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Arquitetura

Aos 85 anos, Derluce resiste em prédio que já foi importante na Pedro Celestino

Após criar a filha, ela passou alugar quartos para moças no Conjunto Boaventura, cada vez mais vazio.

Wendy Tonhati | 04/02/2019 09:34
Fotos da viagem para a Bahia (Foto: Wendy Tonhati)
Fotos da viagem para a Bahia (Foto: Wendy Tonhati)

A plaquinha é pequena: Rua Pedro Celestino 2620, informação escrita em gabarito de letras vazadas. No dia-a-dia, quem passa por ali na correria, acaba nem prestando atenção aos muros amarelos que escondem um residencial com jeito de ter parado no tempo. Batendo de porta em porta, para saber mais sobre o local, os nomes das moradoras mais antigas vão surgindo entre os vizinhos: Maria, Darci e Derluce são lembradas. Derluce Barbosa da Silveira, 85 anos, adora uma conversa e conta um pouquinho do que é viver entre os blocos do Conjunto Boa Ventura.

Dona Derluce mudou para lá na década de 1980 e diz que os blocos foram construídos por volta de 1960. Antes, ela morava na Rua 15 de Novembro e, ainda jovem, costumava passar de bicicleta pelo local que viria a ser a sua casa anos depois. Já são 41 anos morando no segundo andar de um dos blocos do residencial.

“Quando cheguei, já tinha muita gente aqui. Era médico, dentista e foi mudando mais gente. Hoje os prédios estão vazios, porque é muito caro morar aqui. É um lugar ótimo, uma vizinhança muito boa, apesar de que não vou à casa de ninguém”, diz, mas logo enumera o nome de três vizinhas que costuma dar uma passadinha para conversar.

A história de dona Derluce começa há 85 anos. Órfã de mãe aos 3, ela foi criada pela madrinha. Na lembrança, ela ainda tem a Campo Grande antiga em que viveu a juventude. “A chácara da madrinha era ali onde é a Mace, passando pela Fernando Corrêa e o córrego. Depois ela vendeu e comprou um hotel e fomos morar lá”.

"Peralta" na juventude, como ela mesma diz, a região onde mora atualmente também já era conhecida por ela. “Pegava a bicicleta e andava por aqui, nos trieiros. Um dia, encontrei um rapaz, boiadeiro morto aqui na frente”, relembra. Ao voltar para casa, dona Derluce levou foi uma bronca da madrinha.

Residencial Boaventura guarda história de moradores que vivem há anos por ali (Foto: Wendy Tonhati)
Residencial Boaventura guarda história de moradores que vivem há anos por ali (Foto: Wendy Tonhati)

Campo-grandense, dona Derluce mudou para a fazenda, na região de Rochedão, aos 23 anos, após o casamento. O sonho de ter filhos não foi fácil de realizar, ela teve seis abortos até a filha nascer,  de seis meses na Maternidade Cândido Mariano. Voltou à Capital quando a filha tinha 8 anos, para que a criança pudesse estudar. O marido ficou na fazenda e só anos depois, foi que vendeu as terras e também veio para a Capital.

“Aqui era uma lama só. O caminhão que trouxe a mudança atolou bem ali na frente. É uma vizinhança muito boa, modificou muita coisa e deixa saudade. Mas, esses dias eu levei um tombo naquela calçada [da antiga pedreira] e estou pensando em reclamar”, comenta.

Após criar a filha, dona Derluce não quis ficar sozinha e ao longo dos últimos 20 anos, aluga dois quartos do apartamento para moças estudantes do interior. A primeira morou com ela por 20 anos. As outras, tiveram estadas de 10, 5 anos ou até casarem, se formarem e voltarem para a família. Atualmente, um dos quartos está ocupado por uma das moças.

A família: filha, a neta e a bisneta de 7 anos moram em outros bairros de Campo Grande e acaba sendo difícil juntar todo mundo sempre. São as datas comemorativas como o Natal e Ano Novo que todos se unem na casa da filha. Na família é formada só por mulheres até agora e o desejo é por um bisneto. “Eu falo para ela [para a neta] quero um gurizinho agora”.

Com a foto da bisneta (Foto: Wendy Tonhati)
Com a foto da bisneta (Foto: Wendy Tonhati)

O marido, falecido há 20 anos, é lembrado como maravilhoso. “Foi pai, mãe e marido”. Ele também é lembrado na história da tatuagem de beija-flor que leva nas costas. “Eu queria fazer e ele achou bonito. Ele fazia o que eu queria”, conta.

Dona Derluce não esconde que sente falta do marido e agito. “Na fazenda era festa de sexta a domingo. Gosto de gente. Morei e trabalhei em hotel”. Aos 85, ela é tão ativa, que há pouco tempo comandou reforma da cozinha da casa, com troca de pisos, e não para de viajar. Nos álbuns, as lembranças dos últimos lugares visitados: Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul são só alguns dos destinos que já passo com os grupos de viagem.

“Minha filha está querendo que eu pare, mas não quero não”, diz enquanto relembra os problemas de queimadura de sol que teve na última viagem a Salvador e fala que tem o próximo destino já está planejado: Caldas Novas, em Goiás.

Tatuagem de beija-flor é delicada e feita há mais de 20 anos (Foto: Wendy Tonhati)
Tatuagem de beija-flor é delicada e feita há mais de 20 anos (Foto: Wendy Tonhati)
Fogão é xodó 'daqueles branquinhos' não deram conta (Foto: Wendy Tonhati)
Fogão é xodó 'daqueles branquinhos' não deram conta (Foto: Wendy Tonhati)
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