Natureza sábia: os bebês não falam para não se engasgarem
Os pais já sabem: criança comeu ou bebeu, tem de arrotar. É obrigação. Não pode falhar. De onde vem esse conhecimento ancestral? Só recentemente a ciência começou a explicá-lo. Iniciou a entender a fala. Há uma enorme mobilidade no espaço da boca e da garganta - cerca de 225 músculos são ativados por segundo para possibilitar a vocalização de palavras. É uma maravilhosa orquestra sinfônica dentro da boca.
Animais respiram e bebem ao mesmo tempo, mas não falam.
Na quase totalidade dos animais há uma norma. Existe uma espécie de membrana a separar a boca das narinas e canal digestivo. Isso lhes permite respirar e beber ao mesmo tempo. Os seres humanos, por sua vez, estão sujeitos a engasgarem-se. Não é por acaso que os bebês apresentem, até ao terceiro mês de vida, o aparelho vocal semelhante ao dos demais mamíferos. Serve para proteger o aparelho respiratório contra a entrada acidental de alimentos. A história da natureza introduziu, portanto, uma espécie de válvula de segurança para as crianças menores, no desenvolvimento do aparelho vocal.
Boca e garganta semelhantes a dos macacos.
Os recém-nascidos não sabem falar e, antes de começarem a fazê-lo, gesticulam e gritam. No que concerne à boca e à garganta, assemelham-se mais aos macacos do que aos adultos. E esse fato vem de nossa mudança evolutiva.
Há cem mil anos atrás.
Naquela época, o homem de Neandertal teria uma capacidade de fala com poucos sons vocálicos e consonantais. Ele não falou como nós falamos. Dispunha do som da letra “E”, mas não do “A”, nem do “I”, tampouco do “O”. Nas consoantes, dispunha do “D”, do “B” e “F”, mas não do “G” nem do “K”. Ocorreram mudanças não só na boca, mas também no sistema neuronal para que pudéssemos emitir essa enormidade de sons que hoje usamos.
O talento da aprendizagem acústica.
O que mais impressiona os cientistas é a capacidade humana da aprendizagem acústica. Com cerca de 1 ano de idade, a criança começa a dizer as primeiras palavras. Aos 18 anos, o seu vocabulário abrange cerca de 60 mil palavras. É um salto espetacular. Do zero a 60 mil em meros 18 anos. A criança aprende um vocábulo novo a cada noventa minutos. O ser humano é um alegre e talentoso macaco de imitação, que não ouve apenas os outros, mas também a si mesmo. E isso, também somos capazes de aprender sozinhos, usando um mínimo de imitação.
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