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Em Pauta

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/12/2019 08:34
O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

Os novos estudos realizados sobre a importância da África medieval contam que, em 1441, uma expedição portuguesa, sob o comando de Antão Gonçalves, atracou perto de Cabo Branco, na atual Mauritânia e, depois de entrar em conflito com um homem por causa de um camelo, transformaram-no em seu primeiro cativo. A crônica descoberta o chama de "mouro", essa palavra não designava a cor da pele, mas sua opção religiosa: era muçulmano.

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

Em seguida, escravizaram uma mulher negra.

Horas mais tarde, ao cair da noite, os portugueses fazem uma segunda captura, desta vez de uma mulher. Ela é descrita como uma "moura negra", confirmando assim a distinção que faziam entre as supostas raças que viria a ter imensos e duradouros efeitos sobre a atitude europeia em relação à escravidão e à África. A negritude passa a ser essencial desde o primeiro momento da escravidão.

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

A igreja só aceitava a escravidão de pagãos.

Antes que o tráfico de escravizados atingisse a escala gigantesca do final do século XVII e dos 100 anos seguintes, os portugueses viram-se as voltas com a igreja católica que só aceitava o aprisionamento de pagãos. Em uma península Ibérica dividida pela religião, muçulmanos e cristãos escravizavam uns aos outros, mas os ensinamentos da igreja ensinavam que só podiam escravizar os pagãos na África. Só quem não era cristão ou muçulmano podia virar escravo quando mudavam de continente.

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

Derrotados pelos africanos, recuperaram a diplomacia.

Quando os portugueses atravessaram o rio Senegal, rumo ao sul da África, os portugueses descobriram que não tinham meios de derrotar militarmente os eficientes e poderosos reinos africanos que encontraram. A partir daí, deram uma guinada pragmática que os levou a trocar os ataques-surpresa pela abordagem do comércio e diplomacia. Essa mudança histórica os levou à vitória e, é claro, à colossal escravidão de africanos.

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

Não eram selvagens.

Aqui nos defrontamos com uma ideia que vem sendo vendida há muito tempo de que os africanos eram meros selvagens. Não passa de mentira. A quase totalidade vivia em reinos - maiores e menores, fracos e poderosos - mas tinham governo e governantes. Não ocorreu, como alguns afirmam, um salto direto de selvagens a escravos. Durante muito tempo os grandes senhores dos forte e complexos reinos escravizaram os súditos dos reinos menores e mais frágeis - e os venderam aos europeus.

O primeiro escravo africano e surgimento do nacionalismo

A escravidão gerou o nacionalismo.

A feroz corrida entre Portugal e Espanha pelo domínio da escravidão africana, mediado pela igreja, foi crucial para a criação do Estado-nação moderno e para o que viria a ser o nacionalismo. As primeiro identidades nacionais europeias foram forjadas, em grande parte, com base na disputa pelo comércio e pela influência na África. E isso vem se perdendo - ou sendo escondido - nas histórias contadas pelos ocidentais, que se apressam em saltar direto da conquista das Canárias para a chegada de Colombo às Américas. Assim contada, a história faz desaparecer quase 100 anos de muitas lutas e rebeliões contra os europeus escravizadores.

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