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Ensinar Juntos

Geração Z e a inteligência emocional

Por Carlos Alberto Rezende (*) | 14/05/2025 08:33

Certo dia, em um almoço com um casal de amigos e seu filho adolescente, vivi uma situação na qual gerou a reflexão que hoje divido com vocês. O filho do casal é vegetariano e depois de muito estudar o cardápio e se certificar de que o prato escolhido não teria sequer resquício de qualquer tipo de carne, ele escolheu um caldo de mandioca com torradas. Assim que os pedidos chegaram, o jovem observou um fiapo de carne no seu prato o que o levou a um descontrole emocional descomunal; aos gritos, chorando, pediu para que o pai fosse reclamar e trocar o prato. Foi uma situação extremamente desagradável, pois além de acabar com o nosso almoço, revelou a fragilidade emocional das nossas crianças.

Nas últimas décadas, o mundo vem observando uma revolução tecnológica sem precedentes. As distâncias diminuíram, os processos foram acelerados e passamos a ter respostas a problemas complexos da vida na palma das nossas mãos, gerando muita ansiedade. Nesse cenário, as novas gerações deveriam ser as mais beneficiadas, colhendo os frutos de um mundo mais dinâmico e descomplicado deixado pelos mais velhos. A verdade, porém, é que o oposto acontecendo.

Uma pesquisa publicada em 2022, pela consultoria internacional McKinsey, ao longo da pandemia de Covid-19, revelou que os níveis de bem-estar social e emocional da geração Z (de nascido entre 1995 e 2010) são os mais baixos entre todas as gerações.

Segundo os dados da amostra, essa é uma conclusão baseada em dados de jovens que têm entre 16 e 24 anos e que, nos últimos dois anos, estão em fase de transição entre os estudos e a vida profissional. Os dados foram recebidos com tanta preocupação que fizeram com que o cirurgião estadunidense Vivek Murthy emitisse um alerta de saúde pública para informar que a crise de saúde mental da juventude piorou durante a pandemia de Covid-19. “Uma série de pesquisas de consumo e entrevistas conduzidas pela McKinsey indicaram diferenças agudas entre as gerações, com a geração Z reportando o panorama menos positivo sobre a vida”, diz o artigo publicado pela equipe da consultoria.

Entre os entrevistados, a geração que mais sofreu emocionalmente durante a pandemia de Covid-19 foi a geração Z, de acordo com os números abaixo:

- Geração Z: 25% (nascidos entre 1997 e 2010)

- Millenial (Y): 13% (nascidos entre 1981 e 1996)

- Geração X: 13% (nascidos entre 1965 e 1980)

- Baby Boomer: 8% (nascidos entre 1946 e 1964)

Ainda segundo o artigo: “Embora pesquisas de consumo sejam, com certeza, subjetivas e a Geração Z não é a única geração a relatar sofrimento, empregadores, educadores e líderes de saúde pública podem querer considerar o sentimento dessa geração emergente em como eles planejam o futuro”.

A educação permissiva pode contribuir para a formação de jovens emocionalmente frágeis de várias maneiras:

  • A falta de limites: em um ambiente permissivo, as crianças podem crescer sem limites ou regras claras, o que pode dificultar a capacidade de lidar com situações que exigem autocontrole e disciplina. Isso pode resultar em dificuldades em aceitar a frustração e lidar com desafios.
  • Expectativas irrealistas: jovens criados em ambientes onde suas vontades são sempre atendidas podem desenvolver expectativas irreais sobre a vida, acreditando que devem ser sempre felizes e bem-sucedidos. Isso pode levar a uma incapacidade de lidar com o estresse e a pressão.
  • Dificuldade em aceitar críticas: a falta de feedback construtivo pode impedir que os jovens desenvolvam resiliência. Se eles nunca enfrentarem críticas ou desafios, podem ter dificuldade em aceitar e aprender com falhas, resultando em fragilidade emocional.
  • Habilidades sociais comprometidas: a educação permissiva pode limitar as oportunidades de interação com outras crianças em situações que exigem negociação e resolução de conflitos. Isso pode resultar em dificuldades nas habilidades sociais e na capacidade de formar relacionamentos saudáveis.
  • Dependência emocional: quando os jovens são excessivamente protegidos ou mimados, podem se tornar dependentes emocionalmente de figuras parentais ou de cuidadores. Isso pode levar a uma falta de confiança em si mesmos e nas próprias capacidades, aumentando a fragilidade. A ausência de regras e consequências pode resultar em um déficit de autocontrole. Jovens que não aprendem a regular suas emoções e comportamentos podem enfrentar dificuldades em situações que exigem maturidade emocional.

Para promover um desenvolvimento emocional saudável, é importante equilibrar a permissividade com limites claros e orientações adequadas, deixando que os jovens aprendam a navegar em um mundo que, muitas vezes, é desafiador e exigente. O uso excessivo da tecnologia está, de fato, associado à formação de jovens que podem ser mais ansiosos e emocionalmente frágeis. Aqui estão algumas maneiras pelas quais essa relação se manifesta:

