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Em Pauta

Pediria uma vaca para o gênio da lâmpada

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/09/2018 09:44
Pediria uma vaca para o gênio da lâmpada

Um bairro em Terenos. A pergunta é feita a uma mulher: "Se pudesse pedir o que quiser, qualquer coisa, para o gênio da lâmpada, o que pediria?". "Quero uma vaca que me dê muito leite, então, se vendo um pouco de leite posso comprar as coisas para fazer bolos... para vendê-los". "Mas, você pode pedir qualquer coisa, não só uma vaca". "Duas vacas? Com duas nunca mais terei fome". A acompanhante, silenciosa até o momento, responde assim à mesma pergunta: "Comida todos os dias. Isso é o que pediria". Reflete um pouco e continua: "Vender frutas na porta de minha casa. Estaria em casa, cuidaria de meus filhos, ganharia um pouco de dinheiro e meus filhos ainda poderiam comer frutas".
Até pouco tempo pensava que a imaginação é uma faculdade que, em maior ou menor medida, todos os humanos desenvolvem. Não falo da imaginação literária ou da criação de ficções - isso é uma pauta à parte -, e sim dessa forma de imaginação imediata, quase inevitável, que dá forma a nossos bons ou maus desejos, que nos permite projetar o futuro, sonhar acordados, idealizar projetos políticos, também antecipar tragédias e desastres. Imaginar o futuro é a única ferramenta para transformar o presente.
Mas há pouco percebi que a capacidade de imaginar é privilégio dos que têm as necessidades básicas resolvidas. Todavia, há muitos que vivem apenas na dicotomia: comerei ou não comerei. Há alguns lugares neste país em que a realidade come a imaginação. Ali não há esperança para esta vida. Às vezes nem sequer para a próxima. Não é possível imaginar um futuro além da luta pela sobrevivência. A vida se limita à preocupação diária, constante, absoluta, de conseguir algo para comer. O horizonte da imaginação está em um saquinho de arroz ou em um pacote de salsichas. São vítimas de fome crônica. Perpétua. E nós, que temos o privilégio de imaginar inventos futuristas, projetos políticos, novelas, filmes, delícias gastronômicas, novas armas de destruição, vivemos como se essa parte do mundo não existisse. Como pode existir se não aparece em nenhum jornal? A fome já não é notícia. Nem mesmo fonte de debate eleitoral. Já não pertence à esquerda... e nem à direita. Sumiu do mundo dos bem aventurados. O gênio da lâmpada comeu a fome.

Pediria uma vaca para o gênio da lâmpada

O que os pobres têm na cabeça?

