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Em Pauta

O jardim de infância da escola do crime

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/01/2018 11:39
O jardim de infância da escola do crime

Novamente. Mais uma vez o Brasil assiste cabeças rolando em uma penitenciária. Desta vez o horror atacou Goiás. Contem a mentira que desejarem. Joguem a culpa de um governante em outro. São há duas verdades exageradamente conhecidas: as cadeias são masmorras que educam jovens negros para o crime e as gangues são empresas que lucram com as cadeias. Mas além dos presídios há os centros para menores infratores, o jardim de infância da escola da criminalidade. E para ele a cegueira da sociedade é ainda maior.
No último levantamento, havia um déficit de vagas de mais de 20% nesses centros. Eles estão superlotados, são insalubres, condenam os jovens ao ócio, raríssimas e péssimas aulas de formação educacional, fugas constantes, dificuldades de atendimento da saúde. A violência explode constantemente. Se as cadeias são a escola, os centros são o jardim de infância que replicam os mesmos ensinamentos. "Aprendam a agir como bandidos" deveria estar escrito em uma placa na entrada de cada um desses centros.

O jardim de infância da escola do crime

O centro que recupera o menor infrator.

A possibilidade de impedir que adolescentes violentos virem criminosos pelo resto da vida foi comprovada no Centro Terapêutico Juvenil Mendota, no estado de Wisconsin (EUA). Tornou-se um modelo para o mundo. Os adolescentes chegam já com alentada ficha criminal. São pessoas que não têm mais conexão com ninguém, adotam uma postura antagônica diante dos outros.
O centro procura estabelecer um vínculo com os jovens apesar do seu comportamento agressivo e antissocial. Se a avaliação diária for satisfatória, eles podem desfrutar de alguns privilégios no dia seguinte, como a oportunidade de jogar videogames. Se a avaliação for ruim, devido ao fato de terem brigado, por exemplo, eles perdem privilégios. Com o tempo, os jovens começam a se comportar melhor. A melhora da capacidade de lidar com as próprias emoções e de conter os impulsos agressivos parecer perdurar mesmo depois que deixam Mendota. Não há mágica. Criaram um sistema que leva em conta o mundo a partir da perspectiva do jovem e tenta resolver os problemas de modo justo e coerente. Não há professores de ódio como no Brasil.

O jardim de infância da escola do crime

A plasticidade do cérebro e o crime.

Os cientistas descobriram que o nosso cérebro continua mantendo a sua plasticidade mesmo na idade adulta, o que significa que podemos ser treinados para nos comportar de forma bondosa e generosa. Isso já foi demonstrado pelos estudos pioneiros do Instituto Max Planck, um dos melhores do mundo.
Provaram que a empatia e a compaixão dependem de redes neurais diferentes no cérebro. Ambas podem levar a um comportamento social positivo. A existência comprovada dessa possibilidade de moldar o nosso cérebro para que nos comportemos melhor, sejamos mais altruístas é uma perspectiva animadora para a sociedade. O Instituto Max Planck desenvolveu exercícios variados para esse treinamento. Um deles requer que os participantes meditem sobre uma pessoa amada, e depois, pouco a pouco, amplie os mesmos sentimentos a conhecidos, estranhos e mesmo inimigos. Outro exercício envolve atividades em jogos de computador onde uma pessoa depende da outra para sair de um labirinto. São treinamentos para o cérebro. Podem ser muito ou pouco eficazes, mas são melhores que deixar os jovens à mercê da violência institucionalizada no jardim da infância do crime.

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