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Em Pauta

O Brasil voltou aos mesmos ideais de 1920

Mário Sérgio Lorenzetto | 09/12/2016 07:08
O Brasil voltou aos mesmos ideais de 1920

Quase um século depois o "tenentismo" volta a dominar a alma de parcela ponderável do brasileiro. Naquela época, tal como agora, os políticos estavam desmoralizados. E nada faziam, ou faziam muito pouco, para restaurar a confiança perdida. Também, como atualmente, existia um problema de crise de liderança.

A política havia se tornado um mero negócio. Desse vácuo, surgiram os personagens do mercado, no embalo da ilusão de que homens de fora da política possam realizar aquilo que os políticos não podem. É importante repetir: uma mera ilusão.

Isso é um velho sonho no Brasil. O sonho do governo dos técnicos. Exclusivamente técnicos teriam as condições necessárias para a transformação. Surgiu ligado ao movimento dos tenentes, na década de 1920, sobretudo quando partilharam a ditadura de Getúlio Vargas logo a seguir. Eles defendiam conselhos técnicos de governo. Era uma posição claramente antipolítica. Tudo muito semelhante a esta década que vivemos. Se o passado ensina alguma coisa, deveríamos ter aprendido, há 100 anos, que governos não são balcões de negócio e que ditaduras são a pior alternativa.

O Brasil voltou aos mesmos ideais de 1920

Vem ai um Refis para retirar Meirelles da fritura

O governo está pressionado por empresários e parlamentares para abrir um novo programa de parcelamento de dívidas. O Palácio do Planalto já deu sinal favorável à medida. Aumentaria o caixa do ano vindouro e contentaria empresários com dificuldade de honrar suas contas. No entanto, o Refis, como sempre, conta com forte resistência da Receita Federal. Todas as anistias de impostos e congêneres, estimulam a inadimplência. Mas, desta vez, há algo mais...

A pressão pelo Refis cresceu com o início da fritura do ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O ministro vem sendo criticado por investir em reformas de longo prazo, como o teto de gastos e a reforma da previdência, cujo efeito direto sobre a economia demorará a aparecer.

É quase certo que o governo promova o Refis. Temer já sinalizou a favor e demonstrou que vive bem com essa política pois permitiu o parcelamento da dívida das empresas que estão no Simples, por 120 meses. Assim, elas não sairão desse regime em janeiro próximo.

O Brasil voltou aos mesmos ideais de 1920

Guia dos pessimistas para 2017

Depois de um ano repleto de imprevistos, é hora de fazer as contas para 2017. O Brexit apanhou o mundo de surpresa. A vitória de Trump também causou estupefação. Os dois cenários foram previstos pela Bloomberg no Guia dos pessimistas para 2016. Na nova edição os especialistas da Bloomberg voltam a antecipar os cenários mais extremos para 2017. A Bloomberg alerta que os cenários são hipotéticos e não previsões. Mas sublinha que 2017 tem um potencial de caos muito significativo.

1. À medida que Trump começa a reverter medidas tomadas por Obama, a tensão social cresce nas ruas. Grupos de ativistas do Occupy Wall Street, Black Lives Matter e estudantes universitários unem-se contra o presidente republicano, que decreta toque de recolher em várias cidades.
2. A Califórnia distingue-se como a sede da oposição a Trump e o "Calexit", movimento que defende a separação da Califórnia dos EUA, ganha força.
3. Elon Musk, da Tesla e Seryl Sandberg, do Facebook, são os novos rostos da lideranças e ponderam unir-se contra Trump nas eleições de 2020.
4. Angela Merkel e Donald Trump reconhecem o domínio da Rússia sobre a Ucrânia, a Bielorrússia e a Siria. Em troca, Putin promete deixar de interferir em todos os países de interesse dos EUA e da Europa. O rublo valoriza e a economia russa ganha fulgor. A indústria da defesa afunda na bolsa de valores.
5. A tensão sobe de tom entre os EUA e a China. Trump decide impor taxas aos produtos chineses. A China responde com a desvalorização do yuan, o cancelamento das vendas de aviões e do iPhone. A China entra em recessão profunda.
6. Kim Jong Um, o líder da Coreia do Norte, lança um míssil em direção aos EUA e prova que não é um blefe. Trump pede ajuda à China para salvar o mundo.
7. O Estado Islâmico ganha força na Ásia Central.
8. O Japão e a Arábia Saudita desenvolvem seus próprios arsenais nucleares.
9. Na Europa continua a ascensão dos nacionalismos. Marine Le Pen torna-se presidente da França e organiza um plebiscito para sair da União Europeia.
10. Na Itália, o Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, sobe ao poder e também propõe a saída da Itália da UE.
11. Na Alemanha, Angela Merkel perde as eleições
12.Na Inglaterra, o governo de Theresa May é derrubado depois das conversações para o Brexit terem dado pior do era esperado.
13. A Grécia entra novamente em crise e o povo vai às ruas.
14. O euro entra em colapso.
15.O muro que separa os EUA do México, ganha forma. A moeda mexicana entra em declínio. Chega a uma recessão profunda. Com as deportações em massa, aumenta o tráfico de drogas. O nacionalismo ganha força.

