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Em Pauta

A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo

Mário Sérgio Lorenzetto | 16/03/2015 09:08
A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo

Os zumbis da República

O domingo das passeatas consagrou a falência do governo federal. O problema é que essa falência é um processo longo, demorado que vai perdendo pedaços com o passar do tempo. Alguns petistas estão com a tese de que quem foi para as passeatas são as mesmas pessoas que não votaram na Dilma. Um mero argumento para quem sabe que seu governo virou um morto-vivo. Está vivo porque alguém precisa realizar as profundas reformas, no campo da economia, que o país necessita. Está morto porque desinflou, aparentemente de maneira definitiva, sua antiga militância ao promover as reformas que tanto combateu durante a campanha eleitoral. Está vivo porque suas propostas e ações em favor dos mais depossuídos foi efetiva e exemplar. Está morto porque sua base fisiológica no Congresso, comandada por Eduardo Cunha, está em vias de aspirar apenas não ir para a cadeia.

O país se despede do antigo modelo iniciado no atual período democrático de cooptação de uma maioria parlamentar a qualquer custo, com prováveis inumeráveis fontes de recursos ilegais. O modelo de governabilidade apregoado por Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma faliu. Ele é intolerável para a maioria da população.
O país se despede de um modelo, mas quem construirá uma alternativa? Não há líderes que consigam empolgar a população. Aí reside o grande risco dessa democracia que ainda é nova e tem muitas reformas a realizar. Todos sabemos quais são as principais, mas sem líderes para conduzi-las.

A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo
A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo

"Ao bom combate". O Ministério Público Federal contra o Congresso Nacional

É verdade que a vitória de Eduardo Cunha nas eleições para a presidência da Câmara Federal é algo tão grandioso como a destruidora vitória da seleção alemã de futebol por 7 x 1. São vitórias que não se circunscrevem a um pequeno período e lugar. Criam ondas que crescem a cada instante. Ficam pairando sobre a razão e as emoções de todos. Não são esquecidas. Na essência, para os vitoriosos, há um aumento de forças que tende a crescer ainda mais. Difícil de reverter. Eduardo Cunha tornou-se uma força dentro do Congresso Nacional que pode ser comparada à de um rei medieval - pensa que tudo pode. Também é verdade que o "corpo político brasileiro" apresenta sérios problemas de mobilidade. Se entendermos que o corpo político é formado por pessoas comuns compondo o tronco, braços e pernas e os poderosos compondo a cabeça, não é difícil entrever uma dissincronia - o tronco e os membros movem-se para frente e a cabeça para trás. Como também é perceptível que um dos dois conjuntos sofrerá um trauma. As cabeças dos poderosos cairão sob a forma de um impeachment ou o movimento, com plenas liberdades, do tronco e membros serão imobilizados por algo que se assemelhe a uma ditadura. A compreensão que falta é a de que em uma democracia, todos, sem exceção, compõem o corpo político. Não há Dilma, Eduardo Cunha, Rodrigo Janot, ou quem quer que seja, acima das normas e das leis.

A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo
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A dura função do Janot e do Ministério Público Federal

A maioria dos políticos e empreiteiros que entraram na lista do Rodrigo Janot e que serão investigados começa a entrar em clima de pavor. Não lhes sai da cabeça que enfrentarão longo e caro processo e ao fim, provavelmente serão condenados. A ideia da cadeia, como aconteceu com a turma do mensalão, lhes tira o sono. Sabem muito bem que não contarão com o apoio da sociedade que pelo contrário, exige um rápido processo com um só fim - a dura vida em um presídio. Também são sabedores que só há uma tentativa a ser debatida no STF: estabelecer a diferença entre propina e doação eleitoral.

Janot e sua turma de procuradores têm o dever de puxar a corda que levará os políticos e empreiteiros para a cadeia. É um jogo de puxar corda muito antigo. Quem tiver mais força vence. A força de Janot e sua turma vem das ruas; equivocam-se aqueles que pensam que vem das leis. A leitura das leis, sem reflexão, sem entendimento, conduzirá os políticos e empreiteiros à vitória. Janot e sua turma por livre e espontânea vontade passaram em um dos mais difíceis concursos públicos que existem no Brasil, tornaram-se membros do Ministério Público Federal. A partir dessa data deixaram de ser cidadãos comuns. A eles pertence a primeira chave da cadeia (a segunda, e ainda mais importante chave, é de propriedade do STF). Eles têm por obrigação puxar a corda da cadeia com toda a força que a população está exigindo. Não podem titubear, não pode ser complacentes, não podem ser "molóides". A sociedade tornou-se intolerante para com a corrupção.

A falência de um governo morto-vivo consagrada pelas passeatas de domingo
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Incitatus, o cavalo-senador de Calígula

Calígula era o imperador romano na mesma época que Jesus Cristo andava pregando o bom comportamento e lutando contra os poderosos. Esse imperador nomeou seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado romano. Naquela época, Roma só tinha uma casa de leis, não existia algo como uma Câmara de Deputados Federais.
Há quem entenda que Calígula nomeou o cavalo para demonstrar seu desprezo pelos senadores. Outros emitem a hipótese de que Calígula era um louco varrido. Talvez, as duas hipóteses estejam corretas.

