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Arquitetura

Após 60 anos de carteira assinada, André encontrou paz na marcenaria

Localizada no Silvia Regina, marcenaria do aposentado vende colheres de pau, tábuas de cortar carne e cachepô

Clara Farias | 28/05/2023 09:10
André Cabreira e seus artesanatos pendurados no portão. (Foto: Clara Farias)
André Cabreira e seus artesanatos pendurados no portão. (Foto: Clara Farias)

Na Rua Dona Maria Amélia, no Bairro Sílvia Regina, uma das mais estreitas do bairro, artesanatos de madeira pendurados no arame no portão de elevação azul chamam atenção. Além dos preços etiquetados nos itens serem baratos, a simpatia do senhor que os produz encanta. Com o sorriso tímido e a fala rápida, devido ao sotaque paraguaio, André Cabreira, de 82 anos, acorda todos os dias para trabalhar na marcenaria montada na varanda de casa.

Ali ele diz que encontra a paz. Depois de passar um café e fazer suas obrigações, André abre o portão azul e pendura suas produções para quem quiser olhar e comprar. Com o público bem definido, o aposentado relata que a maioria das pessoas que passa também está aposentada ou são vizinhos que fazem compras pequenas, como uma colher de pau, ou uma tábua de carne.

Os que já o conhecem há mais tempo, costumam encomendar alguma produção maior, como mesas, cadeiras, tábua de passar roupa ou prateleiras. Ele conta que apesar de saber fazer outros itens de boas dimensões, como guarda-roupas e camas, isso leva tempo e concentração, e hoje em dia ele quer tranquilidade, por isso escolhe não fazer.

Seu André e produções que ficam expostas na marcenaria de sua casa. (Foto: Clara Farias)
Seu André e produções que ficam expostas na marcenaria de sua casa. (Foto: Clara Farias)

A paixão de trabalhar com madeira é antiga e o acompanha desde quando começou a trabalhar na fazenda. André foi carpinteiro, serralheiro e marceneiro durante 60 anos para a mesma família, ora em Porto Murtinho, ora em Aquidauana, onde os patrões tinham fazenda.

Ele conta que viu o seu patrão construir a família, ter quatro filhos e mantê-lo como funcionário durante gerações. Na fazenda, além de ser carpinteiro, trabalhava como marceneiro e serralheiro. “Eu monto fazenda completa, faço mangueiro e tudo dentro da fazenda”, contou o aposentado.

Para a sede do patrão, ele produzia camas, mesas, guarda-roupas, cadeira de balanço, casa de árvore para as crianças e sempre era chamado para trabalhar para os quatro filhos dos donos. Com os olhos marejados, André conta com orgulho que “graças a Deus” sempre fez de tudo e era requisitado.

Após muito trabalho, ele decidiu ir ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e se aposentar em uma sexta-feira. “Eles me deram parabéns por ter contribuído o dobro do tempo e disseram: ‘na segunda o senhor está aposentado”, contou seu André. Depois que saiu de lá, ele relata nunca mais ter voltado para a fazenda, nem para buscar seus itens de marcenaria e serralheria.

Perguntado a respeito do que ele mais gosta de fazer dentro da marcenaria, André responde que não tem preferência. “Olha, o meu prazer é trabalhar com madeira, e tenho orgulho não pelo serviço que eu faço mas para quem eu faço”, comentou o aposentado mostrando uma encomenda. “Essa minha cliente passa roupa para médicos e advogados. Fiz essa tábua em dois dias, falta só passar o tico-tico, que ela vem buscar”, contou seu André.

Marceneiro mostra detalhe da tábua de madeira encomendada. (Foto: Clara Farias)
Marceneiro mostra detalhe da tábua de madeira encomendada. (Foto: Clara Farias)

O orgulho de suas produções é tanto, que seu André logo puxa o celular para mostrar a galeria de fotos com itens que já fez e inspirações para os próximos artesanatos. Na varanda e no portão, já estão cachepôs para plantas, porta temperos, porta-chaves, porta xícaras, tábuas, e todos os itens com o preço abaixo do que se vê em grandes lojas de departamento.

As tábuas custam de R$ 15 a R$ 25, dependendo do tamanho, as colheres de pau custam R$ 10. Segundo o aposentado, o preço escolhido é simbólico porque ele trabalha por prazer. “Pra mim é gratificante, as vendas acabam ajudando no salário, mas eu sei da realidade das pessoas”, relata seu André”.

Para finalizar a entrevista, pedi para que ele se posicionasse ao lado das produções expostas no portão, para que eu pudesse fotografá-lo. Com uma simpatia enorme e um até breve, nos despedimos. Muito religioso, seu André abençoou meu caminho de volta à redação. As produções artesanais você encontra na Rua Dona Maria Amélia 554, no Bairro Silvia Regina, próximo ao Aeroporto de Campo Grande.

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