"Palavra de homem não faz curva": acusado de golpe prometia lucros de 140%
Denúncia, apresentada ao Ministério Público, aponta prática de fraudes de ativos financeiros e estelionato

O corretor de imóveis Carlos Roberto Pereira Júnior, que tem histórico de crimes de estelionato, voltou a ser denunciado por fraude financeira. A nova acusação partiu de um médico de 43 anos, vizinho do suspeito em condomínio de alto padrão na região do Shopping Campo Grande. A denúncia, apresentada ao Ministério Público e disponível no portal da instituição, aponta prática de fraudes de ativos financeiros, estelionato e falsidade ideológica.
RESUMO
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Corretor de imóveis é acusado de estelionato por vizinho em Campo Grande. A vítima, um médico de 43 anos, alega ter sido enganado pelo corretor Carlos Roberto Pereira Júnior, com promessas de lucros exorbitantes em investimentos numa suposta Sociedade de Propósito Específico (SPE). O médico investiu mais de R$ 83 mil, valor que representava toda sua reserva financeira. O golpe teria começado com conversas informais no elevador do condomínio de luxo onde ambos residem. Carlos Roberto, com um histórico de crimes semelhantes, convenceu o médico a investir em cotas da SPE, garantindo retorno de 140% em 120 dias. As investigações apontam que a SPE nunca existiu e que o corretor utilizou documentos falsos. A vítima, que sonhava em comprar seu primeiro imóvel, agora busca justiça.
Segundo a representação criminal, o golpe começou em conversas casuais no elevador do prédio, onde Carlos Roberto se apresentou como especialista em negócios de alta rentabilidade. Ele ofereceu ao médico a oportunidade de investir em cotas de uma suposta SPE (Sociedade de Propósito Específico), prometendo lucros superiores a 140% em até 120 dias.
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Com discurso seguro e confiante, o corretor conquistou a confiança do médico. Entre novembro de 2024 e junho deste ano, a vítima fez seis depósitos que somaram R$ 83.655,63. Os valores foram transferidos para conta de pessoa jurídica nas seguintes datas: R$ 24.830 em 12 de novembro; R$ 6 mil em 14 de novembro; R$ 18.830 em 5 de dezembro; R$ 223,63 em 19 de dezembro; R$ 29.772 em 24 de fevereiro; e R$ 4 mil em 7 de março.
O médico relatou ter investido toda a sua reserva de emergência, motivado pelo sonho de adquirir o primeiro imóvel. O corretor reforçava que o negócio era “garantido” e que já havia realizado operações semelhantes para outros clientes.
Entretanto, as investigações apontam que a SPE jamais existiu. Para dar aparência de legalidade, o acusado chegou a produzir recibos com informações falsas. O histórico criminal de Carlos Roberto inclui condenação por estelionato, cuja pena já prescreveu, e múltiplos registros por golpes semelhantes. O médico tentou, por inúmeras vezes, reaver o valor investido, mas sem sucesso.