Incitatus tinha 18 assessores, dispunha de colares de ouro e pedras preciosas, usava mantas com as mesmas cores que somente os nobres poderiam utilizar. Ele ganhou até uma estátua esculpida em mármore, no tamanho real do senador cavalar, com base feita de marfim.

Mas Incitatus só queria saber de alfafa e feno. Não se interessava pelas honrarias. A fortuna em ouro e pedras preciosas só lhe causava coceira na nuca. Incitatus era um senador simples, interessado apenas por uma vida correta e sem exageros. A história é quase uma fábula. Um chamado ao mundo real, ao mundo onde estão as pessoas comuns que neste momento gritam, deixaram de falar por um bom comportamento dos políticos, que não admitem poderes exagerados. Uma exigência popular por um comportamento de parlamentares em consonância com o mesmo padrão dos cidadãos que os elegeram. Um aviso de: "comportem-se bem, ouçam nossas vozes".
Temos uma sociedade que não recebe bem o pedido feito por cinco deputados federais de convocar Rodrigo Janot para ser ouvido pela CPI. Essa CPI deveria trabalhar com o mesmo dever dos membros do Ministério Público - puxar a corda em direção à cadeia. Carlos Marum (MS), Tarcísio Perondi (RS), Lelo Coimbra (ES), Celso Pancera (RJ) e Edio Lopes (RO) são os deputados que assinaram esse pedido. Eles desejam a imediata prisão de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Também questionam os critérios adotados por Janot de excluir da lista dos possíveis corruptos o Senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o Deputado Federal Luis Carlos Vaz (PT-RS). Por último, desejam saber o teor das conversas entre o Ministro da Justiça e Rodrigo Janot. Carlos Marum diz que "não coloca a mão no fogo pelo Eduardo Cunha e por nenhum nome da lista de Janot". Mas não resta dúvida que atos como esse visam, tão somente, puxar a corda em favor de Eduardo Cunha, políticos e empreiteiros que estão na lista do Petrolão. "Ao combate". Essa é a palavra do Procurador Janot no enfrentamento com a parcela do Congresso que deseja transformar em pizza o processo que levará muitos de seus membros à cadeia.

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1 milhão de coxinhas na Avenida Paulista, em São Paulo

Coxinha, para os petistas, são todos aqueles que clamam pela saída de Dilma e do PT do governo. O domingo foi uma demonstração de força dos coxinhas no país. As avenidas, ruas e praças do país se encheram de coxinhas. Nunca se viu tantos coxinhas, juntos, clamando contra o PT e o governo federal. Foi um domingo da "coxice".
Havia coxinhas de pobre, coxinha de rico e de classe média. Coxinhas de todas as cores. Coxinhas de todos os sexos. Tinha coxinhas nas bancas, coxinhas nos carrinhos de cachorro-quente, coxinhas nas lojas do Mac Donalds e nos bares. Beberam suas cervejas e se alimentaram do que? De coxinhas, é claro. Observaram as coxinhas das mocinhas, as coxinhas das senhoras e as moças viram as coxinhas dos moços.
Mas os cartazes, bandeiras e faixas dos coxinhas deixavam bem claro: não aceitam a corrupção. Os poderosos pensando: se não tem pão, comam coxinha (Maria Antonieta dizia à época da Revolução Francesa: "se não tem pão, comam brioche). Os coxinhas pensando: é melhor comer coxinha do que caviar pago com dinheiro da Petrobras. É provável que os coxinhas tenham a resposta que desejam nos próximos dias. Nunca na história deste país tantos coxinhas exigiram o fim das corrupções. Os coxinhas mudaram o país.

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Alguns coxinhas queriam virar quibe-cru

"Carecas do subúrbio", um grupo de jovens extremados, foram presos na Avenida Paulista durante o ato contra a corrupção que reuniu 1 milhão de pessoas. Eles são violentos, de ideário, fortemente anti-comunista e defendem o uso de armas, explosivos e rojões contra os setores que definem como "podres" da sociedade: políticos corruptos e homossexuais principalmente. Foram presos para não serem linchados.

Também foram presas duas moças: a atriz, Jessica Basílio dos Santos, de 25 anos e outra, cujo nome não foi divulgado, por provável roubo de celular. Jessica foi presa ao se despir em cima de um carro de som que clamava pelo retorno da ditadura militar. Estranho. Ficar pelada pedindo o retorno da ditadura? "Fibra de herói", uma música tocada nos quartéis era a música tocada no caminhão da peladona. Uma heroína peladona? Só no Brasil.

Se a corrupção vai acabar e a Dilma irá para a Argentina fazer a dieta Ravenna só o tempo dirá, mas há uma cor que se tornou inviável no país: o vermelho passou a ser vaiado. Duas moças vestidas de vermelho, claramente aos petistas, com fitas verde-amarelas nos cabelos e gritando fora Dilma e fora PT, foram vaiadas. Não entenderam o que acontecia até um rapaz explicar e pedir que tirassem as blusas vermelhas. O vermelho virou a cor insuportável. Quase apanharam por usar o vermelho. O verde e amarelo vendeu como nunca no país. Tinha "coxinha" querendo virar quibe-cru.

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