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Lado Rural

Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores

Reflore defende importação massiva de mão de obra de outros estados para atender boom do setor

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 11/07/2025 16:10
Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores
Trabalhador atuando no plantio de eucalipto em MS (Foto: Famasul)

O Vale da Celulose, no leste de Mato Grosso do Sul – que abriga os principais players nacionais e internacionais, como Suzano, Arauco, Bracell e Eldorado –, enfrenta déficit de mão de obra e apresenta dificuldade para a contratação imediata de 10 mil trabalhadores.

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O Vale da Celulose, no leste de Mato Grosso do Sul, enfrenta escassez de mão de obra e busca contratar 10 mil trabalhadores imediatamente. A região, que abriga grandes empresas como Suzano, Arauco, Bracell e Eldorado, projeta a geração de 100 mil novos empregos até 2032. O crescimento acelerado do setor traz desafios para os municípios, como falta de moradia, escolas e infraestrutura básica. Apesar disso, o Estado registra a menor taxa de desemprego do país, cerca de 4%, e oferece salários 43% acima da média estadual, com remuneração de R$ 3.925,00 no setor de papel e celulose.

Estudo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) aponta que as novas fábricas em construção devem gerar, até 2032, cerca de 100 mil novos empregos, o equivalente a mais de 10 mil contratações anuais, em média.

O presidente da Associação dos Plantadores e Compradores de Florestas Plantadas (Reflore), Junior Ramires, analisou a conjuntura e disse que o Estado vive um momento de pleno emprego. Ele defende a importação de trabalhadores de outros estados para fazer frente ao crescimento acelerado do setor.

“Estamos com grande dificuldade de contratação e acho que o Estado precisa importar mão de obra. Ou seja, trazer, de forma massiva, a mão de obra para que ela possa vir e ficar no Estado, que não vá embora. O Estado precisa hoje de gente que queira migrar para cá”, disse Ramires ao Campo Grande News.

As vagas abertas vão desde auxiliar florestal para o trabalho no campo até operador de máquina, motorista, cargos de gestão e engenheiro florestal. Os postos de trabalho não exigem qualificação prévia. “As indústrias se propõem a qualificar e treinar o trabalhador”, destacou. A demanda é por vagas fixas para operação na indústria. Não são para serviços temporários.

Representante das empresas, a Ibá reforça a expansão acelerada do setor no Estado, demandando mão de obra. O cenário reflete os novos empreendimentos na região que vão gerar até 24 mil postos de trabalho no curto prazo. O estudo aponta ainda que as novas fábricas do setor, previstas até 2032, devem gerar cerca de 100 mil novos empregos, sendo 24 mil diretos e outros 69 mil indiretos. A estimativa tem como bases o estudo encomendado à consultoria ESG Tech, no passado, pela Ibá.

O governo estadual contabiliza seis unidades industriais até agora, com produção estimada de árvores de eucalipto em 1,690 milhão de hectares. Essa projeção considera a fábrica da Bracell, em processo de licenciamento em Bataguassu, com investimento previsto de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões). A construção da nova unidade prevê criar 12 mil empregos no pico da obra e 7 mil vagas fixas. A fábrica é desenhada para ser uma das maiores da América Latina, com capacidade de 2,6 milhões de toneladas ao ano.

A projeção do governo local considera também uma nova unidade da Eldorado, anunciada no mês passado para ampliar a produção em Três Lagoas, um mês após encerrar a disputa judicial com a Paper Excellence. A empresa retomou oficialmente o projeto de expansão da sua fábrica e solicitou nova licença ambiental para investir R$ 1,9 bilhão. A meta é elevar em mais de 140% a capacidade de produção, consolidando ainda mais o município como polo estratégico do setor.

Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores

Inchaço urbano  - Diante da forte demanda de pessoal para trabalhar nas indústrias de papel e celulose, Mato Grosso do Sul enfrenta vários desafios. Entre eles, o “inchaço” nos principais municípios produtores de árvores de eucalipto, alteração do perfil econômico regional, mudança demográfica e carência de infraestrutura, como falta de moradia, escolas e serviços básicos para os novos habitantes das cidades mais impactadas. Além disso, há gargalos logísticos para o escoamento da produção.

“Não tem moradia e faltam estruturas de escola nos municípios, que precisariam estar se desenvolvendo para receber essa mão de obra”, exemplifica o presidente da Reflore.

Ramires discorda, contudo, do questionamento de que faltou planejamento estadual e municipal para receber os investimentos – estimados em cerca de R$ 100 bilhões nos próximos cinco anos.

“O processo de industrialização e o processo de uma produção de florestas demoram sete anos. Então, tudo isso tem de ser muito bem planejado para acontecer, principalmente pelo tamanho das indústrias presentes na região”, disse.

