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Em Pauta

A guerra está à venda

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/02/2018 08:27
A guerra está à venda

O fascista Malaparte contou com seu humor negro tudo o que pensava, e que ninguém contaria, quando foi declara a paz no fim da Segunda Guerra Mundial. A história daquela guerra não quis ver os milhares de estupros das mulheres de Nápoles pelos soldados norte-americanos. Também ninguém quis saber do sofrimento atroz da população civil de Hamburgo carbonizada pelas bombas de fósforo dos aviões aliados. Essa é a história do perdedor. A regra é que a história é escrita pelos vencedores. Há outra regra: as páginas mais difundidas da história da guerra são pagas em dinheiro, muito dinheiro.
Os desembarques triunfantes, a liberação do povo oprimido, a busca por armas de destruição massiva se esmeram em amortizar um dos mais lúgubres sons da guerra: o ruído de fundo das calculadoras que contam dinheiro dos empresários. Há uma leitura econômica em todo conflito. Sem exceção. Essa leitura deveria ser central, decisiva. Mas nos secam os cérebros com o heroísmo dos soldados nas superproduções de Hollywood. Todos que estavam ao lado do perdedor saem perdendo? Quanto ganham destruindo e quanto reconstruindo o destruído?

A guerra está à venda

Não tão perdedores.

Cheirava a amêndoas amargas. Se colava no nariz e ia direto ao cérebro. Primeiro uma dor no peito, uma picada, seguida de dor extrema. Convulsões. Parada cardíaca. Zyklon B, o pesticida criado para atacar insetos, fumigou seres humanos nas câmaras de destruição nazistas. Foi processado, enlatado e etiquetado. Se armazenou, foi transportado e entregue. Foi faturado e cobrado. Oferta. Demanda. "Nem o volume de produção, nem o fato de foram administradas grandes quantidades nos campos foi em si mesmo suficiente para implicar responsabilidades criminais" (Informes legais dos juízos por crimes de guerra das Nações Unidas, volume X, 1949). Os empresários que venderam o Zyklon B para os nazistas não foram julgados, ainda que todos soubessem para que o veneno estava sendo usado. Multiplicaram sua fortuna.
O tifo brotou na frente ocidental da guerra. Os oficiais alemães temiam que se estendesse à população civil. Era urgente encontrar uma solução, uma cura ou uma via para conquistar a imunidade. Tinham que aumentar a produção e a eficiência das vacinas. A fusão das empresas Basf e Bayer, que foi denominada IG Farben, trabalharam em uma vacina que permitia tratar 15 mil pessoas em um dia. Até aquele momento só tratavam 10 pessoas por dia. Criaram uma vacina. Ela não foi aprovada. Não era reconhecida pelos médicos. A IG Farben estava ansiosa para conquistar esse reconhecimento. "As provas mostram que prisioneiros sãos dos campos de concentração foram deliberadamente infectados com tifo. O medicamento criado pela IG Farben foram administrados aos prisioneiros dentro de um programa de experimentação médica que teve como resultado a morte de muitos deles.Não foi possível demonstrar a culpabilidade dos acusados da IG Farben". (Informes legais dos juízos por crimes de guerra das Nações Unidas, volume X, 1949).
Estes dois casos fazem parte de apenas uma volume dos processos contra empresários que viram crescer enormemente suas fortunas às custas de milhões de vidas.

A guerra está à venda

A escolha de 8 grandes empresas na Guerra do Kuwait.

O Kuwait foi invadido pelo Iraque de Sadam Hussein, todos recordam. Uma ação de guerra que provocou um choque na oferta mundial de petróleo. Preços decolaram. Estagflação. O monstro chegou. A guerra foi, obviamente, vencida pelos Estados Unidos e seus aliados. O sistema idealizado para reconstruir o Kuwait consistiu na eleição de 8 grandes companhias: 5 multinacionais dos EUA e uma britânica, além de uma empresa da Arábia Saudita e somente uma do Kuwait. Tais companhias repartiram o país em zonas, e não pela especialidade de cada companhia (eletricidade, obras públicas...). Assumiram, em suas respectivas zonas, a responsabilidade da execução das tarefas para colocar o país em funcionamento. Para colocar um cano em um apartamento em cada zona, havia a necessidade de pagar a uma delas. O custo foi de US$50 bilhões. Não houve qualquer tipo de licitação ou algo similar. Cada presidente escolheu de seu livre arbítrio as empresas. Te vendo uma guerra.

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