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Em Pauta

Como uma carta e uma tela criaram a descoberta do Brasil

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 21/01/2024 08:15
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
A descoberta do Brasil foi uma invenção do século XIX. O quadro de Vítor Meirelles, retratando a Primeira Missa, tal como foi descrita na carta de Pero Vaz de Caminha, é um episódio determinante para que todos acreditassem piamente que Cabral "descobriu este vasto território". Essa tela fez com que essa ideia tomasse corpo e se instalasse definitivamente no interior de nossa cultura.


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A carta e o bom selvagem.

A chegada das naves portuguesas foi acompanhada por um documento excepcional. Todavia, documentos mostram inequivocamente que o espanhol Vicente Yañez Pinzón aportou no Ceará três meses antes de Cabral chegar em Porto Seguro. Pinzón chamou esse local de "Cabo de Santa Maria de lá Consolación". Mas a carta de Caminha é poderosa. O escrivão da frota portuguesa mandava ao rei um relato pormenorizado, passo a passo, do dia 21 de abril a 1 de maio de 1.500. Essa carta adquire um caráter mítico "de ato fundador do país". Uma espécie de certidão de nascimento do Brasil, ainda que errônea. A questão é que Caminha possuía elevado talento literário e capacidade aguda de observação. Ele cria um elo do Brasil com o paraíso primordial da Bíblia. Esse é o início da ideia do bom selvagem, índios que não carregariam os males dos europeus. Essa carta só foi conhecida pelos brasileiros em 1.817. Antes dela ser publicada na "Corografia Brasílica", ninguém tinha ideia de como os portugueses aqui chegaram.


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A tela: um ícone da história nacional... copiado de um francês.

O episódio de Cabral não se destaca na história. Ele surge somente quando a política de d.Pedro assim exige. A pintura será encarregada de fixar e imprimir nas mentes esse instante cabralino. O pincel é de Vítor Meirelles que partira para a Itália e a França em 1.853. Em 1.859, pinta "A Primeira Missa no Brasil". Seu mentor brasileiro era Araújo Porto Alegre. E foi ele que insistiu que Meirelles lesse cinco vezes o texto de Caminha. Mas Meirelles irá se inspirar na "Première messe en Kabilie", obra pintada por Horace Vernet que "enxerga" o projeto colonial francês na África do Norte. Essa missa celebra a submissão das tribos cabilas aos franceses. A diferença é que Vernet participou da campanha de domínio francês. Meirelles estava trezentos anos depois da chegada de Cabral.
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