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Em Pauta

O homem que esterilizou as salas de cirurgia

Mário Sérgio Lorenzetto | 30/03/2019 07:00
O homem que esterilizou as salas de cirurgia

Em fevereiro de 1912 morria o cirurgião Joseph Lister. Deixava como legado uma drástica redução na mortalidade dos pacientes cirúrgicos devido a infecções. A diferença era gigantesca, de quase 50% dos operados para menos de 15%. Lister passou para a história como o pai da cirurgia anti-séptica. Hoje, milhões de pessoas o "homenageiam" diariamente sem saber ao enxaguar a boca com um produto que é derivado de seu nome - Listerine, apesar de que ele não participou de sua invenção nem dela se beneficiou.

O homem que esterilizou as salas de cirurgia
O homem que esterilizou as salas de cirurgia

Uma sala de cirurgia era pior que um filme de terror.

Entrar em uma sala de cirurgia antes de 1865 era jogar roleta russa. A antestreia havia deixado para trás os agônicos gritos dos pacientes, mas a gangrena, a septicemia e outras infecções pós operatórias acabavam levando a metade dos operados. O procedimento habitual nessas salas era ventilar o ambiente para expulsar os "miasmas", o também denominado "mal ar". Uma ideia medieval.
Mas além dos miasmas, os cirurgiões adoravam o "velho e bom fedor de hospital". Os médicos chegavam das ruas com a roupa que usavam na operação e nem sequer lavavam as mãos. Usavam jalecos cheios de sangue seco e pus como servissem galões de fardas militares. Era uma honraria.
Durante a cirurgia usavam os botões do jaleco para segurar os fios de sutura. O instrumental nem sempre era lavado. Se um bisturi caísse ao chão, recolhiam e continuavam a usá-lo, como se nada tivesse acontecido. Se em algum momento fosse necessário usar as duas mãos, seguravam o bisturi com os dentes. Não era raro que a cirurgia fosse finalizada aplicando na ferida um emplastro quente de esterco de vaca. Durante a ronda de plantão, a sonda que era usada para drenar o pus da ferida de um paciente era levada para drenar o pus de outro.

O homem que esterilizou as salas de cirurgia

Seguindo Pasteur.

Assim, não era incomum que os próprios cirurgiões resistissem a operar seus pacientes. O problema das infecções era tão angustiante que chegaram a discutir a abolição das cirurgias em hospitais. Mas Lister não estava convencido da existência dos miasmas que ninguém explicava e todos acreditavam. Observando que a limpeza das feridas produzia resultado, desconfiava que o problema estava nas feridas e não no ar.
Em 1864 quando lecionava na Universidade de Glasgow, encontrou o livro de Louis Pasteur. Quando leu sobre a existência dos germes, micróbios invisíveis aos olhos, comprovados por Pasteur, intuiu que eram eles os causadores das infecções.

O homem que esterilizou as salas de cirurgia
O homem que esterilizou as salas de cirurgia

Matando micróbios.

Seguindo as ideias de Pasteur, Lister começou a procurar uma substância química que aniquilasse os germes. Depois de muito tempo e várias tentativas, chegou ao ácido carbólico - hoje chamado fenol - que era empregado para evitar a putrefação das madeiras de navios e de estradas de ferro, bem como era jogado nos esgotos de algumas cidades. Em 1865 teve sua prova da eficácia do fenol. Um menino foi atropelado por um automóvel e teve fratura exposta na perna. Lister o curou sem infecção.

O homem que esterilizou as salas de cirurgia

A criação do protocolo de esterilização.

Após muitos ataques de médicos - acusavam-no de charlatanice - Lister escreveu um protocolo a ser seguido em qualquer sala de cirurgia. O instrumental cirúrgico deveria ser banhado em fenol. As mãos, a lixeira e as feridas também deveriam ser imersas em fenol. Mas quando inventou um pulverizador de fenol e tentou borrifar as salas, a gritaria dos médicos o impediu no primeiro momento. O fenol não é nem um pouco agradável. Passou um bom tempo - algumas décadas - para que seu protocolo fosse adotado em todos os hospitais do mundo.
De Lister hoje nos resta sua revolucionária ideia que criou uma forte barreira entre as cirurgias antigas e as modernas. E o Listerine.

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