Os tempos são outros, mas os valores são os mesmos
Vivemos em uma era de transformações aceleradas, na qual a tecnologia, a ciência e os costumes evoluem em ritmo sem precedentes. A física moderna chega a questionar a própria natureza do tempo, sugerindo que sua passagem pode ser uma mera ilusão. No entanto, embora os tempos sejam outros, os valores fundamentais que regem a conduta humana, como respeito, empatia, solidariedade e integridade, permanecem inalterados. Este artigo visa explorar essa aparente contradição, analisando como a essência moral humana transcende as mudanças superficiais da sociedade.
A percepção do tempo traz uma certa nostalgia. É comum ouvirmos que "no passado, tudo era melhor". Esse sentimento, no entanto, não é novo. Como destacado em reflexões sobre a história, até Cícero, na Roma Antiga, lamentava a corrupção de seus tempos. Me recordo que tive uma infância humilde, rigorosa e simples, contrastando com a complexidade da era digital. Cada geração enfrenta seus próprios desafios; guerras, crises econômicas e pandemias sempre existiram, mas a visibilidade moderna amplifica a percepção de caos. A verdade é que, independentemente da época, os seres humanos buscam os mesmos ideais: segurança, felicidade e significado.
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A internet revolucionou a comunicação, mas também introduziu riscos, como a exposição de crianças a conteúdos perigosos. No entanto, a tecnologia em si não é boa nem má, seu uso depende dos valores de quem a maneja. Assim como no passado os pais alertavam sobre "o homem do saco", hoje precisam vigiar o mundo digital, mas a preocupação central permanece a mesma: proteger e educar os filhos. A Logosofia, ciência que estuda a evolução humana, enfatiza que, apesar das diferenças individuais, todos compartilhamos inquietudes espirituais semelhantes, como a busca por propósito e conexão.
O tempo como aliado, não como inimigo. A frase "tempo é dinheiro" domina a sociedade moderna, mas tragédias recentes nos lembram que o verdadeiro valor do tempo está em como o usamos para fortalecer relações e servir ao próximo. Planejar o dia, equilibrar responsabilidades e dedicar momentos ao afeto são práticas atemporais. Como escreveu José Saramago: "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo". Essa sabedoria ressoa em todas as eras, pois o presente é o único momento em que podemos viver nossos valores. A física pode questionar se o tempo é real, a tecnologia pode evoluir e os costumes podem mudar, mas a essência moral humana, expressa em valores como compaixão, respeito e integridade, permanece imutável. Santo Agostinho dizia: "Os tempos somos nós"; cabe a nós, portanto, cultivar e repassar esses valores às futuras gerações, garantindo que, mesmo em outros tempos, o que é verdadeiramente importante nunca se perca, porque esses valores são tão permanentes quanto a própria condição humana.
Os valores humanos já citados anteriormente são imutáveis e permanecem inalterados, pois são a base ética que transcende tempo, cultura e contexto. Valores imutáveis são aqueles que resistem ao teste do tempo porque estão enraizados na natureza humana essencial. Eles não dependem de circunstâncias externas, como avanços tecnológicos ou mudanças políticas, mas sim de necessidades e aspirações universais, por exemplo:
- Busca por significado: humanos anseiam por propósito e conexão, algo que vai além do material.
- Interdependência social: a sobrevivência e o florescimento dependem da cooperação e do respeito mútuo.
- Consciência moral: a capacidade de distinguir entre certo e errado é inata, embora sua expressão varie culturalmente.
Ao traçar um paralelo entre o passado e o presente dos valores imutáveis, há uma significativa mudança no caminho, mas o destino continua o mesmo:
1. Respeito e dignidade humana
- No passado: civilizações antigas, como a grega e a chinesa, já cultivavam o respeito pelos mais velhos e pela sabedoria.
- No presente: movimentos sociais modernos, como os de direitos humanos, defendem a dignidade de todos, independentemente de origem, gênero ou credo.
2. Empatia e solidariedade
- No passado: comunidades sempre se uniram em tempos de crise, como em guerras ou epidemias.
- No presente: durante a pandemia de COVID-19, vimos exemplos globais de solidariedade, desde doações até apoio emocional entre desconhecidos.
3. Integridade e honestidade
- No passado: figuras como Sócrates e Confúcio foram exemplos de integridade, mesmo enfrentando perseguição.
- No presente: líderes éticos são cada vez mais demandados pela sociedade, que valoriza a transparência e a coerência.
4. Justiça e equidade
- No passado: códigos legais antigos, como o de Hamurábi, já buscavam estabelecer justiça, ainda que de forma rudimentar.
- No presente: A luta por igualdade de oportunidades e contra a discriminação continua a ser um pilar moral. Valores como cooperação e respeito são necessários para a estabilidade de qualquer grupo humano. Estudos em psicologia evolutiva sugerem que a empatia e a reciprocidade são adaptações vantajosas para a espécie. Embora expressos de formas diferentes, esses valores aparecem em todas as culturas, como mostram trabalhos antropológicos.
A era digital trouxe novos dilemas, como a disseminação de desinformação e a erosão da privacidade. No entanto, esses desafios não invalidam os valores imutáveis, pelo contrário, reafirmam sua importância. Por exemplo:
- A ética digital exige que apliquemos valores “antigos”, como honestidade e respeito, em novos contextos.
- A globalização mostrou que valores como compaixão e justiça devem ser estendidos para além das fronteiras nacionais.
Isso reforça que, independentemente das ferramentas disponíveis, seja um discurso em praça pública ou uma live nas redes sociais, a base ética deve ser a mesma.
Quando eu ouço pais afirmando não conseguir educar os filhos e filhas da mesma forma que eles foram educados porque os tempos são outros, a esse pai e a essa mãe eu respondo: “A base da educação de vocês foram a ética e os valores humanos, e não a época vivida; os valores continuam os mesmos. Cabe a cada geração reinterpretar e vivificar esses valores, adaptando-os às novas realidades sem perder sua essência. Reflitam sobre isso...”
(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram: @oprofcarlao.