Para Ramires, Mato Grosso do Sul ocupa hoje o melhor desempenho no mercado de trabalho entre os demais estados, com taxa de desemprego em torno de 4%, quase metade da média nacional (7%), conforme os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE.

Mudança demográfica - A avaliação é de que as mudanças bruscas no perfil econômico das cidades impactadas pelo setor têm alguma correlação com as alterações geográficas apontadas nos dados do IBGE, em meio à crescente participação do setor de papel e celulose no total de empregos no Estado.

Nos cinco primeiros meses de 2025, o setor criou 933 novos empregos, respondendo por 31% da fatia do bolo de 2.978 novas vagas geradas pela agropecuária no período. Os dados são do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), com base nos números do CAGED do Ministério do Trabalho (MTE).

No ano passado, a produção florestal plantada respondeu por 11.753 empregos formais, mais do que o dobro das 5.860 pessoas ocupadas no setor em 2022. A participação alcançou 12,5% dos empregos da agropecuária.

A avaliação é de que o mercado de trabalho local estimula uma corrida física dentro do próprio Estado em busca de melhores oportunidades. Trata-se de um cenário e de um quebra-cabeça para os governantes, que se debruçam em busca de soluções em meio a um cobertor curto. Para o presidente da Reflore, a tensão é precificada e faz parte das “dores positivas do crescimento”.

Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores
Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores

A economista Bruna Mendes Dias, assessora de Economia e Estatística da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), considera natural haver essa mudança dentro do próprio Estado. “Como a maior parte das oportunidades geradas pelo setor de papel e celulose está concentrada em municípios com baixa densidade populacional, a necessidade de atrair mão de obra de outras regiões acaba sendo um movimento natural”, explica ela, sem entrar no mérito da necessidade de um programa de importação de mão de obra de outros estados.

A especialista acrescenta que o governo vem se articulando com prefeituras e o setor produtivo em busca de soluções. “O Governo do Estado tem buscado estratégias para aproveitar esse momento como uma janela de inclusão produtiva. Por meio da capacitação e qualificação profissional, o objetivo é preparar a própria população local para ocupar essas vagas e garantir os benefícios econômicos da expansão industrial”, disse.

Ela destacou o planejamento do Estado e disse que a criação da legislação do Vale da Celulose é uma iniciativa estratégica para direcionar políticas públicas a essas localidades, reconhecendo sua importância no contexto do desenvolvimento industrial e territorial.

Vale da Celulose vive pleno emprego e prevê contratação de 10 mil trabalhadores
Trabalhadore em plantação de eucalipto no Vale da Celulose (Foto: Divulgação/Famasul)

Emprego cresce mais de 100% - O emprego no setor de papel e celulose no Estado cresceu 103,6% em 13 anos, principalmente no Vale da Celulose, segundo estudo elaborado pelo economista Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), com base nas últimas estatísticas do PIB do IBGE, de novembro (considerando o exercício de 2022). O número saltou de 11,34 mil empregos diretos em 2010 para 23,08 mil em 2023, ocupando 3,59% do emprego total do Estado. A taxa superou o percentual de crescimento de 14,5% do emprego em todos os setores do Estado no mesmo período.

Para o estudioso, esse resultado consolida a posição do Vale da Celulose como principal hub de produção. “A dependência econômica é ainda mais evidente em cidades como Água Clara, onde o setor representa 47,9% dos empregos formais, gerando mais de R$ 9,899 milhões em renda anual no município”, destaca.

Contrapartida da indústria e geração de renda - Sem entrar no mérito dos incentivos fiscais concedidos à indústria de papel e celulose, o Departamento Técnico da Famasul aponta os impactos positivos do setor no desenvolvimento socioeconômico do Estado. Como exemplo, destaca o protagonismo da remuneração média registrada – R$ 3.925,00 – superando em 43% a média da remuneração nominal estadual (R$ 2.734,00) e liderando o salário médio da atividade agropecuária.

“Além dos efeitos indiretos, o Estado se beneficia com a arrecadação de impostos dos bens e serviços complementares (transporte, insumos, prestadores de serviços) que viabilizam o funcionamento das empresas exportadoras e com o aumento do PIB estadual.”

Ganhos ambientais - Em outra frente, o presidente da Reflore, Junior Ramires, analisou os impactos do eucalipto no meio ambiente da região e disse que a produção ocupou uma extensão de terra exposta ao processo de degradação ambiental. Segundo ele, por volta de 2010, havia 21 milhões de hectares ocupados pela pecuária, número que vem caindo de forma consecutiva. No ano passado, foram registrados 16 milhões ocupados pela pecuária. Ou seja, 5 milhões de hectares migraram para outras atividades. Mesmo assim, disse, os pecuaristas mantiveram a alta da produção de carne diante do ganho de eficiência do setor. Enquanto isso, 400 mil hectares cresceram em áreas de preservação, um importante ganho de preservação ambiental. “Contra fatos não existem muitos argumentos”, resume.

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