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Interior

Marido com comorbidades supera, mas Eugênia sucumbe à covid-19

Uma mesma família conhece a dor provocada pelo novo coronavírus e também a alegria de vencê-la

Lucia Morel | 04/08/2020 07:10
Luís e Eugênia, na formatura de um dos nove netos. (Foto: Arquivo da Família)
Luís e Eugênia, na formatura de um dos nove netos. (Foto: Arquivo da Família)

Em seus últimos minutos de vida, Eugênia Veiga Moraes, de 71 anos, pediu ao marido, que estava internado ao seu lado, para que cuidasse dos seus netos. A lembrança faz a filha de Eugênia, Márcia Rogélia Moraes Lira, 50 anos, chorar.

Morta em 28 de julho com covid-19, a mãe de cinco filhos, tem nove netos, todos muito amados.

Márcia conta que a morte da mãe foi totalmente inesperada, principalmente porque apesar de idosa, Eugênia era sadia, sem comorbidades.  O pai, de 72, tem problema cardíaco, diabetes e hipertensão e era a verdadeira preocupação da família em relação ao possível contágio com o novo coronavírus. E ele foi infectado antes dela.

“Meu pai ficou pior na verdade, teve mais sintomas. Febre, tosse, dor no corpo, dor de barriga, fraqueza nas pernas”, contou a filha, lembrado que o pai, Luís Carlos Moraes, foi internado na quinta-feira, 23 de julho e a mãe, um dia depois e ficaram lado a lado na enfermaria de covid-19 da Santa Casa de Bataguassu, município onde moram.

Isso, até Eugênia piorar, quatro dias depois. Em 28 de julho, ela passou mal, teve um desmaio, mas “voltou”, segundo Márcia. Logo depois, ela já seria levada para um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas antes, pediu ao marido. “Cuida dos meus netos”.

Eugênia com as filhas. (Foto: Arquivo de Família)
Eugênia com as filhas. (Foto: Arquivo de Família)

Ela não sabia, mas talvez já sentisse que eram seus últimos minutos. Saindo dali, acompanhada da equipe médica para ser entubada, Eugênia não resistiu, depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória ao começar o processo de entubação.

Um dos sintomas da covid-19 é a falta de apetite e conforme a filha, tanto Eugênia quanto Luís não comiam há pelo menos três ou quatro dias, mesmo no hospital. “Eles não sentiam fome”, diz Márcia.

Ironia ou não, o pai recebeu alta no mesmo dia em que a mãe faleceu. Do hospital, ele e a filha saíram direto pro cemitério. “Meu pai, quando saiu, foi direto pra enterrar minha mãe. Só podiam ir duas pessoas e ele mal conseguia andar, porque não comia nada há dias”, relembra.

Para Márcia, não existe uma explicação lógica para o fato da mãe, que aos 71 anos, “não tomava nenhum remédio”, ter sido levada e o pai, já tão desgastado com vários tratamentos de saúde, ter vencido a covid-19. “Não tem como explicar. A gente vê muitos casos de pessoas sem comorbidades e que acabam falecendo. Essa doença que é assim, não tem como explicar”, repete.

Assim, o consolo é lembrar de como a mãe tinha fé e de como isso ficará gravado na vida dos filhos. “Era uma mulher de muita fé. Tudo ela colocava Deus na frente, falava que temos que crer, se crermos, Deus nos dá o que precisamos”, sustenta Márcia, enfatizando ainda que “ela prezava demais os netos”.

Família reunida. (Foto: Arquivo da Família)
Família reunida. (Foto: Arquivo da Família)

“O que ficou muito marcado pra mim nesses últimos dias é que ela se preocupava mais com meu pai do que com ela, por causa da condição dele. Ela sempre deixava de cuidar de si, para cuidar dele”, disse a filha, que mesmo não entendendo porquê um ficou e outro foi levado, se alegra e se entristece pelo mesmo motivo, já que vencer a covid-19 é uma vitória tamanha para um pai com tantas comorbidades, mas perder a mãe, por outro lado, é uma saudade eterna.

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