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Cidades

Só ponto crítico contra enchente fica pronto até março

Redação | 09/01/2008 16:15

A prefeitura de Campo Grande decidiu priorizar os pontos críticos de alagamentos em dias de chuva para a condução das obras que estão sendo feitas nos córregos da cidade, diante do fato de ter começado as intervenções justamente no período menos indicado do ano, em meio à temporada de chuva. As obras nos córregos, que foram lançadas em junho do ano passado - mas só começaram efetivamente em setembro - estão andando a passos lentos, muitas vezes interrompidos pelas gotas que caem do céu. Aqui e acolá, é possível perceber estragos no que já foi feito, obrigando as equipes a retrocederem, em vez de avançar.

O secretário de Obras Públicas, João Antônio de Marco, diz que a previsão do município é que até março, coincidentemente quando termina a época chuvosa, estejam prontos os trabalhos nos pontos considerados críticos. O conjunto da obra, de acordo a previsão do secretário, só deve estar terminado em maio. Essa ainda é uma expectativa otimista, pois o andar da carruagem sugere que as chuvas que já ocorreram e as que vem por aí podem frustrar os planos, como admitiu o engenheiro de uma das 11 construtoras responsáveis pelas obras, Antoine Hennadpgil, da Encalso. Segundo ele, desde que a empresa começou a obra numa área do córrego Prosa, em "metade do tempo choveu". O engenheiro confirmou que foi preciso refazer pontos de obra, mas não deu detalhes.

Quem percorre a margem do córrego vê, em pouco tempo, pedaços de concreto despencados nas edificações novas que estão sendo feitas, como paredes nas laterais do leito do manancial que tem a função de dar velocidade à água, auxiliada pelo afundamento do leito, quando ela vier com força, para ajudar no escoamento.

"Gambiarra - Em outro trecho, também do Córrego Prosa, próximo às ruas Padre João Crippa e José Antônio, os responsáveis saíram-se com uma solução que cheira à popular gambiarra. Como o barranco que sustentava o gabião (parede de pedras cercada por tela), estava para despencar e a obra de verdade ainda demoraria a chegar ali, adotaram uma solução paliativa. Jogaram uma mistura de concreto e pedras sobre o gabião, formando uma camada que chama a atenção principalmente pela feiúra.

"Só pode ser provisório", comentou ao passar no local a decoradora Inês Ferreira Marques, de 44 anos, moradora da região. "Eu não sou especialista. Mas quando vi isso aí pensei que não pode ser definitivo", concordou o dono de uma eletrônica quase em frente ao local, Davi dos Santos, de 56 anos. O secretário De Marco esclarece que de fato o que foi ali não é uma "solução de obra" e sim uma alternativa para que o barranco não despenque, feita apenas para proteger a pista de eventuais problemas e não para controle de enchente.

Diques - Sobre eventuais riscos de que haja perdas nas obras já realizadas, caso ocorram chuvas fortes, o secretário admite que esse risco existe, mas diz que ele hoje é menor do que já foi antes. Isso, segundo ele, por causa das duas barragens em fase de acabamento ao longo da avenida Via Parque, onde, ao fim das intervenções, deverão ser três diques. A primeira, próximo ao córrego Sóter, está pronta. A outra, mais próxima a avenida Afonso Pena, está em fase final. A terceira, entre essas duas anteriores, ainda não foi iniciada.

Essas obras também estão com atraso. Em outubro, o próprio secretário havia estimado que em dezembro estariam prontas as três barragens. Hoje, ele disse que a última deverá demorar ainda 45 dias.

Conforme a avaliação técnica, os diques terão função essencial no controle de enchente em Campo Grande, porque os problemas que a cidade enfrenta hoje são atribuídos ao crescimento vertiginoso que a cidade teve nos arredores da Via Parque, onde antes havia apenas vegetação. Como a região se urbanizou, o terreno foi impermeabilizado (com asfalto e calçamento das residências), e a água foi parar no córrego Sóter, que desemboca no Prosa, que não tem dado conta da vazão.

Além das três barragens na Via Parque, uma no lago do Parque das Nações Indígenas também é apontada como solução para o problema, uma vez que o lago também ajuda a absorver água quando chove na cidade, mas está com a capacidade ultrapasada em relação à época em que foi implantado, devido ao crescimento da região vizinha.

Outra intervenção é na avenida Afonso Pena, num ponto nobre da cidade, o cruzamento com a Paulo Coelho Machado (a antiga Furnas), onde uma depressão forma um lago quando chove, que já colocou em risco a vida de motoristas que passavam pelo local durante período de chuvas. Nesse trecho, já foi feita a drenagem na Afonso Pena. Na antiga Furnas, a correção do ponto de alagamento já deveria ter sido feita, mas as obras foram suspensas, por um motivo mercantil. O secretário informou que elas foram paradas a pedido do Shopping Campo Grande, em razão do período de fim de ano, o mais movimentado para as vendas no local. A retomada, conforme De Marco, é para breve, e a conclusão também prevista até março.

Uma terceira frente de obras que está em andamento é ao longo do Rio Anhanduí, na região da rua Bonsucesso, na Vila Nhanhá, onde tem ocorrido alagamentos a cada vez que chove. Mas também ali, quem acompanha as obras, reclama da morosidade, como é o caso do vendededor Nelson Solano, que em 8 anos no local já viu pelo menos três alagamentos que chegaram, segundo ele, a "levar carros".

Solano é otimista quanto aos resultados do projeto, mas diz que a lentidão é que desanima. Ele mostra um trecho despencado de parede construída na lateral do córrego para criticar o fato de as obras começarem justamente quando a chuva estava por vir.

No aguardo - Na outra ponta, no córrego Prosa, próximo à José Antônio, o comerciante Hugo Nogueira, 53 anos, dono de uma oficina que coleciona alagamentos (três só em janeiro do ano passado), decidiu parar a reforma que estava fazendo no estabelecimento, para esperar a conclusão dos trabalhos da prefeitura. Nogueira, que não esquece as datas dos alagamentos de 2007 - "6, 28 e 30 de janeiro" - é matemático de formação e chegou a calcular o fluxo de água na região e dar palpites aos engenheiros, segundo ele para melhorar o projeto.

Nogueira está há 23 anos no local, desde o tempo em que não havia qualquer canalização no córrego Prosa. Ele também acredita que as obras vão dar certo. Mas como o vendedor vizinho ao Rio Anhanduí, acha que deveriam ter começado em outra época, de seca, como orienta qualquer pedreiro a quem vai fazer uma obra.

A resposta da prefeitura a essas críticas é que a culpa é da brasileiríssima entidade chamada burocracia. O secretário de Obras diz que os projetos são ainda do tempo em que o titular da pasta era hoje secretário estadual de Obras, Edson Girotto, mas que só saíram do papel no ano passado, por causa do tramite para serem aprovados no governo federal. Os recursos, estimados em R$ 25 milhões, são em sua maioria liberados pela Caixa Econômica Federal, por terem origem da União.

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