ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JULHO, SEXTA  11    CAMPO GRANDE 24º

Economia

Diante de ameaças dos EUA, MS mira Japão, China e Chile como amortecedores

Secretário lembra que os norte-americanos são o segundo parceiro comercial do Estado

Por Ângela Kempfer e Fernanda Palheta | 11/07/2025 12:46
Diante de ameaças dos EUA, MS mira Japão, China e Chile como amortecedores
Verruck falou ao Campo Grande News sobre proposta de supertaxação dos EUA (Foto: Henrique KAwaminami)

A sinalização de que os Estados Unidos podem elevar em mais 50 % a tarifa já existente de 10 % sobre produtos brasileiros, a partir de agosto, preocupa os setores ligados à carne bovina em Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Campo Grande News, o secretário Jayme Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), destacou que os norte-americanos são o segundo parceiro comercial do Estado, respondendo por “até 10 %” das exportações, enquanto a China concentra 47 %.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Os Estados Unidos sinalizaram uma possível sobretaxação de produtos brasileiros a partir de agosto, podendo chegar a 50% além dos 10% já cobrados desde 2018. A medida preocupa especialmente Mato Grosso do Sul, onde a cadeia da carne, principal produto exportado para o mercado norte-americano, seria diretamente afetada. O secretário da Semadesc, Jayme Verruck, questiona o argumento americano de desequilíbrio comercial, destacando que o Brasil compra mais dos EUA do que vende. As exportações do estado para os EUA somaram US$ 315,5 milhões no primeiro semestre, com a carne bovina representando 46% deste valor. O governo estuda alternativas comerciais, incluindo expansão para mercados asiáticos e europeus.

Verruck lembra que a alíquota de 10 %, adotada em 2018 no primeiro governo Trump, foi absorvida sem prejuízo e até impulsionou os embarques: “Nós batemos o recorde de exportação de carne nos Estados Unidos, porque outros países sofreram taxações maiores, e o Brasil acabou sendo beneficiado.”

Amortecedor - Ele afirma, porém, que o cenário agora é diferente: “Estamos falando de agregar àqueles 10 % uma alíquota de 50 %. É uma taxação muito superior.”

Com ameaças frequentes vindas dos EUA. a meta é focar em outro mercado. “Se Tio Sam tossir, não queremos pegar gripe. Estamos acompanhando os dados e negociando, porque numa guerra tarifária ninguém sai ileso.”

A Secretaria aposta em três frentes para amortecer o choque. Defende acelerar a diplomacia comercial. “Há missão prevista para a Ásia. Queremos abrir Japão para a carne suína e ampliar fatia na China; cada ponto percentual a mais já faz diferença.”

Segundo ponto é explorar nichos regionais, como Chile, por exemplo, que surge como mercado capaz de assumir parte da demanda. Outra opção é reaquecer o acordo Mercosul União Europeia, que mesmo travado por exigências ambientais, pode virar contraponto se avançar.

Diante de ameaças dos EUA, MS mira Japão, China e Chile como amortecedores

Motivo fake - Para o secretário, o argumento norte-americano de desequilíbrio comercial não se sustenta. “A carta fala em déficit, mas o Brasil compra mais dos Estados Unidos do que vende. Os EUA têm superávit com o Brasil.”

Hoje, o Brasil exporta principalmente petróleo, aço e derivados, café, suco de laranja e carnes aos norte-americanos; para Mato Grosso do Sul, o item mais relevante é a carne, seguido por volumes menores de celulose.

No curto prazo, Verruck vê risco de estoque e queda de preço no mercado interno: “Um navio já não chega mais lá até o dia 30. Nesse período, os produtos da cadeia da carne tendem a ficar retidos aqui dentro, e pode haver queda de preços.” No médio prazo, a busca por novos compradores é lenta: “Você não liga para a China e diz ‘compra mais tanto’. Esse ajuste é lento.”

Verruck avalia ainda que empresas com plantas nos dois países, como a JBS, podem amortecer parte do impacto, mas o ambiente macroeconômico tende a piorar: “Fala-se em juros, estabilidade, expectativa. Do ponto de vista macroeconômico, é muito ruim.”

A possibilidade de o Governo Federal retaliar com tarifa igual foi considerada por Verruck um gesto apenas político. “Se o Brasil taxar os produtos americanos em 50 %, é uma resposta política, não tarifária; só tornaria os produtos dos EUA mais caros por aqui.”

Diante de ameaças dos EUA, MS mira Japão, China e Chile como amortecedores

Em números - Mesmo com a alta em dólares, a fatia norte-americana nas exportações totais do Estado caiu de 6,7 % para 6 %

As exportações de Mato Grosso do Sul para os EUA somaram US$ 315,5 milhões no primeiro semestre deste ano, avanço de 11,4 % em relação ao mesmo período de 2024, embora a quantidade embarcada tenha encolhido de 387,7 mil para 318,2 mil toneladas.

O dado mais chamativo da planilha oficial, obtida pelo Campo Grande News, é o salto no preço médio por quilo: de US$ 0,73 para US$ 0,99, alta de quase 36 %, suficiente para melhorar a receita mesmo com menos carga.

A carne bovina fresca ou congelada liderou o caminho, respondendo por 46% do faturamento (US$ 145,2 milhões) e exibindo um crescimento impressionante de 78 %. A disparada, contudo, concentrou ainda mais a pauta e deixa o Estado vulnerável a eventuais barreiras sanitárias ou oscilações do consumo norte-americano.

Na contramão, a celulose, tradicionalmente segunda colocada, recuou 7,5 % em valor, somando US$ 74,8 milhões, reflexo de preços internacionais mais frouxos. Já o ferro-gusa, termômetro da indústria siderúrgica dos EUA, despencou 37,6 % e rendeu apenas US$ 40,5 milhões.

Óleos e gorduras de origem animal mostraram vitalidade, avançando 25 % para US$ 29,9 milhões, enquanto cortes bovinos processados (salgados ou em salmoura) multiplicaram por três a receita e atingiram US$ 7,8 milhões, sinalizando nichos de mercado ainda pouco explorados.


Nos siga no Google Notícias