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Arquitetura

Casa antiga revela a transformação de Lúcia que aos 50 superou doença e desamor

Thailla Torres | 24/03/2017 07:25
Lúcia imagina que a casa tenha mais de 60 anos e a única certeza é que o lugar foi transformador em sua vida. (Foto: Marcos Ermínio)
Lúcia imagina que a casa tenha mais de 60 anos e a única certeza é que o lugar foi transformador em sua vida. (Foto: Marcos Ermínio)

Não é por acaso que aos 50 anos Lúcia se vê como uma mulher diferente todos os dias. Foram anos levando uma vida corrida e intensa por conta do trabalho. Mas em 2014 tudo ganhou novo sentido, apesar das tristezas, perdas e dores diante de uma doença severa.

Hoje ela não precisa esforço para demonstrar felicidade, nem medir as palavras para dizer o que pensa. Em uma casinha antiga na Vila Célia, a beleza de fora chama atenção de quem passa na rua, mas a vida de Lúcia Sebben se renova toda vez que entra pela porta antiga e pequena. Lá dentro, funciona seu ateliê, espaço criado para se dedicar ao artesanato e, principalmente, à restauração de imagens religiosas.

Lúcia é uma mulher feliz aos 50 anos e cheia de vida. (Foto: Alcides Neto)
Lúcia é uma mulher feliz aos 50 anos e cheia de vida. (Foto: Alcides Neto)

Artista plástica e formada em Design de Joias na Itália. Lúcia foi durante 20 anos dona de uma boutique de joias e semijoias em Campo Grande. Há três, ela decidiu largar tudo e recomeçar. 

A transformação veio depois de muita luta e superação. Aos 42 anos, ela descobriu que estava com câncer, mas isso foi o de menos, segundo Lúcia, que sempre encarou tudo com sorriso no rosto. "Descobri um melanoma na coxa e tive metástase no fígado, quando o câncer se espalha além do local onde começou. Mas os cuidados eram os mesmos independente do susto e eu só conseguia pensar que esse bicho nunca me levaria daqui".

No entanto, Lúcia passou provações ainda maiores. No período da doença, enfrentou a dor da partida quando a mãe faleceu, em seguida uma triste separação após 20 anos de casada e ainda por cima foi assaltada quando saiu da loja no fim do expediente. Sem contar a perda material, Lúcia foi agredida e deixada pelos bandidos longe da cidade.

"Eu me lembro que sai da loja umas 18h em um dia muito frio. Estava com o carro carregado de mercadoria, quando, fui cercada por quatro homens em duas motos. Me levaram para uma chácara, me machucaram e depois me abandonaram, levando o carro e as joias", descreve.

Armário está sempre cheio. (Foto: Alcides Neto)
Armário está sempre cheio. (Foto: Alcides Neto)
Uma das imagens feita por Lúcia. (Foto: Alcides Neto)
Uma das imagens feita por Lúcia. (Foto: Alcides Neto)

Apesar do susto, Lúcia encarou tudo como um aprendizado. No lugar do medo, veio a oportunidade de refletir sobre a vida que vinha levando. "Eu superei, como tudo na minha vida. E não tenho trauma, mas me serviu de alerta em todo caso".

Os anos como lojista também foram decisivos, para Lúcia voltar o olhar as coisas que deixou de lado. "Minha vida era muito corrida. Eu viajava três vezes no ano para fora do país. Tenho uma filha e abandonava um pouco dela. Hoje ela já está grande e é minha melhor companheira. Mas quando fechei a loja, tive a certeza que não queria mais saber do comércio", afirma.

Lúcia acredita que encarar uma nova rotina, foi a oportunidade de voltar as raízes do que sempre lhe fez bem. "Nunca fui uma pessoa apegada a matéria, mas sim da essência e cultura. Mas eu sabia que com o tempo eu deixei muito coisa influenciar sobre isso, então eu resolvi me transformar".

O encontro com a casa antiga na Vila Célia, acabou sendo o pontapé inicial, descreve. "Esse espaço estava abandonado e eu vim aqui para guardar um material da loja. Mas quando eu vi, pensei sobre ficar aqui. Foi ali que eu me instalei. A casa é pequena, mas aqui é um canto só meu. Venho apenas para trabalhar com as obras. De vez em quando faço reuniões ou compartilho o que sei com outras pessoas conta".

O ponto forte de Lúcia é a restauração de imagens e o trabalho acabou tendo dois lados. Em paróquias do Mato Grosso do Sul, Lúcia faz a restauração de maneira solidária. Já no Facebook, criou a marca "Maria Magníficas", para comercializar as imagens que produz quase diariamente.

Fachada chama atenção pela cor e o cuidado ao longo dos anos. (Foto: Alcides Neto)
Fachada chama atenção pela cor e o cuidado ao longo dos anos. (Foto: Alcides Neto)

Longe de um comércio estressante, a vida foi entrando nos eixos, afirma. "Hoje eu me sinto ótima. Eu tive um propósito na minha vida e sabia que os 50 anos seria um divisor de águas nessa nova fase".

Toda mística e com um sorriso que não se fecha, Lúcia deixa claro que a idade a libertou para ser o quisesse. "Quando eu trabalhava no comércio, tinha certos cuidados por conta das ditas socialites que se chocam com o que a gente fala. Mas hoje não me interessa o que vão pensar, sei minha essência e do que sou. Por isso os 50 anos é uma transformação violenta e incrível".

Lúcia gosta de cores, arte sacra, santos e todas as religiões. A idade trouxe ainda a confiança quando ela não tem medo de dizer no que acredita. "Muitos dizem que aos 40 a mulher entra na fase da loba, mas quando você chega aos 50 anos, a mulher é como uma fênix. Você pode matar e queimar ela, que a gente renasce todos os dias", acredita.

Trilhando um novo caminho, ela se permite a novas experiências diariamente e concilia a restauração com a dança cigana durante a semana. "Eu fui contagiada pela cores da dança. É outra coisa que vem transformando muito minha vida, através das energias..."

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"Quando você chega aos 50 anos, a mulher é como uma fênix. Você pode matar e queimar, que a gente renasce todos os dias". (Foto: Alcides Neto)
"Quando você chega aos 50 anos, a mulher é como uma fênix. Você pode matar e queimar, que a gente renasce todos os dias". (Foto: Alcides Neto)
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