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Economia

De volta às ruas, ambulantes não querem ouvir falar de camelódromo

Paula Maciulevicius | 16/07/2012 15:35

Prefeitura diz que fiscaliza, mas no centro eles voltaram a se espalhar, como há 13 anos, antes de Centro Comercial Popular ser criado

Além dos comércios de lojas, a 14 de Julho abriga boa parte dos ambulantes que vendem de tudo um pouco. (Foto: Minamar Júnior)
Além dos comércios de lojas, a 14 de Julho abriga boa parte dos ambulantes que vendem de tudo um pouco. (Foto: Minamar Júnior)

Andando pelo centro da cidade se vê de tudo um pouco. E ultimamente esse de “tudo um pouco” inclui vendas de meias, leggings, antena e controle para televisão e por aí vai.

As ruas 14 de Julho, 13 de Maio e Barão do Rio Branco, no coração comercial da cidade viraram refúgio dos vendedores ambulantes, como só se viu em décadas passadas. Não se consegue andar pelas ruas sem que itens de casa ou acessórios “pulem” à frente dos pedestres, acompanhados da chamada para promoção ou leva dois e paga tantos.

O cenário de vendas irregulares que aos poucos vem aumentando era o mesmo visto há 13 anos, quando a Prefeitura, na tentativa de solucionar o comércio informal instalado no centro, criou o Centro Comercial Popular, mais conhecido como Camelódromo. A diferença é que hoje os vendedores não querem solução, nem cogitam a ideia de transferir a informalidade para trás de um balcão.

“Não vale a pena ir pro camelô, já tenho tantos anos de rua. Não tenho dinheiro para pagar uma banca e fico aqui mesmo. Já vendi de tudo”, diz o ambulante das antenas, que fica geralmente, na 14 de Julho.

Em frente à grandes lojas, até para evitar conflitos, os ambulantes tentam vender seu "peixe", de olho nos fiscais. (Foto: Minamar Júnior)
Em frente à grandes lojas, até para evitar conflitos, os ambulantes tentam vender seu "peixe", de olho nos fiscais. (Foto: Minamar Júnior)

Os vendedores recuam, é só passar da pergunta “quanto custa” que percebem de cara que é reportagem. Se recusam a dar nomes e ficam atentos o tempo todo à fiscalização.

O mesmo ambulante das antenas fala que por trabalhar tantos anos ali, já tem as manhas. “A gente sai correndo, porque eles pegam mesmo, tem uns que são mais atrevidos. Mas assim como a gente, só estão fazendo o trabalho deles”, completa.

Um pouco mais adiante, ainda na 14 de Julho, uma moça nova oferece meias para o frio e leggings. As duas mãos estão cheias de roupas à mostra e nos pés uma sacola com mais mercadoria. Para o Campo Grande News ela conta que está ali desde o final do ano.

“Aqui não precisa de nada, você não precisa de estudo e nem pagar”. A jovem tem 20 anos, dois filhos e estudou só até o 8° ano.

Já na Barão do Rio Branco, o produto oferecido é a meia de tatuagem, que no braço imita desenhos. O vendedor tem lábia, diz que esquenta no frio e é fresco no calor. Ele responde que não é de Campo Grande e está ali só de passagem. “Por causa da fiscalização eu vou embora amanhã pra Prudente. O povo vem e toma aqui. Hoje acho que os fiscais já devem ter vindo ou é o frio, porque não tem muito não”, diz.

Os comerciantes que ocupam lojas e bancas e pagam impostos fazem vista grossa ou já de acostumaram com a cena. O dono de uma banca diz que por ali se vende de tudo. “Guarda-chuva, controle, até a mãe eles vendem se deixar... Mas eu acho que o mercado está aí pra todo mundo, eles tem que se virar também”, comenta.

Em épocas de inverno, as ruas são tomadas por vendas de meias, leggings, luvas e gorros. (Foto: Minamar Júnior)
Em épocas de inverno, as ruas são tomadas por vendas de meias, leggings, luvas e gorros. (Foto: Minamar Júnior)

Hélio de Andraus Gaoma é um dos comerciantes mais antigos. Já viu de tudo em 52 anos de banca no centro da cidade. “Nada disso me atrapalhou na vida. Eles não têm o que não vender, o que acham na reta põe”, explica.

Gerente de uma loja na esquina das ruas 14 de Julho e Dom Aquino, onde uma senhora monta todo dia uma banquinha colocada ao comércio, a mulher diz que aquela que está ali fora não tem problema. “Ela trabalha pra dona aqui, então fiscalização não pega”, diz.

A senhora na banquinha vende de bate-bate, a relógio, controle de TV e por aí vai. Ali diz que está tudo certo e que ninguém mexe com ela. “Não estou na rua, estou na loja”, responde.

A gerente confirma que a venda dos ambulantes atrapalha no movimento quando há coincidência nos produtos. “Os donos de loja é que ficam bravos e ligam para os fiscais. Quando é frio eles vendem coisas de frio e se é mais barato, aí que atrapalha mesmo”, completa.

O camelódromo, mesmo se fosse de interesse dos ambulantes já nasceu lotado. Criado em 1999, ele não comporta mais que 470 boxes, que já estão todos ocupados. A implantação do centro foi para abrigar os ambulantes da época e mais de 10 anos se passaram desde então.

A AVA (Associação dos Vendedores Ambulantes de Campo Grande) que representam apenas os ambulantes de dentro do camelódromo diz que não há como abrigar mais vendedores, principalmente agora que o prédio está no processo de tombamento histórico.

E a fiscalização?- A Prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que a fiscalização é constante e permanente, o que reforça o já dito pelos ambulantes. A permanência e venda de produtos nas ruas, infringe o Código de Posturas, estabelecido pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).

Os responsáveis pela fiscalização são funcionários da Secretaria que notificam os ambulantes e apreendem o material que é encaminhado à Semadur.

A multa varia entre R$ 308,50 a R$ 1.542,50 e pode dobrar em caso de reincidência. A Prefeitura não tem nenhum projeto em vista para construção de um novo centro comercial e também nem teria para quem, já que os ambulantes não demonstram interesse em se formalizar.

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