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Interior

Operação que sacudiu Dourados completa dez anos sem ninguém na cadeia

Em 1º de setembro de 2010, PF prendeu prefeito, secretários e vereadores de Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 01/09/2020 15:21
Ari Artuzi, ex-prefeito de Dourados e apontado como chefe de esquema de corrupção; ele morreu em 2013 (Foto: Arquivo)
Ari Artuzi, ex-prefeito de Dourados e apontado como chefe de esquema de corrupção; ele morreu em 2013 (Foto: Arquivo)

Há exatos dez anos, em 1º de setembro de 2010, Dourados foi sacudida pela Operação Uragano, maior escândalo político da história da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul localizada a 233 km de Campo Grande.

Às 6h da manhã daquele dia, policiais federais prenderam 28 pessoas da cidade, entre políticos, servidores municipais e empresários. Entre os presos estavam nove dos doze vereadores, o então prefeito Ari Artuzi e o então vice-prefeito Carlinhos Cantor.

Os mandados de busca e de apreensão marcavam o desfecho de investigação iniciada meses antes e que teve a colaboração direta do braço direito de Ari Artuzi na prefeitura, o então secretário de Governo Eleandro Passaia.

Como colaborador da PF, o jornalista gravou o prefeito, colegas secretários, vereadores e empresários cobrando, recebendo e pagando propina envolvendo acordos fraudulentos com a prefeitura.

Peça-chave para derrubar o esquema de corrupção montado por Ari Artuzi (morto de câncer em agosto de 2013), Passaia escreveu um livro denominado “A Máfia de Paletó” em que conta detalhes do esquema.

Algumas páginas foram suprimidas de última hora, supostamente para proteger algumas pessoas citadas. O livro, no entanto, não absolveu Passaia. Tempos depois a Justiça determinou a inclusão dele entre os réus do caso.

Impunidade – Uma década depois do escândalo que levou a cidade a ser administrada por um juiz por 30 dias e pela então presidente da Câmara Délia Razuk (atual prefeita) por quatro meses, 15 denunciados foram condenados, mas ninguém está preso pelos crimes apontados pelo Ministério Público com base na investigação da PF.

A operação foi desmembrada em pelo menos oito processos contra 60 pessoas denunciadas. Em uma das ações, por improbidade administrativa, todos foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça em maio de 2015. O Tribunal tomou a decisão por ver falha do MP em não denunciar Eleandro Passaia entre os demais envolvidos. Três anos antes o TJ já havia cancelado a delação premiada e mandado incluir Passaia entre os réus.

Em agosto do mesmo ano, o mesmo TJ negou trancamento da ação penal contra sete réus. Em junho do ano seguinte, eles foram condenados pelo juiz Rubens Witzel Filho, da 1ª Vara Criminal de Dourados, na primeira sentença no âmbito da Operação Uragano.

A condenação atingiu os empresários Nerone Maiolino Júnior, Celso dal Lago Rodrigues, que também é suplente de senador, Edson Freitas da Silva, Eduardo Takachi Uemura e Marcelo Marques Caldeira, o advogado Áureo Garcia Ribeiro Filho e o ex-assessor parlamentar Rodrigo Ribas Terra.

Em setembro de 2018, mais oito réus foram condenados pelo juiz da 2ª Vara, Marcus Vinícius de Oliveira Elias. As penas somadas ultrapassam 127 anos de reclusão, com regime inicial fechado, mas ninguém foi preso até agora, beneficiados por recursos às instâncias superiores.

Nessa sentença foram condenados os empresários Eliézer Soares Branquinho, Marco Aurélio de Camargo Areias, Geraldo Alves de Assis, Márcio José Pereira, Gilberto de Andrade, José Antônio Soares, Paulo Roberto Saccol e Marcelo Minbacas Saccol.

Famosos – As ações contra os demais envolvidos continuam em andamento. Em março deste ano, o ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou para a 2ª Vara Criminal em Dourados o inquérito contra o ex-deputado federal e atual secretário estadual de Saúde Geraldo Resende.

Marco Aurélio havia determinou ainda em 2018 que a investigação sobre Resende fosse repassada para a primeira instância, mas o político douradense entrou com recurso para manter o inquérito no STF. Entretanto, ele perdeu o recurso e o caso voltou para o juiz de primeiro grau.

Em dezembro de 2019, a defesa de Geraldo Resende afirmou que a decisão do STF retarda o reconhecimento da inocência do atual secretário de Saúde e que a denúncia contra ele foi “ato de vingança” tramado pela equipe de Ari Artuzi.

Situação semelhante já tinha ocorrido em 2016 com o ex-senador Delcídio Amaral, outro implicado na Operação Uragano. Em junho daquele ano, o STF também mandou o inquérito contra ele de volta para a primeira instância. Delcídio havia perdido o foro por prerrogativa de função após a cassação do mandato, em 10 de maio de 2016.

Exemplares do livro “A máfia de paletó”, lançado por jornalista que denunciou escândalo (Foto: Divulgação)
Exemplares do livro “A máfia de paletó”, lançado por jornalista que denunciou escândalo (Foto: Divulgação)


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