Pensavam que as samambaias poderiam lhes deixar invisíveis
Durante séculos, as samambaias foram as plantas mais estudadas na Europa medieval. Havia uma verdadeira obsessão por encontrar, além da fonte da juventude e um material que convertesse tudo em ouro, alguma coisa que desse aos alquimistas e poderosos da época, o poder da invisibilidade. A chance estava nas samambaias. Como explicar essa “alucinação” por essas plantinhas?
Muito, muito velhas.
Em termos evolutivos as samambaias são muito, muito mais antigas dos que as plantas com flores. Elas surgiram antes de a evolução sequer sonhar com o conceito de sementes. As samambaias se reproduzem sem elas. Durante séculos, a inexistência de sementes de samambaia deixou os europeus encafifados. Para eles, todas as plantas tinham sementes, tratava-se de um elemento chave na reprodução. Como eles não conseguiam achar suas sementes? A lógica da época dizia-lhes que elas deviam ser invisíveis.
Humanos invisíveis.
Os medievais, especialmente quando a família italiana dos Medecis começou a investir pesado nas descobertas de novas plantas da América Latina, já entendiam o valor que elas poderiam ter. Encontrar as sementes das samambaias daria aos humanos o poder da invisibilidade, era o pensamento comum.
Sexo por esporos e não sementes.
Muito tempo depois, descobriram que o sexo das samambaias se revelou bem mais esquisito do que se imaginava. Para começar, elas se reproduzem a partir de esporos, não de sementes. Mas existe uma “pegadinha”: elas tem um espermatozoide que sabe nadar, como os nossos.
E a medalha de ouro vai para a….samambaia.
Esse espermatozoide é um campeão. Nada sessenta minutos velozmente, sem cansar. É possível ver essa façanha em um microscópio. Cai na água e sai nadando em busca de um óvulo que vive em uma bolsinha chamada “gametófito”. Um grande atleta de resistência, tem um formato que o atrapalha, parece com uma rolha minúscula. E são verdadeiramente “mágicos” e sacanas: emitem um hormônio que inibe a concorrência de outros espermatozoides de samambaia, fazendo-os desacelerar. Sabotam os adversários.
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