Como começou o golpe - Os encontros no elevador social do condomínio foram o ponto inicial para a fraude. Apresentando-se como corretor de imóveis e especialista em investimentos de alta rentabilidade, Carlos Roberto solicitou o contato telefônico do médico e passou a enviar mensagens pelo WhatsApp, oferecendo-se para “atender, ver opções de investimentos ou moradia”.
Apesar do médico inicialmente demonstrar pouco interesse, por estar em residência médica e não dispor de capital suficiente, o suspeito usou estratégias para conquistar sua confiança. Citava supostos colegas do médico que investiam no mercado imobiliário e prometia facilidades na compra de imóveis com entradas reduzidas, embora a vítima tenha ignorado essas ofertas.
Para manter o contato, o corretor puxava conversa sobre temas pessoais, como o automóvel da vítima, com o falso pretexto de interesse em comprar um carro semelhante. Com o avanço das conversas, o médico revelou morar em apartamento alugado e manifestou o desejo de adquirir a casa própria, mesmo com limitações financeiras. O golpista identificou essa vulnerabilidade e passou a oferecer investimentos fictícios com rentabilidade suficiente para concretizar o sonho do vizinho.
No dia 22 de outubro de 2024, o estelionatário convenceu o médico a adquirir cotas da SPE por R$ 24 mil, prometendo retorno mínimo de R$ 64 mil em até 120 dias, lucro superior a 266%. Alegava que a SPE envolvia a compra conjunta de uma área atrás da Uniderp Agrárias por 50 pessoas, incluindo seu pai, coronel das forças de segurança, além de médicos e advogados, tentando reforçar a confiança da vítima.
Embora o médico tenha solicitado documentação para análise com seu assessor financeiro, o suspeito não apresentou documentos oficiais, usando desculpas para não fornecer provas concretas da operação. Apenas no final de outubro, enviou arquivo em PDF descrito como minuta do contrato social da “SPE Jardim Veraneio”, que não passava de um esboço genérico baseado em modelo encontrado na internet.
Apesar do alerta do consultor financeiro para que ficasse “fora disso”, Carlos Roberto tentou tranquilizar o médico com elogios pessoais e argumentos que garantiam a segurança do negócio, pressionando-o a adquirir duas cotas da SPE. Aproveitando a vulnerabilidade da vítima, continuou oferecendo “oportunidades imperdíveis” para compra de apartamentos, reforçando sua credibilidade com a afirmação: “palavra de homem não faz curva”, ressaltando que eram vizinhos, moravam no mesmo prédio.
Após o prazo prometido pelo estelionatário e várias tentativas frustradas de receber os valores devidos, o médico procurou orientação jurídica especializada. Foi então aconselhado a solicitar a Carlos Roberto o envio dos atos constitutivos da SPE. Em resposta, o golpista admitiu que a sociedade jamais foi formalmente constituída, revelando a fraude praticada ao longo do processo, conforme consta na denúncia. Dessa forma, o médico acionou a Justiça e pede a condenação do acusado.

Procurado, o advogado do médico, Lucas Brandolis, informou por meio de nota que “não pretende revelar dados da investigação neste momento, inclusive para não frustrar diligências em curso”. Ele também destacou que é “fundamental que vítimas de crimes dessa natureza busquem orientação jurídica especializada para a adoção das medidas cabíveis, com vistas à recuperação dos valores e à responsabilização nas esferas civil, penal e administrativa”.
Brandolis ainda advertiu que “interessados na aquisição de cotas de SPE (Sociedade de Propósito Específico) ou em outras formas de investimento coletivo devem examinar com especial cautela a documentação e, em caso de dúvida, consultar profissional habilitado antes de concluir o negócio”.
Ficha extensa - Carlos Roberto possui extenso histórico criminal, com 39 ocorrências registradas pela Polícia Civil, incluindo estelionato, furto e receptação. Já foi preso diversas vezes, entre elas em 2016, acusado de enganar mulheres e causar prejuízo de R$ 160 mil. Também foi vítima de tentativa de homicídio.
Entre os golpes, há casos em que uma vítima perdeu mais de R$ 30 mil e outro em que ele comprou celulares com cheques sustados. Em outra ocorrência, usou o nome de um coronel da Polícia Militar para adquirir R$ 4 mil em roupas sem pagar. Apesar dos lucros ilícitos, perdeu a chance de ingressar na PM por conta dos processos judiciais.
Em novembro de 2021, foi alvo de atentado na Mata do Jacinto, quando levou oito tiros. Socorrido consciente, ficou 20 dias internado na Santa Casa e recebeu alta. A polícia não divulgou informações sobre autoria ou motivação do crime.
Conforme o Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), Carlos Roberto está apto a exercer a profissão e não há registros de denúncias contra ele, nem como pessoa física, nem jurídica. Ele tem inscrição no Conselho desde o ano passado. O órgão informa que denúncias podem ser feitas pelo telefone (67) 99234-8680. A reportagem fez ligação e enviou mensagem a Carlos, mas não obteve resposta.
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