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Em Pauta

O Brasil já teve um Presidente Modess

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/12/2017 09:49
O Brasil já teve um Presidente Modess

Era o primeiro dia de abril de 1964. Os militares haviam tomado conta do poder no Rio de Janeiro. De acordo com a Constituição vigente, caberia ao presidente da Câmara dos Deputados, Paschoal Ranieri Mazzilli, assumir temporariamente a Presidência da República, o que foi feito na madrugada de 2 de abril desse ano. Mazzilli era um jornalista e advogado. Em 1950, elegeu-se deputado federal pelo PSD de São Paulo. Foi reeleito em outubro de 1954, candidatou-se à presidência da Câmara, mas foi derrotado. Novamente reeleito em 1958, conquistou a presidência da Câmara. Desde então, foi reeleito para o mesmo cargo até 1965. Ocupou a Presidência da República pela primeira vez em 1960, uma vez que o presidente Juscelino Kubitschek estava em Portugal e Goulart estava impedido de de assumir por ter se candidatado à vice-presidente. Naquela época, os brasileiros votavam em separado para Presidente e para Vice-Presidente. Foram apenas 13 dias de governo Mazzilli. O argumento era de que tinha de evitar derramamento de sangue.

O Brasil já teve um Presidente Modess

A fuga de Goulart da ratoeira do Rio de Janeiro em 1964.

O governo de Jango Goulart se desmanchara. Às quatro da tarde do primeiro dia de abril, os cinco tanques que guardavam seu Palácio, fizeram o percurso emblemático das derrotas e indecisões que caracterizaram o governo Goulart. Jango voara para Brasília. Fugira da ratoeira que se convertera o Rio de Janeiro. Em Brasília passou apenas o tempo necessário para notar que trocara de ratoeira. O Presidente do Senado, Auro Moura Andrade, percebera o fim do governo. O Congresso começava a apoiar os militares. Às 22:30 horas o presidente abandonou a Granja do Torto, residência do mandatário, e voou para Porto Alegre em um avião da FAB. Nem sequer passou pelo Palácio do Planalto para limpar a mesa ou o cofre. Deixou à mulher, Maria Thereza, a tarefa de tirar os filhos da cama, juntar algumas malas e segui-lo para o Sul.

O Brasil já teve um Presidente Modess

A bizarra posse de Mazzili, presidente interino pela segunda vez.

Enquanto o presidente voava para o Rio Grande do Sul, Auro Moura Andrade, baseado "nos fatos e no regimento", declarou vaga a Presidência da República e organizou uma cerimônia bizarra. No meio da madrugada, acompanhado pelo presidente do STF, rumou para o Palácio do Planalto. Levava o deputado Ranieri Mazzilli, que como presidente da Câmara, seria o sucessor de Jango. Formaram a menor comitiva de posse de um presidente da história. Atravessaram a Praça dos Três Poderes em poucos automóveis e encontraram o Planalto às escuras. O deputado Luiz Viana Filho subiu as escadas com a ajuda de fósforos acesos. Chegaram ao terceiro andar onde se daria a posse de Mazzili. Novamente assumiria o poder por 13 dias para "evitar derramamento de sangue". Enquanto isso, no quarto andar do mesmo prédio, Darcy Ribeiro e Waldir Pires pretendiam resistir em nome do governo deposto. Opositores e governistas encontraram-se na escuridão. Deu-se uma discussão em torno da lealdade. Darcy Ribeiro chamou o general Nicolau Fico, que acabara de trocar de lado, de "macaco traidor" e foi-se embora. Mazzilli era o novo presidente.

O Brasil já teve um Presidente Modess

O Presidente Modess.

Os militares precisavam de um desfecho rápido. Os Estados Unidos haviam sinalizado que reconheceriam de imediato o novo governo, mandaram Robert Bentley, um jovem secretário da Embaixada dos EUA à posse de Mazzilli. Apesar de toda a tensão provocada, um empurrão dado no Rio de Janeiro por um coronel em um sentinela, e um insulto humilhante, imposto em Brasília por Darcy, um professor, a um general, simbolizaram a "violência" dos combates. Mas o povo na perdeu o momento. Em uma daquelas brincadeiras pejorativas que ainda são costumeiras, aproveitando a entrada de um novíssimo absorvente íntimo feminino no mercado, comparou Mazzilli, o presidente interino, ao Modess, pois ambos "sempre estavam no melhor lugar, nos piores dias, para evitar derramamento de sangue". Mazzilli era homem de poucas falas ou opiniões. É pouco citado. Em consequência, está sendo esquecido pela história.

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