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Economia

Carvão vegetal pode colocar MS na condição de produtor de aço

Carlos Martins | 19/11/2012 14:49
Presidente do SindiCARV, Marcos Brito, prepara lançamento de projeto para modernizar o setor (Foto: Minamar Júnior)
Presidente do SindiCARV, Marcos Brito, prepara lançamento de projeto para modernizar o setor (Foto: Minamar Júnior)

Utilizado em setores tão diversos, como na indústria química, farmacêutica, construção civil, e na produção do ferro gusa, o carvão vegetal está em vias de alçar o Estado ao estágio final da cadeia produtiva que responde hoje por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso do Sul (estimado em R$ 36 bilhões - dados de 2009). Quinto maior produtor de ferro gusa do País (cerca de 1 milhão de toneladas/ano), a nossa indústria já produz o suficiente para abastecer inicialmente uma aciaria – equipamento usado para produzir o aço – de pequeno porte. Os investimentos previstos para o setor já no próximo ano, ajudarão a criar mais 3 mil empregos, numa atividade que emprega hoje 7 mil pessoas.

Em janeiro, o lançamento do “Projeto Carvão Vegetal Cidadão”, marcará o início de uma transformação que, ao final de três ou quatro anos, colocará o setor produtivo em outro patamar. À frente do projeto está o Sindicato das Indústrias dos Produtores de Carvão Vegetal de Mato Grosso do Sul – SindiCARV juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores de Extração Mineral e Carvão Vegetal de Mato Grosso do Sul (Sitiemc-MS). No próximo dia 3 de dezembro, o Sindicato realiza no Ministério do Trabalho a última reunião para a apresentação final do projeto.

“O projeto é fundamente para promover melhorias. Irá consolidar a qualificação do trabalhador na indústria do carvão preparando o Estado para entrar no estágio da produção do aço. Se estamos melhorando o índice tecnológico do setor, a mão de obra também precisa ser qualificada”, diz Marcos Brito, presidente do SindiCARV.

E as perspectivas para o setor realmente são auspiciosas. No próximo dia 28 de novembro o SindiCARV participa em Brasília de uma reunião na qual poderá se confirmar a viabilização de recursos para o setor oriundos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Será o fruto de um projeto intitulado de “Modernização da Produção de Carvão vegetal no Brasil” e que foi entregue em 2010 ao MDIC durante encontro com representantes dos setores do aço e do ferro gusa de todo o Brasil, ocasião em que foram discutidos projetos de inovação tecnológica para o setor.

Produção - Com capacidade instalada de 200 mil metros cúbicos por mês, a produção atual é de 140 mil metros cúbicos por mês de carvão vegetal. Segundo o sindicato, 85% da produção atende as siderúrgicas, 7% o consumo doméstico (churrascarias etc) e o restante as indústrias químicas, farmacêutica, construção civil, indústria bélica, entre outras.

O carvão vegetal, que até o ano 2000 era vendido para Minas Gerais, abastece hoje seis altos fornos das siderúrgicas Vetorial (2 em Ribas do Rio Pardo, 2 em Corumbá e 1 em Campo Grande) e Simasul (em Aquidauana). Com investimentos e tecnologia a projeção é de crescimento para o setor com a consequente geração de empregos. Segundo maior produtor de carvão vegetal do País, Mato Grosso do Sul possui ainda a segunda maior reserva de minério de ferro do Brasil, em Corumbá. É neste município, que uma siderúrgica adquirida pela Vetorial Siderurgia mantém uma planta industrial com capacidade suficiente para implantar uma aciaria.

