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Arquitetura

Casa de muro baixo na 15 de Novembro resiste bravamente a dias de cerca elétrica

Anny Malagolini | 11/12/2013 06:05
Casa na rua 15 de Novembro ainda preserva a mureta.
Casa na rua 15 de Novembro ainda preserva a mureta.

Cerca elétrica, alarmes e muros com mais de dois metros são considerados vitais pela maioria, mas ainda existe a resistência. É gente que não abre mão da mureta em frente de casa, com 1 metro, no máximo. Uma liberdade dos tempos antigos, preservada até em uma das ruas mais movimentas de Campo Grande.

Na 15 de Novembro, ao menos três casas têm uma fachada assim, um convite para a “malandragem”? Para quem resolveu viver sem medo, a resposta é não.

Na esquina com a rua Paraíba, o endereço é do farmacêutico aposentado, um dos nomes que lutou pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Lutfalla Galles, de 77 anos, mantém a mesma arquitetura desde 1976, ainda quando parte da região nem sequer tinha asfalto. A memória não falha: “A água, por exemplo, só era ligada até a rua Bahia, a 231 metros”.

Quando comprou o terreno que abriga três lotes de 30x10, o investimento foi de 7 milhões de cruzeiros. O vizinho mais próximo, na época, era o ex-governador Pedro Pedrossiam, na avenida Afonso Pena.

O tempo passou, o comércio ficou forte ao redor, a violência passou a fazer parte da rotina, mas a casa continua como sempre, sem amarras, como uma questão de honra.

O proprietário conta que o genro quis colocar uma grade de dois metros de altura, mas Lutfalla não concordou em mudar o estilo. ”Quem cuida de nós é Deus. Cerca não segura ninguém”, justifica.

As sugestões para que ele se mudasse para um apartamento também não agradaram. “É muito solitário morar em apartamento, aqui eu vejo o movimento pela janela”, explica. Mas a nostalgia para por aí. Para não dar “sorte ao azar”, a casa fica trancada o tempo todo.

Para a segurança, casa fica trancada o tempo todo (Foto: João Garrigó)
Para a segurança, casa fica trancada o tempo todo (Foto: João Garrigó)

Lutfalla diz que apesar do acesso parecer fácil, a garagem aos fundos tem entrada pela rua lateral, com portões que não deixam brecha para ninguém ver o que tem dentro do imóvel.

Também foi preciso colocar vigia durante à noite, além de um alarme, mas tudo por cobrança de parentes preocupados. “Eu acho uma bobageira tudo isso”, reforça o aposentado.

A cadela de estimação, chamada “Nega”, não faz guarda, apenas companhia. A maior parceira já foi embora, a esposa com quem esteve casado por 51 anos, e faleceu em abril de 2012.

A casa tem cinco quartos, além de duas dependências para as empregadas, tudo idealizado pela esposa Elisa, que também era farmacêutica.

Ele conta que antes de se mudar para o atual endereço, a família moraram na rua Antônio Maria Coelho, mas em busca de espaço para criar as três filhas resolveu investir na rua 15 de Novembro.

Na varanda, até hoje estão os bancos de madeira, do tempo em que sentar em frente de casa era costume sem risco.

Entre os vizinhos, dois ainda vão na mesma corrente. A casa que faz esquina com a rua Arthur Jorge, não tem muros, apenas grades. Segundo a moradora Fátima Soares, de 54 anos, a construção – toda em madeira – tem ao menos 70 anos. “Nunca quis colocar cerca, ou proteger de alguma forma, acho que não precisa”, afirma.

Os mais velhos parecem menos interessados na transformação. Quem tem dor de cabeça mesmo é quem nasceu com a criminalidade sem trégua nos noticiários. O imóvel pertence aos avós, mas a estudante Paula Regina, de 21 anos, conta que a falta de proteção já foi tema de boas discussões, mas o avô não apoiou a ideia. “Ele gosta de casa aberta”, explica.

 Proprietário quis manter fachada antiga, mesmo com a falta de segurança (Foto: João Garrigó)
Proprietário quis manter fachada antiga, mesmo com a falta de segurança (Foto: João Garrigó)
Construção foi feita ha 70 anos (Foto: João Garrigó)
Construção foi feita ha 70 anos (Foto: João Garrigó)
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