"É mentira que o pobre é pobre porque quer. Essa vida alguns a naturalizam porque é a única que conhecem". Quem faz essa afirmação é Mayra Arena, uma argentina de 26 anos, que se descreve como "uma colecionadora de todos os conceitos que fazem sobre os pobres". É filha de mãe solteira, não conhece seu pai, têm muitos irmãos que não têm pai, deixou a escola aos 13 anos e foi mãe aos 14. "Se posso mudar a visão de uma só pessoa sobre a pobreza me dou por satisfeita", diz Mayra.
A história de Mayra Arena se tornou conhecida mundialmente há pouco tempo após uma palestra TED - a maior e melhor plataforma sobre ciências e conhecimento humano - em que falou sobre a pobreza desde uma visão diferente.
"O que os pobres têm na cabeça? Fazem essa pergunta quando nos vêem ter muitos filhos, quando nos veem ser violentos, quando nos veem usar tênis trazidos de outro planeta, mas, sobretudo, quando veem que nos pobres continuamos sendo pobres", disse no começo de sua palestra, que em uma semana havia alcançado algo como meio milhão de reproduções. "Nunca havia entrado em um banheiro que tivesse um bidê. Quando vi, pela primeira vez, na casa de uma colega da escola, me perguntei: porque uma casa têm duas privadas? Imaginei que era um para os adultos e outro para as crianças. Tive outra ideia: um é para as mulheres e outro para os homens", conta a palestrante como um segredo que nunca havia confessado. Foi a primeira "luz", a descoberta da pobreza para ela.
"Alguns começam a se dar conta de que são pobres quando ingressam na escola e a violência começa a ser uma forma de vingar-se dos demais por tudo isso que eles têm e outros não", descreve Mayra. "[Nós pobres] incorporamos erroneamente a ideia de que quando somos violentos passam a nos respeitar. Porque quando alguém começa a ser violento, te deixam de perguntar por que usam um tênis tão esfarrapado, porque tua mochila é tão velha, porque nunca traz o que a professora pede...", manifesta. Para ela, não foi só tênis roto ou a mochila velha, foi questionada por uma colega sobre o motivo de usar uma bolsinha para lápis com a figura do Homem-Aranha. "Isso é coisa de homem", disse-lhe a colega. E a ela só restou a afirmação: "Me encanta as coisas dos homens", quando, em verdade, era alucinada pelas coisas de meninas.
“Depois de passar tantos anos usando tênis encontrado no lixo, casacos herdados dos primos, cobertores e calças doados na igreja, quando, finalmente, podemos comprar um tênis bem barato, pela primeira vez na vida, já não basta comprá-lo, temos de mostrar a toda gente que estamos comprando... nos sentimos muito menos pobres com esse tênis.”
"Por que vivem assim? Não gostam de trabalhar? Gostam de viver às custas de planos [de governo]?". Mayra afirma que há uma grande diferença entre a "pobreza estrutural e a pobreza esporádica". Explica que a "pobreza esporádica" ocorre quando a pessoa não encontra emprego, mas sai em busca de trabalho todos os dias e, sobretudo, mandam os filhos à escola todos os dias. Os que crescem dentro da "pobreza estrutural", vivem nas margens da sociedade, ninguém os ensina que devem cumprir obrigações de segunda-feira a sexta-feira, jamais lhes ensinam que devem madrugar todos os dias. "E como todos sabem, o que não aprendemos na infância, é muito difícil de incorporar depois de adultos. A realidade é que não temos incorporado o ritmo laboral", diz Mayra.
Mayra também conta que o que mais desespera os outros é quando descobrem que os pobres têm muitos filhos. "As pessoas se desesperam quando vêem que os pobres têm muitos filhos", diz a palestrante. E faz uma afirmação dura: "Nós pobres temos muitos filhos, porque é a única coisa que podemos ter. E temos muitos, porque encontramos neles a razão de nos levantarmos da cama a cada dia."

Pediria uma vaca para o gênio da lâmpada

Mentiras da história que engolimos sem protestar

Os signos do zodíaco não são doze.

Atenção pessoal do horóscopo, há necessidade de reconfigurar o saber. O que nos contaram? Que os signos do zodíaco são doze. E que a todos nós, em função do mês de nosso nascimento, nos corresponde um signo, que define nossa personalidade e, inclusive, nosso destino.
O que realmente é? Há 3.000 anos a civilização da Babilônia dividiu o zodíaco em doze partes, adjudicando uma constelação a cada uma dessas partes. Conscientes de que a divisão zodiacal não resultava em doze partes exatas, a adaptaram para ter um calendário prático. Sabiam que havia uma décima terceira constelação chamada "Ofiuco" e a excluíram deliberadamente. Em 2016, a NASA cobrou a conta do erro deliberado. Explicou que o eixo da Terra nem sequer aponta na mesma direção que apontava há 3.000 anos. Atualmente, a linha imaginária entre a Terra e o Sol aponta a Virgem durante 45 dias e só 7 a Escorpião. Quer dizer, por exemplo, se alguém faz aniversário no dia 25 de março, até agora seu signo zodiacal era Áries, mas os novos cálculos da NASA revelam que hoje lhe corresponderia ser de Peixes. Assim, o horóscopo inteiro precisa de mudanças. Sinto muito, mas dificilmente vocês serão do signo que se acostumaram e bem conhecem.

 

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