prisão para os três, mas o policial só foi preso quase um mês depois, no dia 15 de junho, depois que se entregou. Ele está detido na 3ªDP (Delegacia de Polícia) de Campo Grande, no Carandá Bosque.

Os três foram indiciados por tráfico de drogas, associação ao tráfico e receptação. No processo, consta o depoimento de Eduardo, que preferiu manter-se calado e somente responder em juízo. O advogado dele, José Roberto da Rosa, protocolou defesa prévia, que nega que ele tenha qualquer envolvimento no crime, sendo profissional que sempre “se pautou com dignidade e decoro policial”.

A defesa de Moisés e Cristiano também negam participação e, no caso do dono da chácara, acrescentou ainda que a denúncia não é consistente para atestar o envolvimento dele.

Maconha havia sido apreendida na BR-163, no dia 8 de junho (Foto/Reprodução)
Maconha havia sido apreendida na BR-163, no dia 8 de junho (Foto/Reprodução)
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