Diante de ameaças dos EUA, MS mira Japão, China e Chile como amortecedores
Secretário lembra que os norte-americanos são o segundo parceiro comercial do Estado

A sinalização de que os Estados Unidos podem elevar em mais 50 % a tarifa já existente de 10 % sobre produtos brasileiros, a partir de agosto, preocupa os setores ligados à carne bovina em Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Campo Grande News, o secretário Jayme Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), destacou que os norte-americanos são o segundo parceiro comercial do Estado, respondendo por “até 10 %” das exportações, enquanto a China concentra 47 %.
RESUMO
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Os Estados Unidos sinalizaram uma possível sobretaxação de produtos brasileiros a partir de agosto, podendo chegar a 50% além dos 10% já cobrados desde 2018. A medida preocupa especialmente Mato Grosso do Sul, onde a cadeia da carne, principal produto exportado para o mercado norte-americano, seria diretamente afetada. O secretário da Semadesc, Jayme Verruck, questiona o argumento americano de desequilíbrio comercial, destacando que o Brasil compra mais dos EUA do que vende. As exportações do estado para os EUA somaram US$ 315,5 milhões no primeiro semestre, com a carne bovina representando 46% deste valor. O governo estuda alternativas comerciais, incluindo expansão para mercados asiáticos e europeus.
Verruck lembra que a alíquota de 10 %, adotada em 2018 no primeiro governo Trump, foi absorvida sem prejuízo e até impulsionou os embarques: “Nós batemos o recorde de exportação de carne nos Estados Unidos, porque outros países sofreram taxações maiores, e o Brasil acabou sendo beneficiado.”
Amortecedor - Ele afirma, porém, que o cenário agora é diferente: “Estamos falando de agregar àqueles 10 % uma alíquota de 50 %. É uma taxação muito superior.”
Com ameaças frequentes vindas dos EUA. a meta é focar em outro mercado. “Se Tio Sam tossir, não queremos pegar gripe. Estamos acompanhando os dados e negociando, porque numa guerra tarifária ninguém sai ileso.”
A Secretaria aposta em três frentes para amortecer o choque. Defende acelerar a diplomacia comercial. “Há missão prevista para a Ásia. Queremos abrir Japão para a carne suína e ampliar fatia na China; cada ponto percentual a mais já faz diferença.”
Segundo ponto é explorar nichos regionais, como Chile, por exemplo, que surge como mercado capaz de assumir parte da demanda. Outra opção é reaquecer o acordo Mercosul União Europeia, que mesmo travado por exigências ambientais, pode virar contraponto se avançar.
Motivo fake - Para o secretário, o argumento norte-americano de desequilíbrio comercial não se sustenta. “A carta fala em déficit, mas o Brasil compra mais dos Estados Unidos do que vende. Os EUA têm superávit com o Brasil.”
Hoje, o Brasil exporta principalmente petróleo, aço e derivados, café, suco de laranja e carnes aos norte-americanos; para Mato Grosso do Sul, o item mais relevante é a carne, seguido por volumes menores de celulose.
No curto prazo, Verruck vê risco de estoque e queda de preço no mercado interno: “Um navio já não chega mais lá até o dia 30. Nesse período, os produtos da cadeia da carne tendem a ficar retidos aqui dentro, e pode haver queda de preços.” No médio prazo, a busca por novos compradores é lenta: “Você não liga para a China e diz ‘compra mais tanto’. Esse ajuste é lento.”
Verruck avalia ainda que empresas com plantas nos dois países, como a JBS, podem amortecer parte do impacto, mas o ambiente macroeconômico tende a piorar: “Fala-se em juros, estabilidade, expectativa. Do ponto de vista macroeconômico, é muito ruim.”
A possibilidade de o Governo Federal retaliar com tarifa igual foi considerada por Verruck um gesto apenas político. “Se o Brasil taxar os produtos americanos em 50 %, é uma resposta política, não tarifária; só tornaria os produtos dos EUA mais caros por aqui.”
Em números - Mesmo com a alta em dólares, a fatia norte-americana nas exportações totais do Estado caiu de 6,7 % para 6 %
As exportações de Mato Grosso do Sul para os EUA somaram US$ 315,5 milhões no primeiro semestre deste ano, avanço de 11,4 % em relação ao mesmo período de 2024, embora a quantidade embarcada tenha encolhido de 387,7 mil para 318,2 mil toneladas.
O dado mais chamativo da planilha oficial, obtida pelo Campo Grande News, é o salto no preço médio por quilo: de US$ 0,73 para US$ 0,99, alta de quase 36 %, suficiente para melhorar a receita mesmo com menos carga.
A carne bovina fresca ou congelada liderou o caminho, respondendo por 46% do faturamento (US$ 145,2 milhões) e exibindo um crescimento impressionante de 78 %. A disparada, contudo, concentrou ainda mais a pauta e deixa o Estado vulnerável a eventuais barreiras sanitárias ou oscilações do consumo norte-americano.
Na contramão, a celulose, tradicionalmente segunda colocada, recuou 7,5 % em valor, somando US$ 74,8 milhões, reflexo de preços internacionais mais frouxos. Já o ferro-gusa, termômetro da indústria siderúrgica dos EUA, despencou 37,6 % e rendeu apenas US$ 40,5 milhões.
Óleos e gorduras de origem animal mostraram vitalidade, avançando 25 % para US$ 29,9 milhões, enquanto cortes bovinos processados (salgados ou em salmoura) multiplicaram por três a receita e atingiram US$ 7,8 milhões, sinalizando nichos de mercado ainda pouco explorados.