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MAIO, QUINTA  02    CAMPO GRANDE 31º

Em Pauta

Bugrinhos da Conceição, como meninos fortes com uma missão

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 04/01/2024 07:00
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Ela era apenas Conceição, ou melhor, Dona Conceição. Mãe dos artistas Ilton e Wilson. Vivia com Abilio, seu marido de Amambai, em uma casa de madeira perdida entre folhagens, nos altos do Bairro Universitário de Campo Grande. Era ali, no desconforto de uma casa com água de poço, da falta das coisas mais elementares à subsistência, que ela esculpia seus totens. A operação começava com a força necessária do machado para recolher a madeira. Ela mesma serrava e modelava. Dava a alegria da vida a esses meninos, como os chamava.


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Seus longos cabelos eram inconsciente do valor.

As rugas marcavam a sabedoria de viver. O sorriso era permanente na boca sem dentes. Os longos cabelos, até a cintura, marcavam o passo dos pés descalços. Um jeito acanhado de quem sempre parece pedir desculpas. Era inconsciente do próprio valor. Poderia ter feito fortuna com suas produções. Foram vendidas a alto preço na Europa e nos EUA, mas a riqueza nunca fez parte de seu vocabulário. Começou a esculpir por brincadeira. Era uma gaúcha que frequentou os bancos escolares por pouco tempo. Como fazem os verdadeiros artistas, com despreocupação, de uma raiz de mandioca fez um boneco, seus meninos, nossos bugrinhos.


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O coração do indio.

Que estranho conhecimento deu a Conceição o poder de fazer pulsar na madeira, embebida em cera de abelha, o coração do índio. Apresentavam emoções, nos olhando fixamente com seus olhos pintados de piche. Reprovavam nossa covardia, o medo, a falta de solidariedade para com seu povo, permanentemente espoliado e massacrado. Ninguém sabe os mistérios da criação. Nem mesmo o artista. Conceição morreu como viveu. Tão pobre em riquezas e tão rica em emoção. Sua arte permanece eterna. Seus bugrinhos, seus meninos, estão vivos... seus tristes e fortes olhos avisam que continuarão a lutar.
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