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Em Pauta

O mundo mais matemático, e seu ensino está estancado

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/11/2017 06:22
O mundo mais matemático, e seu ensino está estancado

Com pouco mais de 1 milhão de habitantes, a Estônia é considerado o país mais digitalizado da Europa e do mundo. Seus habitantes podem votar, pagar impostos, acessar arquivos médicos ou registrar uma empresa à partir de seus computadores caseiros em poucos minutos. Isso mesmo, votam sem sair de casa. No último relatório PISA, a Estônia ultrapassou a Finlândia em matemática e ciências e se tornou a nova referencia em termos de inovação educacional. O principal elemento propulsor dos avanços matemáticos é Conrad  Wolfram, matemático e físico de Oxford. Sua crítica ao ensino de matemática é a mais correta que já foi feita. Ele diz que ninguém está satisfeito. Os estudantes acham que é uma matéria difícil e desinteressante, os professores se sentem frustrados com os resultados e os governos sabem que ela é fundamental para os países do século XXI, mas não sabem como atualizá-la.

O mundo mais matemático, e seu ensino está estancado

Wolfram no TED: "Como ensinar matemática do mundo real às crianças".

Em 2010 Wolfram chamou a atenção de educadores e especialistas em educação de vários países. Sua palestra no TED teve mais de 1,5 milhão de reproduções. Isso mesmo, foi reproduzida em órgãos governamentais e escolas pelo mundo. Até onde se sabe, Wolfram é um quase desconhecido no Brasil. Nessa palestra ele analisa os motivos pelos quais os estudantes perderam o interesse pela disciplina que está por trás das "mais emocionantes criações da humanidade, desde os foguetes até as bolsas de valores". Um excesso de horas a aprender a calcular grandes equações e fazer contas em geral. Essa é a grande falha, segundo Wolfram, que aposta na introdução da computação nas salas de aula, deixando que as máquinas façam os cálculos. "Antes da existência dos computadores, a matemática não era muito útil no dia a dia, para a vida em geral. A computação elevou a matemática a um novo patamar. Os problemas reais do século XXI só podem ser solucionados com o uso do computador, por isso ele deve entrar no sistema educacional como uma parte fundamental da disciplina de matemática. Não tem mais sentido que os estudantes façam cálculo de equações de segundo grau em sala de aula. É preciso ensiná-los a interpretar os dados e a explorar a matemática em toda a sua utilidade. Tudo bem ensinar o seu funcionamento básico , mas complicar isso tudo até o esgotamento é uma estratégia equivocada que distancia o aluno da disciplina para o resto da vida. "Basta dar o exemplo do automóvel: não é preciso entender o funcionamento do motor para dirigir um carro", diz Wolfram.

O mundo mais matemático, e seu ensino está estancado

"A matemática se libertou do cálculo", garante Wolfram.

A matemática tradicional já não faz sentido. Provavelmente 80% do conteúdo das aulas não é útil e você jamais utilizará fora da escola. Bem claro: é um conhecimento que se tornou inútil. Tentar saber como é que o computador funciona não requer menos trabalho para o cérebro do que todo o ensino arcaico da matemática. Em verdade, os problemas da computação são muito mais complexos, e é ai que as crianças e jovens deveriam ser treinados. A programação é algo que hoje equivaleria ao cálculo à mão. Saber dizer ao computador, de forma muito precisa, com códigos e números, o que ele tem de fazer. Matemática, programação e raciocínio computacional devem fazer parte de uma mesma disciplina. A matemática é muito mais do que cálculos, embora seja compreensível que durante centenas de anos tenhamos dado tanta importância a isso, pois só havia uma forma de fazê-lo: à mão. Acontece que a matemática se libertou do cálculo, mas essa libertação ainda não chegou ao ensino.

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