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Arquitetura

Casarão construído há 80 anos é herança “ilhada” em bairro mais antigo da cidade

Imóvel era sede de uma propriedade que ao longo do tempo deu lugar a uma parte do bairro Amambaí

Thailla Torres | 21/05/2019 07:38
Casarão tem aproximadamente 80 anos e 1900 m². (Foto: Kísie Ainoã)
Casarão tem aproximadamente 80 anos e 1900 m². (Foto: Kísie Ainoã)

Quem passa de carro pela Rua Arlindo de Andrade, talvez não perceba a existência do casarão antigo. A fachada continua a mesma, mas completamente escondida pelo muro, sem rachaduras e com mais de 40 cm de grossura. É uma residência de aproximadamente 80 anos de história, com arquitetura no estilo colonial e antiga sede da chácara que deu lugar a uma parte do bairro Amambaí.

Os arcos da fachada, as janelas enormes e a sacada desenhada de ferro com visão para o jardim mostram a cidade que já se perdeu na maioria dos bairros antigos.

O imóvel pertenceu a um fazendeiro que deixou o casarão de herança para a filha, após o falecimento de sua esposa. Mas foi construída há mais tempo pelo homem que dá nome a rua e foi o primeiro juiz da comarca de Campo Grande, seu Arlindo de Andrade.

No quintal do casarão onde a família ainda vive, o que mais chama atenção é o tamanho. “São 1.900 m² de área. Só a casa tem quatro quartos e sete banheiros”, descreve a proprietária, de 56 anos, que é psicóloga, mas prefere não ser identificada.

Escada privativa que dava acesso ao escritório do antigo dono. (Foto: Kísie Ainoã)
Escada privativa que dava acesso ao escritório do antigo dono. (Foto: Kísie Ainoã)
Detalhe de outra escada no extremo da residência. (Foto: Kísie Ainoã)
Detalhe de outra escada no extremo da residência. (Foto: Kísie Ainoã)
Sacada que proporcionava vista privilegiada para cidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Sacada que proporcionava vista privilegiada para cidade. (Foto: Kísie Ainoã)

A mulher, de voz calma, compartilha a vontade de preservar a casa e vida da família no casarão. “Eu sou apaixonada por essa casa. Cheguei aqui com meus pais aos 6 anos. Hoje tenho 56, então são cinco décadas de relação com a casa”, conta.

O que sabe da história é o que foi contado pelos pais e o próprio advogado Arlindo de Andrade que um dia bateu à porta da família contando o que há por trás da construção. “Eu era muito pequena, mas lembro que um dia ele passou aqui na frente e falou que foi o responsável por essa construção. A casa era sede de uma antiga chácara que ia da Praça das Araras até a Rua Calógeras”, conta.

Com o tempo a área foi sendo vendida e ganhando forma de bairro. Arlindo atendia os clientes em uma das salas do imóvel que ainda mantém a escada de ferro, bem ao lado da escada principal. “Eles utilizavam essa escada menor para dar privacidade ao restante do imóvel”, destaca a dona.

O casarão foi cenário para casamentos dos filhos do ex-dono assim como para as festas da família da atual herdeira. “Esse quintal tinha um jardim muito generoso. Além de muitas árvores frutíferas e até 6 pinheiros. Mas um dia um vento forte derrubou todos eles”.

Hoje, o aspecto abandonado do quintal parece perturbar a dona. “Não dá tempo de cuidar de tudo, é muito grande e o gasto é ainda maior”.

Ladrilhos hidráulicos tem valor sentimental para dona. (Foto: Kísie Ainoã)
Ladrilhos hidráulicos tem valor sentimental para dona. (Foto: Kísie Ainoã)
Os desenhos artesanais trazem boas lembranças da infância. (Foto: Kísie Ainoã)
Os desenhos artesanais trazem boas lembranças da infância. (Foto: Kísie Ainoã)
Lareira se mantém original. (Foto: Kísie Ainoã)
Lareira se mantém original. (Foto: Kísie Ainoã)
Arcos chamam atenção de quem entra. (Foto: Kísie Ainoã)
Arcos chamam atenção de quem entra. (Foto: Kísie Ainoã)

No casarão amarelo nada mudou. No interior, a dona jura que nunca foi preciso qualquer obra grande, apenas reparos. “É uma casa muito reforçada, de paredes grossas”.

Um dos detalhes de maior valor sentimental são os ladrilhos hidráulicos, feitos de forma totalmente artesanal. Além de resistirem ao tempo, ainda hoje trazem a proprietária boas lembranças do passado. “Meus pais sempre amaram os ladrilhos”.

As portas ainda são tão antigas quanto a chegada da família no lugar, assim como a sacada que um dia serviu de vista privilegiada para cidade, antes da alvenaria tomar conta da paisagem. “Quando a lua está cheia, é lindo observar daqui”.

Na sala principal a saudade é da lareira, ainda original, que quando acesa aquecia toda família. “E ela ainda funciona perfeitamente”.

Na parte íntima da casa, apenas algumas portas e pinturas foram trocadas. Obra necessária para trazer conforto a família.

Nos fundos, o tanque antigo azulejado volta a denunciar a idade do lugar. Mas a volta pela casa fica curta, já que não há tantos quartos mobiliados e os fundos abrigam apenas objetos empoeirados.

Na despedida, a psicóloga é enfática sobre o sentimento de não poder fazer muito na casa. “Me sinto ilhada. Por que a rua é muito estreita e qualquer coisa que eu transforme a casa, mal daria para os carros passarem”, diz, revelando a hipótese de transformar o lugar em algum espaço cultural no futuro. “Acho importante preservar. Faz parte da história da minha família e é também um pedacinho da história da cidade. Mas agora não tenho muito o que fazer, apenas cuidar”, acrescenta.

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Detalhe das janelas de ferro. (Foto: Kísie Ainoã)
Detalhe das janelas de ferro. (Foto: Kísie Ainoã)
Molduras nas paredes da sala. (Foto: Kísie Ainoã)
Molduras nas paredes da sala. (Foto: Kísie Ainoã)
Apesar do amarelo desbotado, arquitetura se mantém intacta. (Foto: Kísie Ainoã)
Apesar do amarelo desbotado, arquitetura se mantém intacta. (Foto: Kísie Ainoã)
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