O Brasil voltou aos mesmos ideais de 1920

Uma bela lágrima e um pedestre com pressa

Outro dia ocorreu algo extraordinário. Estava em Curitiba para tratamento de saúde e sai do hotel na primeira hora da tarde. A rua fervilhava de pedestres. E, como sempre sucede nas grandes cidades, também havia um montão de mendigos. Um deles era mais chamativo. Pertencia ao grupo daqueles que perderam uma ou as duas pernas. Devia ser um dos escravos dessa máfia terrível e patética de exploradores da mendicância, que os obrigam a exibir suas deformidades para causar comoção e piedade nos transeuntes. Sabemos que a exploração da miséria, do débil, do diferente um antiquíssimo negócio. Todo um clássico da maldade humana.

Esse mendigo se encontrava encostado na parede e sentado no solo sob uma manta. As pernas, tapadas com o cobertor, não se viam. Pela carência de volume, não existiam. Não sei direito. Nunca observamos muito a pessoas nessa condição. O que era induvidável é que não podia caminhar sozinho. Seus exploradores deviam tê-lo colocado ali em algum momento. Como alguém que coloca uma máquina caça-níquel em um bar.

Estava desnudo da cintura para cima. Mostrava um torso raquítico e disforme, um peito de pomba, uns bracinhos quase inúteis, puro osso e pele. Coroando todo, uma cabeça demasiado grande com uma desordenada cabeleira castanha. Essa tarde não fazia um frio intenso, mas ele estava ali desnudo e quieto. Passei adiante. Sem me deter. A pressa na cabeça. Mas por instantes, pensei que não se deve dar dinheiro para mendigos para não fomentar a exploração. Também me perguntei como é possível que permitamos que suceda semelhante abuso ante nossos olhos.

Como as autoridades não interveem? Como não prendem essa máfia sem vestígio de humanidade? Mas, dois minutos depois, esse assunto saiu da cabeça.

Quando regressei ao hotel, seis horas mais tarde, já era o anoitecer. E o mendigo seguia ali, desnudo e solitário. Pensei: se não consegue dinheiro, ficará até a madrugada. Me acerquei rapidamente, coloquei dois tristes reais no pote que havia diante dele e saí rapidamente. Mas então, o homem me chamou com palavras que não entendi. Detive minha fuga da miséria humana. Voltei e vi que ele levava uma mão a um de seus olhos. Estirou seu bracinho malfeito e o estendeu para mim. Desconcertado, sem nada entender, estendi minha mão e ele depositou em minha palma uma lágrima, com uma cor azul profunda.

Levantei minha cara atônito, e pela primeira vez vi de verdade o homem. Seus olhos eram escuros. Miravam algo que não parecia pertencer a este mundo. Me disse algo em uma língua ininteligível. Eu lhe sussurrei "obrigado" com a garganta apertada, o obrigado mais sincero de minha vida, e me fui com a lágrima dele escorrendo pela mão. Ganhei um presente que ninguém poderia pagar. Esse homem que deve ter a existência mais dura que alguém possa imaginar, fora capaz de elevar-se por cima de todas suas limitações e, revestido de suprema humanidade, me deu um imenso presente.

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