A organização e estruturação do setor em Mato Grosso do Sul começou em 2008 com a criação do SindiCARV. Ao assumir a presidência do sindicato, Brito (em segundo mandato) se reuniu com as siderúrgicas e explicou seus planos para melhorar o nível e a qualidade da produção. O presidente disse que o sindicato iria investir no setor, na qualificação dos trabalhadores e que as próprias siderúrgicas seriam beneficiadas. “Expliquei que na hora em que tiver o filiado produzindo cem por cento de forma ambiental legal, com total segurança do trabalhador, e com o produto certificado, o trabalho teria que ser valorizado com o pagamento de um melhor preço pelo produto”.

E o incentivo veio na forma do preço diferenciado. Mediante um incentivo das siderúrgicas em parceria com o SindiCARV, o produtor filiado recebe seis reais a mais por tonelada. “Isso incentivará os produtores a se filiar, pois o sindicato oferece vários serviços, como assessoria ambiental, técnica e jurídica”, explica o presidente. Em Corumbá, por exemplo, o preço pago ao produtor associado é de R$ 416 por tonelada. O resultado é que mais de 80% das empresas estão filiadas. Dos cerca de 300 produtores de carvão vegetal, atualmente 245 são associados.

A madeira usada para produzir o carvão provém de material lenhoso (floresta desmatada), de supressão vegetal legalizada e ainda de áreas degradadas que estão sendo recuperadas com o plantio de florestas de eucalipto atendendo aos Planos de Suprimento Sustentável (PSS) das siderúrgicas que atuam no estado. A Vetorial desde 2003 vem investindo em florestas plantadas. Atualmente, a empresa planta 40 mil hectares (próprias e de terceiros) e deve atingir 100% de sustentabilidade em 2018 quando a área plantada atingir 83 mil hectares.

Atualmente o SindiCARV tem 245 filiados distribuídos em 41 municípios (Foto: Minamar Júnior)
Atualmente o SindiCARV tem 245 filiados distribuídos em 41 municípios (Foto: Minamar Júnior)

Parceria e apoio - Patrocinado pelas siderúrgicas Vetorial e Simasul, o “Projeto Carvão Vegetal Cidadão” tem diversas entidades como parceiras (FIEMS, Senai, Famasul, Senar, Sebrae, secretarias estaduais e municipais e universidades federais e estaduais) e o importante apoio técnico de órgãos e entidades ligadas ao trabalho, como a Fundacentro (Ministério do Trabalho e Emprego) e do Ministério Público do Trabalho (MS). “O ministério viu realmente que nós queríamos o apoio para mudar, inclusive a imagem do setor”, diz o presidente.

É justamente o resgate da imagem institucional do setor produtivo o objetivo principal do projeto e o consequente resgate da dignidade da classe trabalhadora das unidades de produção de carvão vegetal de Mato Grosso do Sul. “Estamos num processo de transição e hoje a produção em escala industrial, com a mecanização, atinge um índice de 35% a 40%”, revela Marcos Brito. Isso significa que a utilização de fornos rudimentares (conhecidos como “rabo quente”) está dando lugar a um sistema moderno, totalmente computadorizado.

O projeto quer também, dos órgãos fiscalizadores, o respaldo necessário para o bom andamento. Entre as metas, ao longo de sua execução, estão: melhorar as condições de trabalho, saúde e segurança em 300 Unidades de Produção de Carvão no período de 2 a 3 anos; obter a adesão mínima de 40 empresários e produtores de carvão vegetal, atender de forma direta, no mínimo, 5 mil trabalhadores do setor e qualificar pelo menos 10 dirigentes sindicais (patronal e laboral) para o acompanhamento do projeto.

Três grupos de trabalho estarão acompanhando a implementação do projeto: Comitê Gestor (presidentes do SindiCARV e do Sitiemc-MS), Comitê Consultivo (órgãos ligados ao trabalho) e Coordenação Técnica (administrativo e financeiro e equipes técnicas). Ao final do projeto, entre os resultados, espera-se alcançar melhoria das condições de trabalho, aumento da sindicalização, melhor remuneração do carvão vegetal, aumento no volume de negócios e melhoria na qualidade do carvão vegetal.

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