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Interior

Prefeito volta a ser citado em esquema nacional de desvio de dinheiro público

Em entrevista ao SBT, ex-namorada de doleiro revelou detalhes do esquema; Ludimar Novaes é citado também no inquérito da PF

Helio de Freitas, de Dourados | 25/03/2015 11:30
Ilustração com a foto de Ludimar Novaes usada no programa “Conexão Repórter”, do SBT (Foto: Reprodução)
Ilustração com a foto de Ludimar Novaes usada no programa “Conexão Repórter”, do SBT (Foto: Reprodução)

Ludimar Novaes (sem partido), prefeito de Ponta Porã, cidade a 323 km de Campo Grande, voltou a ser citado por suposta ligação com o esquema nacional de desvio de dinheiro de fundos de pensão através do investimento em papéis fraudulentos de empresas de fachada, desvendado em 2013 pela Operação Miquéias, da Polícia Federal.

Em entrevista ao programa “Conexão Repórter”, do SBT, exibido domingo à noite, a modelo Luciane Lauzimar Hoepers, ex-namorada do doleiro Fayed Traboulsi, revelou ter fechado “negócio” no valor de R$ 12 milhões com Ludimar Novaes. Fayed é acusado de comandar as ações do grupo em todo o país e Luciane tinha a missão de cooptar os prefeitos.

Há quase dois anos, quando o caso ganhou repercussão após a operação da PF, a imprensa nacional divulgou que Ludimar tinha sido “seduzido” pela modelo, uma loira alta de olhos azuis e corpo escultural.

Na época o prefeito negou as denúncias. “Não tenho qualquer participação em negociatas com a citada empresa investigada”, disse ele. Entretanto, Novaes confirmou ter sido procurado pela empresa, mas disse que passou o caso para a presidente do Previporã, o instituto de previdência dos servidores da cidade que faz fronteira com o Paraguai.

“Meio de trabalho” – Na reportagem de 52 minutos, levada ao ar no domingo à noite, Luciana Hoepers faz um tour por Brasília acompanhando o jornalista Roberto Cabrini e mostra mansões, iates e carros importados de luxo que seriam resultados do esquema de corrupção. A reportagem mostra uma lista de nomes de políticos – prefeitos e deputados – que teriam sido cooptados pelo esquema de Fayed Traboulsi. “Aqui [Brasília] corrupção não é vista como crime, é um meio de trabalho”, diz a modelo.

“Todos que foram procurados se corrompiam. Eles ganhavam comissão de 3% a 12% do valor investido. Teve prefeito que mudou a lei”, afirmou Luciane, revelando que recebia também “propostas indecentes” dos prefeitos em troca de agilizar os documentos.

Segundo ela, os prefeitos eram escolhidos após reuniões com congressistas que também receberiam propina do esquema. “Os deputados nos levavam aos prefeitos. Se a gente conseguisse chegar aos prefeitos sem passar pelos deputados tínhamos mais margem para negociar”.

A modelo Luciane Hoepers durante entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT (Foto: Reprodução)
A modelo Luciane Hoepers durante entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT (Foto: Reprodução)

Prefeito – O programa exibiu trecho de uma conversa de Luciane Hoepers com Ludimar Novaes, gravada pela Polícia Federal:

– Boa tarde, prefeito Ludimar?
– Sim!
– Prefeito, eu mandei para você uma relação, um e-mail... não sei se você chegou a receber sobre a relação de documentos pra gente dar andamento na conversa. Você chegou a receber o e-mail?
– Já recebi e já pedi as providências. Deve estar entregando essa semana ou semana que vem.

Segundo a modelo, Novaes e ela teriam fechado um negócio de R$ 12 milhões. Entrevistado por telefone, o prefeito negou: “O que foi feito foi simplesmente apresentado para a presidência do Instituto. A partir do momento que foi passado para o instituto, eu não sei de nada do que foi feito. Nunca falei com a direção do instituto a respeito de investimentos. Nunc falei em valores, nunca falei com ela. Isso foi tratado diretamente com eles e dentro da mais absoluta legalidade, sem qualquer tipo de acerto”.

Caderno de anotações – A reportagem de Roberto Cabrini mostra trechos do caderno de anotações de Fayed Traboulsi, apreendido pela Polícia Federal. A cidade de Ponta Porã aparece duas vezes, com valores de R$ 160 mil, o que indicaria pagamento de R$ 320 mil ao prefeito. O nome de Ludimar Novaes também consta no inquérito da PF.

O Campo Grande News procurou a assessoria de imprensa do prefeito Ludimar Novaes nesta quarta-feira, mas não conseguiu falar com o coordenador do setor, Ricardo Ramos Zacarias. Ele não estava na prefeitura, não atendeu à ligação feita a seu telefone celular e não respondeu ao recado deixado através do “Wattsapp”.

A operação – Deflagrada em setembro de 2013, a Operação Miquéias desarticulou um esquema de lavagem de dinheiro e teria movimentado R$ 300 milhões em um ano e meio, com prejuízo de R$ 50 milhões a fundos de pensão municipais.

De acordo com a PF, o esquema atribuído a Fayed Traboulsi incluía o aliciamento de agentes públicos para que as prefeituras investissem dinheiro dos fundos de pensão dos servidores em títulos indicados pela quadrilha. Com baixa remuneração, os investimentos causavam prejuízo aos fundos. Na época 20 pessoas foram presas. Todas estão soltas e o processo está em andamento na Justiça.

As investigações foram concluídas na semana passada e o inquérito enviado ao Tribunal Regional Federal.

Ludimar Novaes é citado no inquérito da Operação Miquéias; ele nega ter recebido propina (Foto: Divulgação)
Ludimar Novaes é citado no inquérito da Operação Miquéias; ele nega ter recebido propina (Foto: Divulgação)
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