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Em Pauta

Os Nelson Mandela de 2017 vão para três jovens

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/12/2017 06:51
Os Nelson Mandela de 2017 vão para três jovens

Dos mais de 800 vencedores do Prêmio Nobel, somente 15 negros e negras levaram o galardão e o cheque dos suecos. Há 12 anos, negros do mundo todo concorrem ao Prêmio Nelson Mandela. Os agraciados de 2017 são jovens, inovadores e transformadores. Um raio de esperança no meio um mundo que se volta, novamente, uma vez mais, ao racismo.
Para chegar até aí, os vencedores passaram por um processo de seleção muito disputado. Suas organizações e lutas competiram com outras 300 candidaturas de todo o mundo. Um jurado elegeu 20 finalistas que foram submetidas ao escrutínio público pela internet, onde qualquer pessoa podia votar e fazer comentários. Finalmente, um novo jurado de três pessoas, observando os resultados da internet, destinou a premiação aos três jovens: Victor Ugo, da Nigéria, Jubilanté Cutting, da Guiana e Khaled Elbalshy, do Egito.
Victor Ugo é considerado o melhor organizador da comunidade, luta contra os estigmas das enfermidades mentais para que os afetados por essas doenças não sintam vergonha e peçam ajuda, algo dificílimo na África. Jubilanté criou uma organização para incentivar os jovens se interessem por audiovisuais, e mais concretamente pela animação que vai às telas do cinema e da televisão. Khaled é um jovem jornalista que luta pelos direitos humanos e, especialmente, pela liberdade de expressão. Não há notícias de que um dos milhões de negros brasileiros se interesse por essa importante premiação.

Os Nelson Mandela de 2017 vão para três jovens

Hanukkah, a festa da liberdade religiosa em tempos de Trump.

Os judeus estão comemorando o Hanukkah (ou Janucá) - uma festividade de oito dias consecutivos, e talvez a celebração judaica mais importante - que neste ano inicia com a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e trasladar sua Embaixada para a Cidade Santa dos judeus, dos muçulmanos e dos cristãos.. Uma polêmica declaração que incendiou os árabes do mundo todo.
O Hanukkah não é o equivalente do natal para judeus como alguns imaginam, é a celebração da liberdade religiosa e de expressão, uma festa com profundo conceito social e teológico, que os últimos acontecimentos negam vexaminosamente. Entender sua origem e seu verdadeiro significado, que segue atual, é fundamental para enxergarmos como podem negar na prática seus princípios mais profundos.

Os Nelson Mandela de 2017 vão para três jovens

A vitória de um exército andrajoso, esfarrapado.

Ainda que remonte a 2.200 anos atrás, o Hanukkah é uma das celebrações judias anuais mais novas, e nem sequer aparece na bíblia hebréia. O evento que determina sua origem é de 164 a.C. que comemora a vitória dos macabeus - um esfarrapado exército judeu - contra as poderosas tropas sírias de Antíoco IV. . Esse rei - que vivera exilado durante 14 anos em Roma - havia proibido o judaísmo e tinha obrigado a todos a rezar em conformidade com suas crenças e assimilar a cultura grega. Os macabeus pegaram em armas contra essas regras sírias. Tomaram a cidade de Jerusalém e destruíram os símbolos do culto de Antíoco IV, adepto da religião romana e da cultura grega. Antíoco IV proibiu o shabbat, as regras alimentares dos judeus e a circuncisão. No templo de Jerusalém estava instalada uma imagem de Júpiter, onde sacrificavam porcos. Pobres em armas, mas dispostos pela fé, os judeus, comandados por Matatias, instalaram sua fé em Jerusalém, uma cidade que já pertenceu a todas as religiões. Os homens que lutaram pela liberdade religiosa, agora, veem seus descendentes abolirem a liberdade dos outros.

Os Nelson Mandela de 2017 vão para três jovens

12 de dezembro: há 919 anos nascia o ódio muçulmano.

Quase diariamente nos deparamos com alguma atrocidade patrocinada ou realizada pelas correntes fanáticas do islamismo. No Ocidente, passamos a enxergá-los como povos extremados, sedentos por sangue e guerra. Terá sido sempre assim? Onde nasceu tanto ódio contra as populações ocidentais? Há dia e hora para explicar essa animosidade que se eterniza. O nome é "Cerco de Maarate Anumane".
"Os franj estão chegando!", esse era o grito que amedrontava as populações do Oriente na chegada dos "francos", os cruzados como eram chamados. "Eu não sei se o domicílio onde nasci se trata de um pasto de bestas selvagens ou de minha casa", esse grito de aflição de um poeta anônimo de Maarate não é um simples recurso retórico. Temos, infelizmente, que tomar suas palavras ao pé da letra e perguntar-nos : o que aconteceu de tão monstruoso na cidade síria de Maara, como eles a chamavam, no final do ano 1098?
Até a chegada dos franj, seus habitantes viviam pacificamente ao abrigo de uma muralha circular. Seus vinhedos, bem como seus campos de oliveiras e pés de figo, forneciam uma modesta prosperidade. Seus chefes não apresentavam ambições desmedidas. Um fanatismo vindo da Europa destruiria essa vida tranquila.
Essa cidade foi reduzida a um amontoado de ruínas, e a desconfiança a respeito de seus semelhantes europeus, encontrou ali sua mais cruel ilustração. Nos primeiros meses de 1098, os habitantes de Maara acompanharam com preocupação outras batalhas que estavam sendo travadas pelos cruzados. Seus temores foram justificados quando, perto do final de novembro, milhares de franjs cercaram a cidade. Maara não possuía exército, tinha apenas uma simples milícia urbana. A ela se juntam rapidamente milhares de jovens sem experiencia de combate. Durante duas semanas, eles resistem aos cavaleiros franj. Suas armas são risíveis, jogam colméias de abelhas de cima da muralha nos franjs.
Chega a noite de 11 de dezembro. Está muito escuro e os franj ainda não ousam penetrar na cidade, não acreditam que a conquista pode ser tão fácil. Os notáveis de Maara entram em contato com Bohémond, um dos mais importantes chefes dos franjs, que se encontra à frente da tropa. O chefe cruzado promete garantias, salvo-conduto se cessarem o combate. Agarrando-se desesperadamente à palavra de Bohémond, as famílias reúnem-se nas casas e nos porões da cidade e, a noite toda, esperam tremendo.
Na alvorada do dia 12, chegam os franj. É uma carnificina. Durante três dias, eles matam mais de cem mil pessoas e fazem prisioneiros. Esse número encontrado nos textos de Ibn al-Athir deve ser exagerado, Maara devia ter pouco mais de vinte mil residentes. Mas o horror está menos presente no número de vítimas do que no destino quase inimaginável que lhes foi reservado. "Em Maara, os nossos faziam ferver os pagãos adultos em caldeira, fincavam as crianças em espetos e as devoravam grelhadas". Essa confissão do cronista franco Raoul de Caen não foi lida pelos habitantes das localidades próximas a Maara, mas por séculos todos do Oriente se lembrarão dessas atrocidades. Uma mistura de medo e desprezo, tal qual sentimos ao ver os homens do Estado Islâmico decepando cabeças. Os muçulmanos jamais esqueceram o canibalismo dos cruzados. Em toda a literatura árabe, os cruzados serão invariavelmente descritos como antropófagos.

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