  • A comparação social: as redes sociais frequentemente apresentam imagens idealizadas da vida dos outros, levando os jovens a fazer comparações negativas com suas próprias vidas. Isso pode causar sentimentos de inadequação, baixa autoestima e, consequentemente, ansiedade.
  • Dificuldade em lidar com as emoções: o tempo excessivo em ambientes virtuais pode limitar as oportunidades de contato físico e interações sociais que ajudam os jovens a desenvolverem inteligência emocional. Eles podem se tornar menos habilidosos em reconhecer e lidar com as suas próprias emoções e as dos outros.
  • O Isolamento social: embora a tecnologia possa facilitar a conexão, o uso excessivo pode levar ao isolamento social. Jovens que passam muito tempo online podem negligenciar amizades e interações cara a cara, o que é fundamental para a saúde emocional.
  • Distorção da realidade: a exposição constante a informações e imagens na internet pode levar a uma percepção distorcida do mundo, criando uma sensação de insegurança e medo. Isso pode aumentar a ansiedade em relação a eventos sociais e à vida em geral.
  • Impacto no sono: o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente antes de dormir, pode afetar a qualidade do sono. A privação de sono está relacionada à ansiedade e à dificuldade de gerenciamento emocional.
  • Vídeo e jogos violentos: a exposição a conteúdo violento em videogames e online pode dessensibilizar os jovens à agressividade e à empatia, afetando seu bem-estar emocional e suas relações interpessoais.
  • Ativação do sistema de recompensa: o uso da tecnologia, especialmente redes sociais e jogos, ativa o sistema de recompensa do cérebro, levando à busca constante por validação e gratificação instantânea. Isso pode resultar em um comportamento impulsivo e dificuldade em tolerar a frustração.

A combinação do uso excessivo da tecnologia com a educação permissiva pode agravar a fragilidade emocional. É importante que os jovens aprendam a usar a tecnologia de forma equilibrada e consciente, o que pode incluir o estabelecimento de limites no uso de dispositivos, o fortalecimento de habilidades sociais e o incentivo à prática de atividades físicas e interações ao vivo.

A escola desempenha um papel crucial no desenvolvimento da inteligência emocional dos jovens. Acredito em algumas maneiras de como as instituições de ensino podem contribuir para essa melhoria:

1. Programas de educação emocional: implementar currículos que ensinem habilidades emocionais, como reconhecimento e regulação de emoções, empatia e resolução de conflitos. Esses programas podem incluir atividades interativas, discussões em grupo e jogos de interpretação de papéis.

2. Criação de um ambiente seguro: fomentar um ambiente escolar acolhedor e seguro onde os alunos se sintam confortáveis para expressar suas emoções e pensamentos. Isso pode incluir políticas anti-bullying e um espaço onde os alunos possam falar abertamente sobre suas preocupações.

3. Modelagem comportamental: professores e funcionários podem servir como modelos de inteligência emocional ao demonstrar empatia, escuta ativa e habilidades de resolução de conflitos em suas interações diárias.

4. Apoio psicológico: disponibilizar serviços de orientação e apoio psicológico para ajudar os alunos a lidarem com suas emoções e desafios pessoais. Ter um psicólogo escolar pode proporcionar um recurso importante para os estudantes.

5. Treinamento para professores: oferecer formação contínua para professores em inteligência emocional, para que possam cultivar essas habilidades em sala de aula e reconhecer a importância da saúde emocional no aprendizado.

6. Atividades de grupo: promover atividades em grupo que incentivem o trabalho em equipe, a cooperação e a empatia. Projetos colaborativos, debates e ações comunitárias podem fortalecer os laços emocionais entre os alunos.

7. Promoção da empatia: incentivar iniciativas como programas de mentoria, onde alunos mais velhos ajudam os mais jovens. Isso pode cultivar empatia e responsabilidade social.

8. Envolvimento da família: colaborar com os pais e responsáveis para reforçar a inteligência emocional em casa. Oferecer workshops ou recursos para que as famílias aprendam sobre a importância e as práticas de desenvolvimento emocional.

O esporte nas escolas pode desempenhar um papel fundamental na formação de cidadãos inteligentes emocionalmente e no desenvolvimento de habilidades sociais. O esporte promove a interação entre os alunos, ensinando-os a trabalhar em equipe, a cooperar e a respeitar os outros. Essas habilidades são essenciais para construir relacionamentos saudáveis e para a convivência em sociedade.

Durante as atividades esportivas, os alunos enfrentam situações de vitória e derrota, o que os ajuda a lidar com frustrações, a celebrar conquistas e a desenvolver resiliência. Isso contribui para uma melhor gestão das emoções no dia a dia, melhora a autoconfiança e autoestima. O esporte pode ajudar os alunos a descobrirem suas habilidades e potencialidades, aumentando sua autoconfiança e autoestima. Quando se sentem capazes, eles são mais propensos a enfrentar desafios com uma atitude positiva. Além de tudo, a prática esportiva exige disciplina, organização e foco, habilidades que são transferíveis para outras áreas da vida, como os estudos e o trabalho; isso ajuda os alunos a se tornarem mais responsáveis e comprometidos.

Ao competir e interagir com colegas de diferentes origens e habilidades, os alunos aprendem a se colocar no lugar do outro, desenvolvendo empatia e respeito pelas diferenças. O esporte, muitas vezes, envolve situações de conflito, seja dentro da equipe ou com adversários; aprender a resolver esses conflitos de maneira pacífica e construtiva é uma habilidade valiosa para a vida. A prática regular de esportes está associada à redução do estresse, ansiedade e depressão. Um aluno que se sente bem emocionalmente está mais preparado para lidar com os desafios da vida.

Em resumo, o esporte nas escolas não apenas contribui para a saúde física dos alunos, mas também desempenha um papel crucial no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais que são essenciais para a formação de cidadãos equilibrados e conscientes.

(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram @oprofcarlao.

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